O Encontro Aprendi desde pequena que a Natureza me falava. Vi muitos ensinamentos quando meus olhos não eram perturbados pelo cérebro. Observava a cada hora o vento, o sol. Muitos exemplos da Grande Mãe me foram revelados. E vim a ter uma visão anos mais tarde. Aprendi muitas coisas, mas eu continuei a mesma menina, garota e mulher. Eu sabia mais sobre o sistema que envolve a alma, sabia que eu era um olho com dois pés cegos. Meu vazio ansiava por movimento, meus ouvidos ansiavam pela música do silêncio, meus braços ansiavam pela terra. Minha sede era grande. “Quem eu era?” e vinha a cabeça o meu nome, ser que se agachava lá dentro. A decisão de relembrar veio de repente, enquanto observava as pessoas e os turistas fazendo o que eu fazia, que eu não tinha mais medo de ficar sozinha. Na verdade, eu preferia a solidão. Meu coração, que eu passara a respeitar, dizia: volta a ser o que é. Vai e aprende a viver com esta gente. Voltei para viver sozinha, foi um começo inseguro. Era difícil ficar sob os telhados e luzes artificiais. Eu tinha medo dos seres humanos. Temia as minhas reações sociais. Sentia-me sempre constrangida e tinha desprezo pelos que viviam vidas artificiais. Lentamente, as estradas me reclamavam. A batida do relógio parcelava meus dias. Havia algum lugar para onde ir, alguém para ver e com quem emocionar-me, alguma coisa para fazer ou alguma coisa que devia ser feita. Aos poucos as lembranças de minha vida se distanciaram, pela insistente necessidade de sobreviver. Comecei a esquecer de colocar em prática o que sabia, lições de paciência, autoconfiança e naturalidade animal. Comecei a questionar as necessidades práticas da sobrevivência em um mundo ainda mais selvagem do que qualquer outro, onde homens matam pelo simples prazer de matar e destroem a Grande Mãe, onde o ser irracional é o mais racional de todos. Eu passava por um problema terrível, tinha pena de mim mesmo. As dores da volta tinham começado. Era preciso calçar os pés, tornar o corpo respeitável com roupas e tinha prazos e rotinas. Precisava caminhar, precisava levar aos outros os ensinamentos da Grande Mãe. Mas a visão de minha vida começou a crescer, apesar de tudo. Tinha de deixar o silêncio e o mistério, esquecê-lo sabendo que estariam sempre ali, esperando e esperando cada vez mais até encontrar o momento certo. E o momento certo chegou com a ajuda de amigos com a consciência desperta.Eu não estava sem esperanças, eu não estava sem meios, eu podia aprender e ensinar novamente. Resolvi portanto dedicar uma parte do meu tempo com eles, porque meu coração pedia. A idéia me agradou, podia lançar minha voz , estabelecendo um contato com outras pessoas humanas, tendo em minha garganta o dom do coração. E foi naquela sala onde fui apresentada a muitas pessoas, por meio dela fui aprendendo e tentando ensinar o que meu coração pedia e estava guardado. Foi nessa sala que meu coração foi testado, Foi nessa sala, tarde da noite que procurei afastar o cérebro o cansaço, que aprendi a ouvir as vozes de pessoas solitárias e a tragédia de suas vidas. Foi nela que conheci pessoas com a mesma missão e como já disse com as mentes despertas. Eu estava aprendendo o amor dos humanos. As pessoas especiais da sala me ensinaram a ouvir, a pensar, a ser justo, a ser paciente. Embora eu tivesse esquecido muitas vezes a Grande Mãe, na correria e nas exigências da vida da cidade, ela estava sempre comigo. Continuava a falar-me através da chuva, sol, do vento, do mato, do cantar de um pássaro,e isso me renovava. Desafiava-me a pensar como eu poderia ser o instrumento para ajudar. Foi então que comecei a conceber os meios pelos quais eu pudesse compartilhar muitas coisas com outros. Eram poucos que se interessavam ou compreendiam. Mas esses poucos representavam muito. Juntamos-nos finalmente. Aprendi a caminhar entre os dois mundos.
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