NINHO DOS SOLITÁRIOS
Minha alma
v o a
rente teu leito,
no espaço vago do penha
s
c
o
(Arde frio a dor do pouso...)
Eis que teu corpo também pássaro
foge da solidão,
onde minhas asas
amassadas ora afagam!!...
Élsio Américo Soares
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NOS TRIGAIS
“Na vida de um artista a morte talvez não seja a coisa mais díficil”.
Van Gogh
No refúgio das lágrimas
contorcendo na dor impiedosa
arrancada no íntimo,
sentida no ranger do grito
ao encontro melancólico do eco.
Na pele sangrada
Vês o túmulo constituir morada;
E vês que vem ao entardecer da áurea:
Os corvos (em plano sinistro)
E ao fim dos trigais,
(“A miséria não...”)
Suplicava
A última alma.
Élsio Américo Soares
O DESPERTAR DA ALMA
O caminho adormece
No lacrimejo
Que o noturno põe nos meus olhos insônios
Olho a tez do universo
Com seus pêlos brilhantes.
Procuro-te na sombra
Da folha
Adormecida na chuva...
Teu sono
Vaga nas galáxias do infinito,
Observo de longe teu corpo despido,
Sei que teus seios pulsam
E que a pele de seda te desabraça.
Abro as asas das minhas íris – sonolentas
E em arribo alcanço o teto onde aninhas...
Daí abro-te o zipper
Para tua alma fluir...
Simplesmente acorda,
Como quem não dormiu...
Como quem não sonhou...
Élsio Américo Soares
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O MUNDO SOLITÁRIO DE JOÃO WASTERGAT
“Até que ponto um homem pode se isolar da sociedade e criar um mundo só seu?”
Meu mundo mui povoado de fantasmas
Recriou a passagem além do ermo.
E neste breu que tanto vivi, a plaga
Concedeu-me esse destino eterno!
Solitário então emborquei-me na choça
Onde o lôdo crônico verteu-me a vida;
Na irracional porta que me abraça
Hoje minha voz sucinta enlouquecida!
Sabei todos que a eremitez não é dolor
E que há tanto neste mundo trucidado
Eu, sozinho vivi na paz de um sonhador!
Não tenhai-vos culpa dos meus tristes passos
Pois minha solidão sente acompanhada
Dos fantasmas que habitam que habitam nos meus ossos!
Élsio Américo Soares
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O SONO DAS ALMAS
Todos mortalizados pela noite
Camuflam no suícidio dos corpos.
Nenhum espírito desampara as carnes
Sai solitário, senta-se no madrugal e embriaga-se!
Nenhuma alma
Está solta na estrada
Seguindo as setas,
Sem pernas... Sem olhos!
Enlouqueço no meu Karma!
Separo meus lados:
Corpo esquálido
Esquálida alma.
Ele imobilizado
Atenta-se ao fluido da irmã
Solitária
Prestes a adormecer no espaço...
Enlouqueço no meu Karma!
Tomo o corpo nos braços da minha própria alma
E adormeço!
Élsio Américo Soares
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SOLIDÕES
Fito uma estrela
a fazer acrobacias...
Sinto meus cabelos
Acariciarem o teto azul
e minha mão
tão insolente
a ofuscar um belo arco-íris...
Imagino uma brisa a me tocar
com suas canções
e sons do luar...
Perco-me na volúpia virgem
de sonhar...
E sonho:
Com sóis
aquecendo-me as noites tão frias
neste cárcere;
onde adormeço minhas solidões
Solidões de erros...
Solidões de desprezos...
Solidões de presos...
Fito uma estrela
a fazer acrobacias
num canto
sonhado
desta cela...
Élsio Américo Soares
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SOLITÁRIA GOTA
Pense
na sublime gota,
que ao velejar teus olhos
escorre d’alma
impregna a face...
Pense
no passo solitário,
refletindo fosco o brilho
ao tropeço da noite...
Pense
em ti,
que veio de uma gota...
Solitária gota!
Pense
até desfazer-te
na solidão dos esgotos!
Élsio Américo Soares
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SOLUÇÃO DO NADA
Dou-te a boca
Para sugar minha força
Até alimentar tua fraqueza!
Dou-te o gênio
Para segurar a incerteza
Até sentir fiel com tua própria cabeça!
Dou-te a solução do nada...
O esquema vácuo das tuas entranhas
Para saber que o orgasmo
É uma poesia amada
E o poeta é um feto
De todas incertezas geradas!
Dou-te dois frutos esquálidos
E toda arquitetura semi-Deusa
Para que morra
No semblante do teu próprio aborto!...
Élsio Américo Soares
SOMBRAS, SAUDADES E SOLIDÕES
A noite oferece-me
fases ocultas,
transbordadas em fechos
cristalinos,
sombreados de neon...
A noite oferece-me
fases ocultas,
cravejadas em nuas
lágrimas
reverenciando partida...
A noite oferece-me
fases ocultas,
sôfregas de ilusões
...
míseras prisões...
A noite oferece-me
fases ocultas,
de uma sombra saudosa
desenhenhando a solidão
...
morte...
A noite oferece-me
uma morte doce...
Sem sombras
Sem saudades
Sem solidões!...
Élsio Américo Soares
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