OBRA – PRIMA
O polegar fetaliza-se na mãe-palma
Locomove-se...
O indicador mentaliza geometricamente
Os traços paraebólicos
Sensíveis – paralelos...
A mão no serro punho vive pele –
Carne – ossos...
O barro mole sobrado ao oco
Estremece
Cedendo espaço ao sensível que permanece...
Depois a mão vagarosamente reabre
E o artista conclui:
Parece que vive! Parece que vive!
Élsio Américo Soares
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PAI
Imaginarei a carne inseparada do invisível, até que a minha se solva espantada pelos seus próprios escrombos e fanaticamente gritarei em alerta à toda Humanidade para que se contenha do desespero, da insensatez e se mantenha crédula na capacidade digna do PAI.
Élsio Américo Soares
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POETA AFRICANO ENFORCADO
Veste a pele negra da noite
para que seu corpo
Logo ao amanhecer
Dispa da mesma cor...
Oh dor poeta
Negra luz
Que alumia toda raça
Quisera abraçar a forca
Com toda força
E sentir a morte
Com toda morte!
Veste a pele negra da noite
Oh dor poeta
E despe a morte –
Morte
Oh dor
Negra luz
Que alumia toda raça
Veste a pele poeta da noite
Oh dor
Morte de quem despe
As raças
Morte de quem veste
As traças
Oh dor poeta
Veste a pele negra da morte
Veste a pele negra
De um poema
Um poema
Um poema morrido na África!
Veste dor
O poeta
Tão poeta...Tão poeta!
Élsio Américo Soares
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REPOUSO
As pálpebras em remanso...
finas luzes de cristal,
vem à sombra como gansos
repousar no meu quintal!
Élsio Américo Soares
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RÚSTICA NO SER
Música...
Desperta a razão da cabeça nua
Badala adentro
E choacalha com a alma.
Fia esse peito sem jeito
Que nu
No leito esvazia!...
Música...
Dissolva o ser
E devolva a razão crua do coração.
Penetra fundo
Na canção do mundo...
No mundo do exilo...
No exílio do Ser.
Oh!... Música!
Minha alma inda é calma,
Nem no fim se acaba...
Élsio Américo Soares
SOY CUBANO
Na enseada d’onde flores infiéis
volvem quais bombas em duelos,
uma terra suga da morte
o esboço de ser assim o destino.
E aportado aos raios clandestinos
o sol inda desmaia no mar atômico da China;
que ao quedar na orla da estrela,
“La última persona que salga de Cuba,
que apague las luces” no alvorecer do dia.
“Soy Cubano”... “Soy Cubano”...
Élsio Américo Soares
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SUSPIRO
A dor me leva
Como sopro de vento...
Como não houvesse tempo...
Vou só –
E o espaço me entrega
no riso da dor:
o último momento!
Élsio Américo Soares
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TRANSPOSIÇÃO
A vila espera o filho
que atravessa a ponte,
a ponte espera o rio
que atravessava o monte,
o monte espera o monte
que atravessava outro monte;
o filho vai para a vilha,
o rio vai para a ponte
e o monte se perde em tantos
...tantos montes...
Por causa do rio a ponte caiu,
por causa do monte o filho sumiu
m m m
o o o
n n n
t t t
e e e ... cadê a ponte?
Élsio Américo Soares
SONHOS CARICATOS
eu,
que há tempo te observo
cresço – por passar diante de teus olhos
ali
a refletirem o tempo
dos teus míseros náufragos...
agora,
no ápice da minha ilustre solidão,
eu,
junto ao lado dos teus sonhos caricatos
que outrora rabisco,
no vácuo vegetal dos nossos seres;
fico louco...
não sei nem quem sou!
nem junto mais ao lado estou
de todo sonho irreal
de quem sonhou!
eu,
que há tempo te observo:
CRESÇO...
Élsio Américo Soares
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SOY LOCO
Do gargarejo de notas
Vem o ecoar plástico do meu grito.
Sugo a melodia do mel
Que engravida-me o consciente...
Sinto mergulhar na eterna
Embriaguez dos sábios
O bisturi que entorpece-me
No sono dos débeis...
Vejo o girar de imagens
Engaiolar-me no cubo físico
Do terceiro milênio
E espojantes ruas que me abrem ao atropelo.
Rasgo a seda da maçã-mofina
Que cobre minhas convulsões do sangue
E adormeço na sede do álcool etílico,
Sonhando trôpego a canção-verdade:
“Soy loco por ti América...”
“Soy loco”...
Élsio Américo Soares
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SÚPLICAS
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