ECOS
Rasgarei a ferida,
Com os dedos crivados
arrancarei o tumor
que me alastra n’alma;
porei meu corpo ao avesso,
buscarei a essência:
na carne viva,
na cor do plasma...
Desmembrarei-me
à última molécula do átomo,
até encontrar a chaga
que habita no corredor secreto do meu ego...
Despertarei do sono
que entorpece-me a consciência
de um efêmero pesadelo...
Ecoarei no deseespero obsceno
até entrar no coma fantasma
onde a paixão se entrega...
Élsio Américo Soares
CIGANA
Minha sorte:
Viver... viver,
E forte achar a parte
Que abre ao ser:
O caminho morte!
Minha sorte, cigana!
É que ela não engana:
Nem a mim.. .nem a ti...
Que passa a buscar a parte
Na minha sorte...
Na minha vida que também é cigana!
Élsio Américo Soares
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ABSTINÊNCIA
Acenarei o olhar já incrédulo
Em um tão voluptuoso corpo,
Que deflagrado entre arestas
Chacina a essência
E galga fúteis emoções
Ao querer o paladar felino
Do meu mais mordaz ciúme;
Ora teu próprio assombro
Justificando tão envolvente o afeto
Dizendo-me:
- Sou de ti, mas não o pertenço!
DESGRAÇADO DESTINO!
(o alarido ressuscitado do remorso
Ainda jaz inocente!...)
E ao querer o passado
Volve ao contato mais íntimo
Se perdendo entre as dumas,
D’onde desérticas flores brotam
Da explosão do meu mais simples aceno...
Eu, poeta, sugo a abstinência poética
Que outrora martiriza-me
Na essência do viver...
Para nunca a alguém jamais morrer!!!
Élsio Américo Soares
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A PONTE SOBRE O RIO
Fui o aço das amarras
Cravejado sobre o deslize
de um espelho ávido...
Co’o vão perdido
dividiram-me o corpo flácido,
determinaram-me
com uma bomba
explosiva
que sacolejou minhas mais fortes emoções;
primordialmente a de existir...
E detonaram-me
Não no campo do etéreo
Nem do sutil
Sim, no campo do eterno
Fui a ponte sobre o rio...
Eterno
E Doce-Rio!!...
Élsio Américo Soares
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AMPULHETA
Na criação magnífica dos sólidos
A víscera reta atrofia
E aspira conjuntos obtidos
Na pedra fóssil
(Cristalina)
E nos fluidos mórbidos
Há a seqüência d’outro mundo,
Onde explícitos aos corpos cilíndricos
Uma alma desgarra-se
Refletinod o silêncio do espaço
Na síndrome...
Na síndrome que o tempo silencia!
Élsio Américo Soares
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ANTI – CONCEPÇÃO
Tente poetizar teu crime
de ter me beijado a boca
ter sido tão amiga da minha alma
e me ter feito pecar todo o corpo...
Tente conscientizar o passado,
que me verá nu
feito ainda menino
aprendendo de ti
o que para mim é futuro...
Tente ser,
que será uma poesia criminosa
(uma assassina tão misteriosa),
e fará de mim um réu condenado...
Tente primeiro poetizar teu crime,
ao seduzir-me no pecado mortal dos poetas...
Tente
daqui a cem mil anos
ou nesse instante,
ser minha fantasia eterna,
ser a virgem minha amada
ou ser: poesia do nada!
Élsio Américo Soares
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