>>>>A Revolta dos Dândis
1- A Revolta
dos Dândis
Entre um rosto e um retrato,
o real e o abstrato
Entre a loucura e a lucidez, entre o uniforme e a nudez
Entre o fim do mundo e o fim do mês
Entre a verdade e o rock inglês
Entre os outros e vocês
Eu me sinto um estrangeiro
Passageiro de algum trem
Que não passa por aqui
Que não passa de ilusão
Entre mortos e feridos, entre
gritos e gemidos
(A mentira e a verdade, a solidão e a cidade)
Entre um copo e outro da mesma bebida
Entre tantos corpos com a mesma ferida
Eu me sinto um estrangeiro
Passageiro de algum trem
Que não passa por aqui
Que não passa de ilusão
Entre americanos e soviéticos,
gregos e troianos
Entra ano e sai ano, sempre os mesmos planos
Entre a minha boca e atua, há tanto tempo, há tantos planos
Mas eu nunca sei pra onde vamos
Eu me sinto um estrangeiro
Passageiro de algum trem
Que não passa por aqui
Que não passa de ilusão
Hey mãe!
Eu tenho uma guitarra elétrica
Durante muito tempo isso foi tudo
Que eu queria ter
Mas, hey mãe!
Alguma coisa ficou pra trás
Antigamente eu sabia exatamente o que fazer
Hey mãe!
Tenho uns amigos tocando comigo
Eles são legais, além do mais
Não querem nem saber
Mas agora, lá fora
Todo mundo é uma ilha
A milhas e milhas e milhas
De qualquer lugar
Nessa terra de gigantes
(Eu sei, já ouvimos tudo isso antes)
A juventude é uma banda
Numa propaganda de refrigerantes
As revistas
As revoltas
As conquistas da juventude
São heranças
São motivos
Pr'as mudanças de atitude
Os discos
As Danças
Os riscos da juventude
A cara limpa
A roupa suja
Esperando que o tempo mude
Nessa terra de gigantes
(Tudo isso já foi dito antes)
A juventude é uma banda
Numa propaganda de refrigerantes
Hey mãe!
Já não esquento a cabeça
Durante muito tempo isso foi
Só o que eu podia fazer
Mas, hey mãe!
Por mais que a gente cresça
Há sempre coisas que a gente
Não pode entender
Hey mãe!
Só me acorda quando o sol tiver se posto
Eu não quero ver meu rosto antes de anoitecer
Pois agora, lá fora,
O mundo todo é uma ilha
A milhas e milhas e milhas...
Nessa terra de gigantes
Que trocam vidas por diamantes
A juventude é uma banda
Numa propaganda de refrigerantes
Você me faz correr demais
Os riscos desta highway
Você me faz correr atrás
Do horizonte dessa highway
Ninguém por perto, silêncio no deserto,
Deserta highway
Estamos sós e nenhum de nós
Sabe exatamente onde vai parar
Mas não precisamos saber
pra onde vamos
Nós só precisamos ir
Não queremos ter o que não temos
Nós só queremos viver
Sem motivos nem objetivos
Estamos vivos e é tudo
É sobretudo a lei
Da infinita highway
Quando eu vivia e morria na cidade
Eu não tinha nada, nada a temer
Mas eu tinha medo, medo desta estrada
Olhe só! veja você!
Quando eu viva e morria na cidade
Eu tinha de tudo, tudo ao meu redor
Mas tudo que eu sentia era que algo me faltava
E, à noite eu acordava banhado em suor
Não queremos lembrar o
que esquecemos
Nós só queremos viver
Não queremos aprender o que sabes
Não queremos nem saber
Sem motivos nem objetivos
Estamos vivos e é só
Só obedecemos a lei
Da infinita highway
Escute garota, o vento canta
uma canção
Dessas que a gente nunca canta sem razão
Me diga garota: "será a estrada uma prisão?"
Eu acho que sim, você finge que não
Mas nem por isso ficaremos parados
Com a cabeça nas nuvens e os pés no chão
Tudo bem, garota, não adianta mesmo ser livre
Se tanta gente vive sem ter como comer
Estamos sós e nenhum de
nós
Sabe onde quer chegar
Estamos vivos sem motivos
Que motivos temos para estar(?)
Atrás de palavras escondidas
Nas entrelinhas do horizonte
Desta highway(?)
Silenciosa highway
"Eu vejo o horizonte trêmulo
Tenho os olhos humidos"
"Eu posso estar completamente enganado
Posso estar correndo pro lado errado"
Mas "A dúvida é o preço da pureza"
E é inútil ter certeza
"Eu vejo as placas dizendo
"Não Corra"
"Não Morra"
"Não Fume"
"Eu vejo as placas cortando o horizonte
Elas parecem facas de dois gumes"
Minha vida é tão
confusa quanto a América Central
Por isso não me acuse de ser irracional
Escute garota, façamos um trato:
"Você desliga o telefone se eu ficar muito abstrato
Eu posso ser um Beatle
Um beatnik, ou um bitolado
Mas eu não sou ator
Eu não "tô à toa do teu lado"
Por isso garotas façamos um pacto:
"De não usar a highway pra causar impacto"
Cento e dez
Cento e vinte
Cento e sessenta
Só pra ver até quando
O motor agüenta
Na boca, em vez de um beijo,
Um chiclet de menta
E a sombra de um sorriso que eu deixei
Numa das curvas da highway
Eu que falei: "nem pensar..."
Agora me arrependo, roendo as unhas
Frágeis testemunhas
De um crime sem perdão
Mas eu falei sem pensar
Coração na mão como refrão de bolero
Eu fui sincero
Como não se pode ser
Um erro assim tão vulgar
Nos persegue a noite inteira
E, quando acaba a bebedeira,
Ele consegue nos achar
Num bar,
Com um vinho barato
Um cigarro no cinzeiro
E uma cara embriagada no espelho do banheiro
Ana, Teus lábios são
labirintos, Ana
Que atraem os meus instintos mais sacanas
Teu olhar sempre distante sempre me engana
Eu que falei: "nem pensar..."
Agora me arrependo, roendo as unhas
Frágeis testemunhas
De um crime sem perdão
Mas eu falei sem pensar
Coração na mão como refrão de bolero
Eu fui sincero
Como não se pode ser
Um erro assim tão vulgar
Nos persegue a noite inteira
E, quando acaba a bebedeira,
Ele consegue nos achar
Num bar...
Ana, teus lábios são
labirintos, Ana
Eu sigo a tua pista todo dia da semana
Eu entro sempre na tua dança de cigana
5- Filmes de
Guerra, Canções de Amor
Os dias parecem séculos
Quando a gente anda em círculos
Seguindo ideais ridículos
De querer, lutar & poder
As roupas na lavanderia...
O analista passeando na Europa...
As encomendas na Bolívia...
E nas fotos um sorriso idiota
Os dias parecem séculos
E se parecem uns com os outros
Como enfermeira nos filmes de guerra
E violinos nas canções de amor
A seguir senas obcenas
Do próximo capítulo
É só virar a página
E o futuro virá...
Filmes de guerra, canções
de amor
Manchetes de jornal, ou seja lá o que for
Há sempre uma estória infeliz
Esperando uma atriz e um ator
Há vida na terra, há
rumores no ar
Dizendo que tudo vai acabar
(Mais uma estória infeliz
esperando um ator e uma atriz)
Não tenho medo de perder
a guerra
Pois no fim da guerra todos perdem
No fim das contas as Nações Unidas
"Tão sempre prontas pra desunião"
Não tenho medo de perder
você
Desde o início eu sabia
era só questão de dias
Um dia iria acontecer
Preciso beber qualquer coisa
Não me lembre que eu não bebo
O que só nós dois sabemos
Nós sabemos que é segredo
Há um guarda em cada esquina
Esperando um sinal
Pra transformar um banho de piscina
Numa batalha naval
Agora sinto um medo infantil
mas na hora certa afundaremos o navio
Então dê um copo de aguardente
Para um corpo sentindo frio
Preciso beber qualquer coisa
Você sabe que eu preciso
E o que só nós dois sabemos
Já não é mais segredo
Se alguém, seja lá
quem for
Tiver que morrer, na querra ou no amor,
Não me peça pra entender
Não me peça pra esquecer
Não me peça para
entender
Não me peça pra escolher
Entre o fio ciumento e a navalha
E o frio de um campo de batalha
Chegamos ao fim do dia
Chegamos quem diria!
Ninguém é bastante lúcido
Pra andar tão rápido
Chegamos ao fim do século
Voltamos enfim ao início
Quando se anda em círculos
Nunca se é bastante rápido
Já não vejo diferença
entre os dedos e os anéis
Já não vejo diferença entre a crença e os fiéis
Tudo é igual quando se pensa em como tudo poderia ser
Há tão pouca diferença e tanta coisa a fazer
Esquerda & direita, direitos
& deveres, os 3 patetas, os 3 poderes
Ascensão & queda, são dois lados da mesma moeda
Tudo é igual quando se pensa em como tudo deveria ser
Há tão pouca diferença e tanta coisa a fazer
Nossos sonhos são os mesmos
há muito tempo
Mas não há mais muito tempo pra sonhar
Pensei que houvesse um muro entre
o lado claro e o lado escuro
Pensei que houvesse diferenças entre gritos e sussuros
Mas foi um engano, foi tudo em vão
Já não há mais diferença entre a raiva e a razão
Esquerda & direita, direitos
& deveres, os 3 porquinhos, os 3 poderes
Ascensão & queda, são dois lados da mesma moeda
Tudo é igual quando se pensa em como tudo deveria ser
Há tão pouca diferença e tanta coisa a fazer
Nossos sonhos são os mesmos
há muito tempo
Mas não há mais muito tempo pra sonhar
No ar da nossa aldeia
Há rádio, cinema e televisão
Mas o sangue só corre nas veias
Por pura falta de opção
As aranhas não tecem suas
teias
Por loucura ou por paixão
Se o sangue ainda corre nas voias
É por pura falta de opção
Você sabe,
O que eu quero dizer não tá escrito nos outdoors
Por mais que a gente grite
O silêncio é sempre maior
No céu, além de
nuvens
Há sexo, drogas e palavrões
As coisas mudam de nome
Mas continuam sendo religiões
No dia-à-dia da nossa
aldeia
Há infelizes enfartados de informação
As coisas mudam de nome
Mas continuam sendo o que sempre serão
Você sabe,
O que eu quero dizer não tá escrito nos outdoors
Por mais que a gente grite
O silêncio é sempre maior
No ar da nossa aldeia
Há mais do que poluição
Há poucos que já foram
E muitos que nunca serão
As aranhas não tecem suas
teias
Por loucura ou por paixão
Se o sangue ainda corre nas veias
É por pura falta de opção
Se você ouvisse
As vozes que ouço à noite
Acharia tudo que eu faço
Natural
Se você ouvisse
As vozes que ouço à noite
Acharia tudo que eu faço
Natural
Se você sentisse o
Medo que eu sinto no escuro
Se você soubesse o mal que o sol me faz
Não me pediria pra repetir
Revoltas banais
Das quais eu já me esqueci
Se você ouvisse
As vozes que ouço à noite
Às vezes me assustam
Outras vezes me atraem
Se você ouvisse
As vozes que ouço à noite
Às vezes me assustam
Outras vezes me atraem
Se você sofresse
Tanto quanto eu sofro com a solidão
Se você soubesse
O Quanto eu preciso da solidão
Não me pediria pra repetir
Frases banais
Das quais já me arrependi
Duas pessoas são verdades
E, na verdade,
São dois mundos
A cada segundo, o pânico aumenta
E uma sombra arrebenta
A porta dos fundos
Se você sofresse
Tanto quanto eu sofro com a solidão
E precisasse
Tanto quanto eu preciso da solidão
Não me pediria pra repetir
Gestos banais
Iguais aos que eu não fiz
9- Quem Tem Pressa
Não Se Interessa
Quando você me olha
Com o seu olhar tranqüilo
Sempre diz que falta algo
Ou isto ou aquilo
Você não entende
E se surpreende
Seu olhar já não está tranqüilo
Mas quem tem pressa
Não se interessa
Por questões de estilo
(Questões de estilo)
As vozes oficiais dizem:
"Quem sabe..."
Dizem: "talvez..."
Enquanto os vídeos e as revistas
Mostram imagens sem nitidez
Você se espanta
"Há tanta coisa nos jornais!"
Mas quem tem pressa
Não se interessa
Em andar rápido demais
(Rápido demais)
Eles tem razão
Mas a razão é só o que eles tem
A lâmina ilumina a mão
A lâmpada cria a escuridão
Ninguém se engana com uma canção
O tempo que nos gera também gera gerenciais
O tempo nunca espera que cheguem os comerciais
(Os comerciais)
Nas veias abertas
Da América, menina
Um mar vermelho de sangue
Leva navios piratas,
Negociatas, concordatas,
Candidatos democratas,
Sucos e sucatas
Termos e gravatas
Secando cataratas e lavando as mãos
Dando a impressão de que
Na areia movediça nada se desperdiça
Desd'aquele dia
nada me sacia
Minha vida tá vazia
Desd'aquele dia
Parece que foi ontem
Parece que chovia
Um rosto apareceu
(Uma heroína)
O rosto era o seu
(Seu rosto de menina)
Parece que foi ontem
Parece que chovia
Desd'aquele
Minhas noites são iguais
Se eu não vou à luta
Eu não tenho paz
Se eu não faço guerra
Eu não tenho mais paz
Não agüento mais
Um dia mais, um dia a menos
São fatais
Pra quem tem sonhos tão pequenos
Sonhos tão pequenos
Que nunca têm fim
Eu só queria saber
O que você foi fazer no meu caminho
Eu não consigo entender
Eu não consigo mais viver sozinho
Antes de atirar o vaso na TV
Eu ouvi o que ela dizia:
"Quando não houver mais amanhã
Será um belo dia"
Estranha coisa pra se dizer
Antes de dizer os números da loteria
Mas é assim que eles fazem
E fazem muito bem
E nós não fazemos nada, nada, nada
Nada além
Além do mito
Que limita o infinito
E da cegueira
Dos guardas da fronteira
Antes de atirar minha TV pela
janela
Eu ouvi o que ela dizia
"Quando não houver mais ninguém
Será um belo dia"
Estranha coisa pra se dizer
Antes de vender mais mercadoria
Mas é assim o mundo que nos cerca:
Nos cerca muito bem
E as crises e cicatrizes
Não nos deixam ir além
Além do mito
Que limita o infinito
Além da cegueira
Das barreiras, das fronteiras
...Foi então que eu resolvi
jogar
As cartas na mesa e o vaso pela janela
Só pra ver o que acontece na vida
Quando alguém faz o que quer com ela...
Acontece que eu não tenho escolha
Por isso mesmo é que eu sou livre
Não sou eu o mentiroso,
Foi Sartre quem escreveu o livro
Não sou a fim da violência
Mas paciência tem limite
Além do mito
Que limita o infinito
Além do dia-a-dia
Que esvazia a fantasia