A Escola é uma instituição de propaganda de integração, claramente; ainda que os seus agentes o não consciencializem ou coloquem reservas, toda a sua acção visa formar comportamentos e atitudes de defesa do instituído, sobretudo ao nível das estruturas do poder. Tal só não acontecerá nos casos em que, conhecendo bem o que de si é esperado, alguns assumem e conduzem acções visando resultados contrários aos propostos. Da mesma forma que o Direito foi criado e existe para proteger os que são donos daqueles que nada tem (sobretudo através das leis, forma de revelação mais marcante, e das instituições que o servem, como as polícias e os Tribunais, desde logo pela detenção, julgamento e condenação daqueles que se apropriam de bens pertencentes a outros), e a estrutura económica é o principal instrumento para perpetuar as desigualdades sócio-económicas (serve de exemplo o facto das instituições financeiras só emprestarem dinheiro a quem já o tem e tanto mais barato quanto mais têm, pois as melhores taxas de juro só são oferecidas a quem não precisa), também a Escola serve, entre outras (muitas) coisas, para inculcar em todos os cidadãos (ensino obrigatório, pois claro), e de forma bem marcante, a necessidade de preservar a estrutura social, económica e política. Ora, até há bem pouco tempo, este trabalho de propagandear a integração era relativamente fácil: o país, interessado primeiro, era bem conhecido (e querido) de todos nós, que agimos na Escola. Podemos questionar se há, ou não, uma identidade portuguesa, hoje, na Europa e no Mundo. Mas, se nos situarmos aqui, no interior do país, a questão não é relevante. A carga histórica e cultural é indisfarçável, e quer nos estribemos nos Descobrimentos e em D. Henrique, quer apontemos para Camões ou Fernando Pessoa, é fácil unirmos forças em torno do Portugal actual, da Democracia, da Liberdade e da Paz. Complicado começa a ser assumir a instituição como instrumento de propaganda da integração europeia. Portugal, é inquestionável, está na União Europeia. Não participa, não faz parte - é a U. E.! Fez essa opção há pouco tempo (se considerarmos a sua existência, a caminhar para o primeiro milénio), mas rapidamente decidiu que o seu futuro estaria indissoluvelmente ligado aos restantes países do continente, mesmo àqueles com quem tivemos as mais profundas desavenças. Foi Portugal que tomou essa decisão? Bom, se os actuais governantes foram eleitos pelo povo e o representam, parece ser notório que a decisão é, claramente, nacional. Pelo menos, da mesma forma que um novo imposto, criado pela Assembleia de República, através dos deputados eleitos pelo povo, é um imposto criado e querido pelo povo! Porque este processo de legitimação não é satisfatório e a pergunta directa à população se torna perigosa (um referendo em que a maioria não participasse ou viesse a colocar em causa qualquer aspecto relacionado com a U.E. seria, no mínimo, catastrófico), os legítimos representantes do povo decidiram introduzir, de forma lenta e faseada, mecanismos de apoio a essa nova propaganda. Mas a timidez deste processo está a gerar uma resposta de indiferença generalizada que deveria ser preocupante. A introdução das temáticas nos currículos, em vez de se intensificar, vai-se reduzindo (é ver o que acontece em IDES e Introdução à Economia, no secundário), os meios lúdico/culturais estão em fase de retrocesso (caso claro do Jogo do Hemiciclo, que passou a simular o parlamento nacional em vez do europeu e cada vez com menos aderentes) e as acções urgentes de preparação para o imediato são inexistentes (que fazem as Escolas quanto à entrada em vigor do Euro, daqui a menos de um ano? Rigorosamente nada!). Por último, a Identidade Europeia, existe ou é uma ficção? É que, da resposta a esta questão, resulta muito da propaganda que vamos fazer (quando?). Há, claramente, países mais europeus que outros, dentro e fora da U.E.. A Alemanha está muito mais empenhada na construção europeia que Portugal ou a Grã-Bretanha. E existe similitude entre os que estão na União, que permita afirmar identidade comum? Agora, é preciso encontrar o que nos distingue dos americanos do norte, pesquisa que se nos afigura nada difícil, da África e dos asiáticos, com o Japão, a China e Tigres do Oriente, se calhar ainda mais facilitada, e dos americanos do centro e sul, bem mais próximos da nossa forma de ser e estar, até pelos laços que nos ligam. Quando alguém chega ao aeroporto de Lisboa, Orly ou Londres, vindo de outro continente, nota que chegou a um local diferente? Se rumar a cidades mais pequenas e contactar com as populações, conclui que se sentem europeus, como já se vai notando nas grandes metrópoles? Ou não haverá muito que nos individualize, comungando-nos? Da resposta a solução. Uma dado mais: Na Europa (da União), a paz é um dado adquirido. A guerra é impensável. Sentimento perigoso, sempre, mas real, Podem os outros dizer o mesmo? Com o mesmo rigor? Parece que não ... .

José Maria Silva, Professor da Escola Secundária do Cerco, Maio 2001

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