Novamente os Mestres - sim ou não?  

Tanto na família como na escola, o sujeito não escolhe o grupo, que é “um lugar de passagem”, temporário. Por outro lado, a diligência e o investimento da escola não são menores que os da família, já que proporcionam:

-  uma identidade nova;

-  uma via de acesso e de integração;

-  parceiros necessários ao conhecimento.

Neste particular, a comunicação é simultaneamente causa e efeito, pelo que a interacção é feita de “relações múltiplas”: há um fluxo, uma série de trocas, um encadeamento de informação em que uma sequência não deve ser desconectada para dela se fazer um “contexto de poder”, mesmo que seja em face dum conselheiro educacional.

O face a face, que urde a teia do relacionamento, transporta uma carga dramática dissimulada, determinante essencial da cena pedagógica. Há uma singularidade e uma complexidade atravessadas por interferências de estatuto e papel (tanto do aluno como do professor) e de variáveis parasitas, pelo que é de prever tensão, conflitualidade (Moll, in Houssaye, 1996). A “insatisfação do desejo”, porque deixa rasto e marca, sugere “qualquer coisa de fundamentalmente estruturante”, jogando “um papel essencial no processo cognitivo” (Douet, in Houssaye, 1996).

O consumo é hoje um dos “operadores de aprendizagens”. Muito se aprende, por aí, mas muito se deita fora, “báscula no mundo do mercado”, de tal forma que a expectativa e o diferimento, que a extensão e a monotonia comportam, se tornam para muitos uma mistificação. Numa sociedade consumista, quem vende fala, quem fala vende (Pain, in Houssaye, 1996).

Toda a gente tem uma palavra a dizer, mas nem tudo o que se diz está no campo da pedagogia.

Entre ensinar as mesmas coisas a todos ou estabelecer muito pouco em comum, sobre seja o que for, é essencial que se saia da Escola apto a comunicar com os outros, também, por escrito. A questão é, pois, saber como contribuir, através da Escola, para estabelecer ou melhorar vínculos, por entre grupos de pressão e por entre fracturas sociais que fazem parte integrante do mundo em que nos é dado viver.

A escola dos professores escolariza a formação profissional e, dessa forma, tende a protelá-la.

A escola dos profissionais antecipa a selecção e alivia os alunos de aprendizagens formais consideradas secundárias para o desempenho de curto prazo.

Há uma incapacidade,  em eleger uma cultura escolar, e uma escolaridade para todos, em que seja possível harmonizar, pelo menos, os saberes funcionais, que instrumentam a pessoa para a vida, e os saberes culturais, que permitem o posicionamento perante uma história e a aceitação de um imaginário.

 

Carlos Sambade, Professor da Escola Secundária do Cerco, Maio de 2001

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