(DES)CONSTRUÇÃO
OU (RE)CONSTRUÇÃO? |
“Deve
lembrar-se que o ensino é uma profissão do humano, uma profissão complexa,
paradoxal, impossível.”
Libelo, s.m. (do
latim libellu-). Acção pela qual uma coisa se notifica judicialmente./Escrito
ou artigo pouco extenso, injurioso ou difamatório./Acusação./Ant. Livrinho,
opúsculo./Nome que se deu no séc. III a uma espécie de certificado, concedido
pelos magistrados pagãos, que punha o possuidor a coberto de qualquer perseguição.
José Pedro Machado, Grande Dicionário da Língua Portuguesa, vol. VI, ed. Ediclube, Lisboa, 1989
Libelo, s.m. –
exposição escrita e articulada daquilo que o autor intenta provar contra o réu;
o que envolve acusação de alguém (do Lat. Libellu, “Livrinho, panfleto;
libelo”).
Dicionário da Língua Portuguesa, 7ª
ed. Porto Editora.
Penenoud refere
que ensinar é pretender que o saber docente seja superior ao dos alunos e ao
das famílias, praticar a justiça, exercer um poder e restituir uma lei;
sancionar certas condutas, trabalhar com pessoas complexas e agir com (sobre)
elas, mesmo sem ter a certeza da justeza do procedimento. É olhar-se nos próprios
limites e incertezas, expor-se diariamente ao olhar dos alunos e, através
deles, aos dos familiares. É ser desestabilizado por acontecimentos imprevisíveis
e sentir-se desnudado perante os alunos companheiros de jornada. É implicar-se,
por vezes, em situações intersubjectivas de alto risco, ser julgado pelos
colegas, pelas famílias, pelos alunos, pela tutela, frequentemente sem indulgência
e sobre bases fragmentárias e desajustadas às novas realidades educativas.
Ensinar é, enfim, carregar o peso dos dilemas: construir, educar; socializar,
julgar, classificar, errar.
Conforme Popper,
uma teoria vale até ao momento em que se contradita. Lá em casa, espera-se que
a água ferva a 100º. Que solução? CONTRADIÇÃO aparece aí como
acontecimento imprevisível que, admita-se, procurará ser “espaço de inovação
e de mudança” ou, como consta, lugar de intervenção nos domínios mais
caros ao colégio docente da E. S. do Cerco. Esta página, seguramente, poderá
ser via, talvez estreita – isso será muito bom – para outra escola, capaz
de proporcionar o gosto de ser
aluno e de ser professor, mediante um processo empático mais valioso.
Como convém,
inteirar-se da tríplice dimensão do discurso (sintaxe, semântica e pragmática)
é tarefa elementar a quem pretende comunicar. É, aliás, condição necessária
para a clarificação e eficiência do processo comunicativo. Deste ponto de
vista, trata-se de matéria relevante para a conduta e decisões na esfera
individual ou social, que a Escola, enquistada em maus hábitos, insiste em
descurar.
Ora, este
“produto editorial”, benigno, mistura Tradição e Contradição, “panfletário
na génese” padece de iniludíveis equívocos. Desde logo, a ausência do
conceito de dialéctica – imperdoável – já que a CONTRADIÇÃO só é
entendível no interior do DIÁLOGO entre contrários. Pela amostra, não se
descobre nenhum separar de águas. Não se visita nenhum sentido novo. Por outro
lado, chamar “libelo de Temáticas Educativas” a textos de sabor puramente
empírico (leia-se “banalidades”) será, no máximo, incoerente e, no mínimo,
abusivo. Além disso, pretende-se “uma forma simples de manter uma produção
cultural relevante, que tem raízes na instituição.” E agora, que instituição?
Que modelo, que autonomia? Mais: esta “actividade editorial” dificilmente
conjugará provocação e simplicidade, panfleto e candura de argumentos,
CONTRADIÇÃO sem utopia. Pelo mais, é recorrente a falácia da generalização,
nomeadamente quando se infere a partir da experiência pessoal.
Aplaudindo a
iniciativa, a “mestria” desta CONTRADIÇÃO melhor se designaria intervenção,
reflexão, provocação, debate ... . Mas, libelo! ... ?! Se Eça estivesse por
aí ou Camilo soubesse, desancariam, com verbo inclemente, esta coerente e sã
CONTRADIÇÃO. Mas, por cá – diria Sócrates, quem estiver inocente que
arremesse a primeira pedra.
Como refere
Sambade, “o caminho é íngreme” e se, neste projecto, somos “iniciados”
(o que se inicia aprende a libertar-se do que lhe é adverso), no sentido pedagógico
do termo, haveremos de concluir que esta CONTRADIÇÃO faz sentido, se nela
ecoar a mudança, entendida no seu sentido mais radical.
Julgando por
adequado o objectivo - a mudança estriba-se, em muito, na CONTRADIÇÃO que é
esta FOLHA, ao jeito de João Penha - sugere-se que nela a educação seja
pormaior, com a maior objectividade, no contexto vivencial que somos.
O que se espera:
que a tarefa – ora proposta, sem máscara – seja capaz de “disparar”
sobre o alvo certo. CONTRADIÇÃO, longe da freima da corte dos teóricos de
pedagogias, servirá para aprofundar entre a lógica burocrática da lógica da
responsabilidade profissional. É manifesto que, se aquela
se alicerça numa estratégia de estandardização, esta resulta do
compromisso da participação.
Afinal, o que é
e para que servirá um libelo deste estilo?
Venha daí a réplica!
... certos de que, nesta encruzilhada de sentidos tudo se joga, CONTRADIÇÃO
valerá a pena para reflectir na vida de professor ... .