Aos Alunos
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Há
tanto tempo
Que
não falo convosco,
E
todavia passo a vida
A
fazê-lo.
Não
vos digo o que gostaríeis
De
ouvir
Mas
não deixo por isso
De
sentir-vos e de ver-vos,
De
estar presente
Mesmo
quando ausente,
E
de sofrer por vós
O
amanhã.
Sangram-me
os lábios
Se
da boca me saem
Ríspidas
tiradas,
Choram
meus olhos,
Secos
de lágrimas
Vertidas,
E
o peito estala-me
Ferido,
Se
tenho de manter-vos
Em
sentido,
Alteando
a voz desnecessariamente.
E
acreditem que fico doente
Por
não poder sorrir como queria ...
Mas
o tempo não dá tempo
Ao
tempo
E
vossa amiga sincera
Eu
não seria
Se
deixasse correr as nossas aulas
Ao sabor da vossa fantasia.
Só
queria a vossa energia
Beber
da vossa alegria
Ter
também a vossa idade,
Como
é linda a mocidade
Se
é verdade o que dizemos
E
nesse espelho nos vemos,
Lavados,
sem pó de arroz,
Sem
máscaras que denigram
A
beleza do que temos
Do
que somos e trazemos
Nas
mãos, na razão, no seio.
Estar
aqui no nosso meio
É
reviver e torcer
Pelos
dias que hão-de vir,
E
pedir-vos que amanhã
Continueis
a sentir
O
pulsar dos corações
E
a viver emoções
Que
vos mantenham a rir.
E
se chorardes um dia
Que
seja com alegria,
Que
ser capaz de chorar
É
ser capaz de pensar,
De
sonhar, de reflectir,
De
crescer e de sofrer,
De
recuar e temer,
Quando
os sinos tocam
A
rebate
O
povo acorre e grita
Em
sobressalto
E
Deus espia lá do alto
Num
controlo remoto de rebanho
Que
agoniza e sofre,
Acreditando
que o paraíso
Os
espera no além,
E
que aqui só estamos de passagem
Partilhando
a pastagem colectiva.
Mas
tu és diva
Do
teu mundo
E
única, contemplas
Os
corpos que se movem
E
agitam,
E
impávida, escutas os ais
Destes
mortais
Que
se iludem numa crença
Que
sustenta
As
suas mágoas diárias
Que
compensa
O
pão que não comeram,
Os
beijos que não deram,
As
flores que não abriram
No
jardim do seu imaginário
Ris,
sarcástica,
Das
penas por que já passaste
Do
tempo em que também acreditaste,
Das
noites que dormiste a sono solto,
Porque
cada dia te trazia a esperança.
Congelaste
as lágrimas
Mas
não me enganaste
E
o cloreto de sódio
Em
cada canto dos teus olhos
Denuncia-te,
O
mundo dos homens
Ainda
te perturba
E
a dor dos inocentes
Angustia-te.