Travejamentos para o século XXI - 2, de 4 |
Novamente
os Mestres - sim ou não?
O exercício da pedagogia
desenrola-se como “tecnologia”, privilegiando nas actividades a “autonomia
concretizante” e a “directividade concretizante” (Legrand, in Houssaye,
1996), isto é, o aluno realiza o seu trabalho, não apenas na presença
de outro, mas com outro. Nessa medida, surge a tendência para a avaliação/validação
de “opiniões e atitudes pessoais” em comparação com atitudes e opiniões
de outros. Ora, se por um lado há que encurtar distâncias para que a formação
tenha lugar, por outro, a comparação é tanto menos provável quanto maiores
forem as diferenças entre um indivíduo e outro. A “ruptura da comparação”,
todavia, longe de, por si só, irmanar, pode fazer-se acompanhar por uma
“vontade de humilhação”. Assim, há que assimilar o “assemelhável”,
procurar similitudes a partir de estatutos socio-profissionais e cognitivos díspares.
Em geral, a comparação é ascendente (olhando “para cima”, o indivíduo
auto-avalia-se) e descendente (olhando “para baixo” abre-se caminho à
auto-valorização). Frequentemente, porém, a comparação ascendente
reporta-se a outros “semelhantes a si”, enquanto a comparação descendente
coloca sempre o outro em posição desfavorável, ou seja, “a estratégia da
comparação ascendente” é “principalmente utilizada em situações em que
domina uma norma competitiva” e é tanto “mais sistemática quanto os
resultados do sujeito são inferiores aos do alvo”, o que pode desencadear um
reforço de “empenhamento”, se não forem deixados ao acaso os ingredientes
perversos de certo modo inerentes a todo o processo de comparação. É
exactamente o anonimato que melhor interage com a individuação, já que é aí
que a ausência de êxito se torna mais mobilizável para a mudança.
A actividade de cooperação
implica que não se atinja o objectivo se o outro não o atingir, pois o
objectivo é o mesmo, ainda que variem os modos de o alcançar. Se houver
distribuição de tarefas “estritamente definidas à partida e diferentes para
cada um, a cooperação perde a sua eficácia”. Os meios de expressão
cooperativos ganham plena dimensão se se oferece “um espaço de diferenciação
e de confrontações interindividuais”, onde surgem eventuais pontos de vista
opostos, engendrados numa visão “minimal” do trabalho e susceptíveis de
facilitar as “construções cognitivas”, em complemento duma “interdependência
funcional” ela própria organizada cognitivamente. Por outras palavras, o espaço
em que decorre o trabalho apresenta as características de um espaço social (Monteil,
in Houssaye, 1996).