História
do CNE

O Corpo
Nacional de Escutas - Escutismo Católico Português - nasceu em Braga
a 27 de Maio de 1923. Foram seus fundadores o Arcebispo D. Manuel
Vieira de Matos e Dr. Avelino Gonçalves, que em Roma mantiveram os
primeiros contactos com o Movimento, quando ali assistiram, em 1922, a
um desfile de 20.000 Escutas, por ocasião do Congresso Eucarístico
Internacional que esse ano se realizou na Cidade Eterna.
Depois
de bem documentados regressaram a Braga e rodearam-se de um grupo de
11 bracarenses corajosos e valentes que, a 24 de Maio de 1923, faziam
a sua primeira reunião, no prédio n.° 20 da Praça do Município,
para estudarem a possibilidade e oportunidade da criação de um grupo
de Scouts Católicos em Portugal: Assim nasceu o Corpo de Scouts Católicos
Portugueses, cujos estatutos foram aprovados a 27 de Maio desse mesmo
ano pelo governador civil de Braga, e confirmados em 26 de Novembro
pela portaria n.° 3824 do Ministério do Interior e Direcção Geral
de Segurança, começando a partir desse dia a existir oficialmente,
com legalidade e personalidade jurídica.
A 26 de
Maio de 1924 é publicado o Decreto-lei n.° 9729, que confirma a
aprovação dos estatutos e alarga a todo o território Português o
âmbito da Associação. Em Janeiro de 1925, reuniu em Braga, pela
primeira vez a Junta Nacional com: D. Manuel Vieira de Matos, Director
Geral; D. José Maria de Queirós e Lencastre, Comissário Nacional;
Dr. Avelino Gonçalves, Inspector-Mór; Cap. Graciliano Reis S.
Marques, 1.° Vogal e Álvaro Benjamim Coutinho, 2.° Vogal.
O
Movimento estende-se de Norte a Sul de Portugal e, como meio de
informação entre todas as Unidades apareceu em Fevereiro de 1925 o
1.° número do jornal "Flor de Lis" que mais tarde, em
Janeiro de 1945, se apresentava em forma de Revista.
Ainda
em 1925, a 28 de Fevereiro, o Diário de Governo, com o Decreto n.°
10589, de 14 de Fevereiro, ratifica a aprovação dos Estatutos do
CNS, cujo documento foi assinado por Manuel Teixeira Gomes, Presidente
do Ministério, Helder Armando dos Santos Ribeiro, Ministro da Guerra.
A 15 de Março foi aprovada a nova redacção do Regulamento Geral e
ainda nesse ano, alguns responsáveis do Movimento deslocaram-se a
Roma e foram recebidos pelo Papa Pio Xl, que lhes dirigiu palavras de
muito apreço e encorajamento pelo progresso e expansão do Movimento,
em Portugal.
O ano
de 1926 foi de intensa actividade e projecção para o CNE. Durante
ele foram criadas e aprovadas as Juntas Regionais de Portalegre, Açores,
Coimbra, Lisboa e Núcleo do Porto, que vieram juntar-se à de Leiria,
criada no ano anterior. Prova inequívoca do interesse que o Escutismo
Católico estava a despertar na população portuguesa foi também o
1.° Acampamento Nacional que em Agosto desse ano se realizou em
Aljubarrota, durante o qual foi entronizada na capela de São Jorge a
imagem do Beato Nuno, transportada para ali num impressionante cortejo
de mais de 10.000 pessoas. Este acampamento serviu como rastilho para
galvanizar os entusiasmos da juventude portuguesa de tal modo que, no
ano seguinte, foram constituídas as Juntas Regionais da Guarda, Viseu
e Madeira e os Núcleos da Régua, Coimbra e Aveiro.
Os
progressos do Movimento eram tais que, no conselho nacional reunido em
Braga em Maio de 1927, o Arcebispo fundador afirmava que "o
escutismo é a maior obra católica no meu país" e a testemunhá-lo
realizava-se logo em Dezembro desse ano o 1.º Congresso de
Assistentes do Movimento; em Março de 1928, após alguns meses de
negociações foi aprovado o estatuto das várias associações
Escutas de Portugal com vista à sua federação; em Agosto
realizou-se em Cacia o 2.° Acampamento Nacional... ainda nesse ano o
Movimento chega a Moçambique (cidade da Beira). A 5 de Março de 1929
Baden-Powell visita Portugal e assiste em Lisboa a um desfile de 700
Escutas que o aplaudem com entusiasmo; em Abril desse ano realiza-se
em Coimbra o 1.° Congresso Nacional de Dirigentes e a 2 de Maio o CNS
é admitido no Bureau Mundial do Escutismo; em 16 de Junho foi
inaugurada a Sede da Junta Central, na Rua da Boavista, em Braga,
estando presentes o Arcebispo-Fundador e as autoridades civis e
militares da cidade; em Agosto 26 elementos tomam parte no 3.º
Jamboree Internacional de Arrowe Park, merecendo o seu testemunho um
ofício do próprio Baden-Powell, dirigido ao Presidente da República
de Portugal dizendo:"...distinguiram-se durante a sua estada no
campo pela sua inteligência, disciplina e eficiência e sobretudo
pela sua amabilidade, encantador espirito de amizade para com os seus
irmãos escuteiros e para com quem estivessem em contacto."
Em
Agosto de 1930 realizou-se na praia da Granja o 3.° Acampamento
Nacional; a 9 de Julho do ano seguinte no regresso da sua viagem à África
do Sul, Baden-Powell visitou os escuteiros da Madeira; a 29 de Junho
de 1932 foi publicado o Decreto que regularizava a Organização
Escutista em Portugal; em Braga - berço do CNE -, teve lugar o 4.°
Acampamento Nacional onde se levantaram 93 tendas e acamparam 464
Escutas. A 28 de Setembro de 1932, tombou o gigante; às primeiras
horas desse dia D. Manuel Vieira de Matos rendeu a alma ao criador e
partiu em direcção ao Acampamento Eterno. Contava 71 anos de idade e
o CNE sentiu por dentro a partida do seu fundador! No ano seguinte é
a vez de Dr. Avelino Gonçalves deixar também o Movimento que ajudou
a nascer e carinhosamente fez crescer, para se dedicar a outro múnus
do seu Ministério. Sucede-lhe no CNE o Cónego Martins Gonçalves.
No ano
de 1934 foi publicado o 1.° Regulamento que permite a entrada de
Se-nhoras para o CNS como Dirigentes de Alcateias e a 12 de Abril do
mesmo ano, Baden-Powell chega a Lisboa acompanhado de sua esposa e 700
Dirigentes ingleses. Devido ao seu precário estado de saúde não pôde
sair do barco, mas um garboso desfile com cerca de 2 mil Escutas foi
ao cais saudar o Chefe Mundial que nos visitava pela segunda vez. Em
Novembro foi publicado o novo Regulamento onde aparece oficialmente a
nova designação de ESCUTAS em substituição de "Scouts",
desaparecendo definitivamente o CNS para aparecer o CNE.
Em
1935, reunido no Porto, o Conselho Nacional substitui o termo de
"Director" por Assistente e "Inspector" por Secretário
(Nacional).1936 é um ano difícil para o CNE, talvez o mais crítico
de toda a sua existência! A Organização Escutista de Portugal é
extinta pela Portaria n.° 8488, publicada no Diário do Governo de 13
de Agosto de 1936, e o CNE volta a regular-se pelo Decreto n.° 10589,
de 14 de Fevereiro de 1925. A si-tuação é crítica porque a
oficialização dos movimentos juvenis por parte da Igreja e do Estado
deixaram o escutismo como que ao abandono, mas a coragem, dedicação
e espírito escuta de um bom punhado de Dirigentes afastaram o perigo
e evitaram o naufrágio, e assim, em Agosto desse ano, já se
realizava em Leiria o 6.° Acampamento Nacional. Em Agosto de 1939
teve lugar na Madeira o 2.° Congresso Nacional de Dirigentes. No ano
das Comemorações Centenárias (1940) O CNE quis assinalar a sua
presença neste jubileu da nacionalidade. O Conselho Nacional da
Figueira da Foz delibera levantar o seu cruzeiro da independência na
Cidade Berço, Guimarães, solenemente inaugurado a 8 de Dezembro, Dia
da Imaculada. Em 1941, como os Escutas de todo o mundo, o CNE sente
profundamente a morte de Baden-Powell que faleceu no Quénia a 8 de
Janeiro desse ano, com 83 anos de idade e uma extensa e brilhante
folha de serviços prestados à Humanidade.
No meio
das dificuldades surgem notas de apreço e reconhecimento de dois
amigos do CNE: suas Santidades Pio XII e Paulo VI.
"E
que a Associação Portuguesa de Escutas Católicos pelos seus muitos
e grandes serviços prestados... bem merece da Igreja. Mais de 60.000
jovens ele procurou formar no Amor e na Prática da Fé, da Piedade,
da Caridade e das outras virtudes."
E em
1934, em nome de Pio XII, escreve ainda J. B. Montini: «É também
digno de todo o louvor o espírito que tem animado o CNE: fidelidade e
obediência à Hierarquia, para "bem servir" e "da
melhor vontade"».
No
momento de tantas dúvidas e no meio de tanta esperança e Fé, as
palavras do fundador, D. Manuel Vieira de Matos:
«Queridos
rapazes, metade do meu coração é vosso, levai-o convosco» E
acrescentava às palavras de Pio XI: «Deveis ser os primeiros na
profissão de fé cristã, os primeiros na dignidade da vida, os
primeiros na pureza, os primeiros em todas as manifestações da vida
cristã». «Depois de Deus, a dedicação até ao sacrifício dos
seus dirigentes, e o seu magnifico órgão, a "Flor de Lis"
encerram certamente o segredo do extraordinário progresso desta que
consideramos a mais benéfica instituição juvenil ».
Sucedem-se
pois os 7.° e 8.° Acampamentos Nacionais em Tomar (1946) e em Braga
(1948). E, em 1950, procede-se à aprovação de novos Estatutos e
publica-se novo Regulamento Geral. Aliás, estas duas décadas que se
vão seguir (50/60) parecem ter dado origem a uma pequena "revolução"
após as vicissitudes atrás referidas. Com efeito, ainda em 1950 (a 5
de Novembro) a Junta Central transfere-se para Lisboa e nos anos
seguintes vários dirigentes deslocam-se ao estrangeiro (nomeadamente
a Gilwell Park, em Londres) para frequentarem Cursos de Formação de
Dirigentes. Sucedem-se os Campos-Escola e os Acampamentos Nacionais
que continuam a reunir já não centenas, mas milhares de Escutas. Foi
assim com os 9.°, 10.° e 11.° Acampamentos Nacionais que reuniram
em Coimbra (1952), Porto (1956) e Lisboa (1960). É também em Lisboa
que, no ano seguinte, se realiza, de 19 a 25 de Setembro, a Conferência
Internacional do Escutismo. O CNE cresce a olhos vistos e assiste, em
1963, à inauguração, em Fraião, de um Campo-Escola permanente que
incrementará, sem dúvida, as possibilidades de Formação de
Dirigentes. Logo, no ano seguinte, novo Acampamento Nacional, o 12.º,
desta feita na Covilhã, evidenciando-se assim uma preocupação pelo
desenvolvimento do Escutismo no interior do pais.
Assim
se verifica, em 1966 e a 15 de Agosto, em Fátima, o 1.° Encontro
Nacional de Dirigentes, a que se segue, em 1968 e em Portalegre, o 13.°
Acampamento Nacional. E com tudo isto, ainda por solidificar, um CNE
ainda jovem, está a 5 anos do seu jubileu, que se verificou em 1973,
com grande pompa, numa Concentração Nacional em Braga (no mês de
Maio) e com o 14.° Acampamento Nacional, em Leiria.

O CNE lança "alicerces" para o futuro
Com as
transformações da sociedade portuguesa, que viria assistir à Revolução
de Abril de 1974, também no CNE se operam transformações. Em Julho
de 1974, a Junta Central considera-se demissionária e o Conselho
Nacional nomeia uma Comissão Executiva que passa a gerir a Associação.
Este processo conduz à aprovação dos novos Estatutos, em 9 de Março
de 1975, em consequência dos quais é empossada a 1.ª Junta Central
eleita por sufrágio directo tendo como Chefe Nacional Manuel António
Velez da Costa, qual viria a ser reconduzido no cargo em 1980,
igualmente através de eleições nacionais.
Em
1976, uma conclusão do Conselho Nacional admite, com condições, a
admissão de jovens de sexo feminino para as várias secções, altura
que é considerada por alguns sectores da associação como o lançamento
da coeducação no CNE. Em 1978 realiza-se o 15.° Acampamento
Nacional em Aveiro, já com um campo sénior, para a III secção,
entretanto criada, para os jovens dos 14 aos 17 anos, com os Estatutos
de 1975.
Em
1980, finalmente, em Ermesinde, o Conselho Nacional reúne
extraordinariamente para lançar um novo Sistema de Formação de
Dirigentes.
Com o
seu mandato a terminar, a equipa de Velez da Costa, numa "ponta
final impressionante", consegue dirigir a Associação num
caminho que passou, em 1981, por um revisão estatutária (concluída
em 26 de Setembro) até à revisão geral do regulamento do CNE, que
ficaria concluída em princípios de 1984, para entrar em vigor em 1
de Março do mesmo ano. No ano seguinte (29.05.1982), uma representação
dos Comités Mundial e Europeu deslocam-se a Portugal, onde entregam
ao CNE e à AEP, que recentemente haviam fundado e constituído a FEP
(Federação Escutista de Portugal), o respectivo diploma. Caminho que
assistiu ainda à realização do 16.° Acampamento Nacional em Setúbal,
em 1983, numa altura em que davam os primeiros passos do acordo
celebrado entre o CNE e o MSC (Movimiento Scout Católico de Espanha),
após uma Cimeira Ibérica das duas associações. Tudo, entretanto,
recheado com duas prendas: a "Medalha de Bons Serviços
Desportivos" e o reconhecimento do CNE (Escutismo Católico
Português) como Instituição de Utilidade Pública, conforme
despacho do Primeiro Ministro, publicado no Diário da República, II
série, de 3 de Agosto de 1983 (Despacho de 20 de Julho de 1983).

Rumo à actualidade
Os últimos
quinze anos ficam marcados por uma grande expansão do Escutismo e
aumento dos efectivos, em todo o continente e regiões autónomas.
Novas
áreas são desenvolvidas. A do ambiente com a inauguração em 1988,
do Centro Nacional de Formação Ambiental, em S. Jacinto, com toda a
gama das mais diversas campanhas, onde se destaca a de "Um Milhão
de Árvores"
Campanhas
como a do calendário escutista, a do seguro escuta, a da sede própria
e outras vêem, concretizar o nosso património.
A nível
pedagógico dá-se realce ao aparecimento das metodologias educativas
das quatro secções, livros, revistas, fichas e manuais.
Rover's,
encontros e fóruns de caminheiros, expansão do Escutismo Marítimo,
a forte sensibilização do Escutismo de integração, são pontos
fortes na vida da associação.
Os últimos
três Acampamentos Nacionais, como o de Bagunte em 1987, o do Palheirão
em 1992, em que o governo atribuiu a Ordem de Mérito, como
reconhecimento do CNE junto dos jovens Portugueses e o de Valado de
Frades em 1997, constituíram pontos altos na vida da Associação e
dos milhares e milhares de jovens participantes.
Como
resultado destes eventos foi a presença maciça no Jamboree da
Holanda em 1995 e do Moot na Suécia em 1996 que são bem o testemunho
do grande desenvolvimento que ocorre a todos os níveis.
Seminários
como o da Família em 1994 e o congresso "Valores e Missão"
em 96/97, concretizam a forte maturidade e implantação do Escutismo
Católico em toda a sociedade portuguesa.
A última
palavra para a organização do CNE, com a publicação dos últimos
estatutos, diversos regulamentos e regimentos e os mais diversos
protocolos com destaque para os dos Países de Língua Oficial
Portuguesa.

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