Brasil
desconhece seus custos logísticos
No
mundo todo, o segmento de logística movimenta US$ 2,1 trilhões por ano, ou 16%
do Produto Bruto Global. No Brasil, porém, saber o custo logístico ainda é um
desafio e uma grande preocupação para os profissionais do setor. A única
afirmativa em torno da qual existe consenso é que, no país, não há estatísticas
confiáveis sobre os custos logísticos, mas apenas estimativas – e mesmo
essas são variadas e diferem bastante entre si.
Se
uma das máximas da logística é a de que “só se pode melhorar aquilo que se
mede”, fica impossível reduzir os custos logísticos sem conhecê-los.
Estimativas da Associação Brasileira de Movimentação e Logística (ABML),
apontam os custos logísticos em 19% do faturamento de uma empresa. Já um
estudo realizado há cinco anos pelo Banco Mundial revela que o custo do
transporte no Brasil representa 10% do PIB (que hoje está em R$ 1 trilhão).
Como a estimativa consensual é de que o custo do transporte no Brasil eqüivale
a 60% dos custos logísticos, calcula-se que o segmento todo movimente até 16%
do PIB (o que bate com os números globais), ou cerca de R$ 160 bilhões.
Aí
começam as divergências. A NTC – Associação Nacional do Transporte de
Carga – calcula que o setor movimente anualmente no Brasil R$ 50 bilhões.
Assim, o custo logístico total do país seria de R$ 80 bilhões, ou seja,
metade do número anteriormente apresentado. O professor Antonio Galvão Novaes,
da Universidade Federal de Santa Catarina, acredita que o custo logístico
brasileiro total seja bem maior: 20% do PIB. Para ele, porém, mais importante
é notar como esses custos podem ser otimizados.
Para
contornar o problema da escassez de estatísticas confiáveis, a ABML definiu
como uma das prioridades do plano de ação de seu quarto ano de atividades a
criação de um índice para precisar os custos do setor. Esses indicadores
seriam compostos por diversos itens, com maior ou menor peso no cálculo. O
trabalho está sendo feito em parceria com a Fundação Vanzolini, da
Universidade de São Paulo, e o novo indicador será lançado até julho. Para o
presidente da ABML, Pedro Moreira, acompanhar a curva de atividade do setor é
fundamental numa economia estável, onde é preciso menos “achismo” e mais
planejamento.
Porém,
antes de levantar os custos logísticos, é preciso saber como ele é composto.
De acordo com o Latin American Logistics Center (LALC), uma pesquisa iniciada
nos primeiros meses de 2001 em parceria com a ABML revelou que muitas empresas não
têm nenhum conhecimento de seus custos logísticos.
O
conceito de logística integrada ainda é relativamente novo no Brasil e engloba
desde a previsão de vendas, estoques/inventário, embalagem, fluxo de informações,
movimentação, aspectos legais, planejamento operacional, armazenagem e serviço
ao cliente, até suprimentos, transporte e planejamento estratégico. Definir o
custo de cada uma dessas etapas é o grande desafio.
O
custo mais óbvio e mais pesado de todos, como já foi dito, é o de transporte,
mas mesmo nesse item existem divisões e pesos que muitas vezes são
desconhecidos pelas empresas, de acordo com Marcos Isaac, vice-presidente de
Manufatura e Bens de Consumo da Ernst & Young Consulting. Com ele concorda o
professor Paulo Fernando Fleury, do Centro de Estudos em Logística do
Coppead/UFRJ, que afirma que muitas empresas compram com o custo do frete
embutido (FOB) e nem sabem quanto gastam com o transporte.
Entre
os grandes empecilhos à produtividade e à conseqüente redução de custos logísticos
estão a infra-estrutura do Brasil, principalmente de transportes, portuária e
alfandegária, e os impostos em cascata, que inviabilizam muitas soluções logísticas
ou forçam a outras impensáveis em outros paísesQuando à infra-estrutura, os
especialistas concordam que ela tem melhorado. Programas como o “Brasil em Ação”
e o “Avança Brasil”, além dos programas de concessões de portos,
ferrovias e rodovias, têm gerado resultados. Até a hidrovia tem sido mais
utilizada, permitindo rotas muito mais vantajosas economicamente, principalmente
para produtos de menor valor agregado.
Os
elogios evaporam-se quando o tema são impostos e juros. “O custo financeiro
é um dos que mais sobrecarregam a logística, porque está muito ligado à taxa
de juros, que continua muito mais alta que na Europa e nos EUA”, afirma Marcos
Isaac. Outra grande preocupação do setor, além de reduzir os custos, é
identificar onde estão as perdas no processo.
É no chamado custo/oportunidade que as empresas podem buscar um ganho substancial no processo. Exemplo: quanto se poderia recuperar no dia-a-dia com o melhoramento da mão-de-obra? Para os especialistas, o importante é aprimorar as pessoas e padronizar processos, como tamanho e piso dos baús dos caminhões, altura de paletes, volume de carga, nomenclaturas e sistemas. Além de investir na formação do ser humano, é preciso investir em automação, em sistemas que reduzam a possibilidade de erros e avarias, reduzindo desperdícios, ineficiências e redundâncias. A preocupação em torno do tema não vem por acaso. Com a Alca batendo à porta, as empresas brasileiras terão de correr mais do que nunca para alcançar um padrão de competitividade que lhes permita sobreviver no novo panorama.