SUPPLY CHAIN 

GESTÃO DAS CADEIAS DE SUPRIMENTO: NOTAS PRELIMINARES

Introdução
Este texto objetiva levantar alguns pontos explicativos e/ou essenciais na abordagem da Gestão das Cadeias de Suprimento (Supply Chain Management - SCM) dentro da área de logística empresarial. A SCM parte do pressuposto de que a melhor satisfação do consumidor final depende da administração da rede de compras de insumos, produção e distribuição, de forma integrada (desde o fornecedor até o cliente), valorizando as interconexões entre as variáveis e os processos-chave, tanto internos quanto externos à unidade de negócios. Trata-se de uma evolução da logística integrada que preconiza a necessidade de articulação interna das atividades.

Antecedentes
Até o final dos anos 80, a natureza relativamente fechada da maior parte dos mercados garantia maior previsibilidade ao funcionamento dos sistemas econômicos, sustentada na menor concorrência inter-empresarial e nos ciclos mais longos dos produtos. Nesse ambiente, a rentabilidade dos negócios requeria o gerenciamento eficiente de atividades isoladas como compras, transportes, armazenagem, produção e distribuição.
Essa trajetória registrou uma mutação radical na década de 90 com a intensificação articulada dos fenômenos da liberalização comercial, especialmente dos mercados emergentes, e da globalização produtiva e financeira em escala mundial. Esses dois movimentos vem conferindo novos contornos à disputa competitiva entre as empresas, em face das necessidades de enfrentamento e superação dos desafios impostos à expansão, garantia de posição e/ou mesmo sobrevivência em estruturas de mercado altamente concorrenciais.
Diante desse quadro de mudanças, as organizações empresariais passaram a adotar estratégias de potencialização de oportunidades e de minimização de riscos, mediante tentativas de rápido cumprimento dos requisitos e/ou referenciais ligados sobretudo à atualização tecnológica e à reestruturação gerencial. Ademais, as empresas procuraram introduzir inovações voltadas à multiplicação dos ganhos de competitividade, resultando na proliferação de fusões, incorporações e celebrações de alianças estratégicas.

A SCM
É justamente nessa linha de avanços gerenciais que pode ser inserida a SCM. Segundo a maioria dos autores, a SCM "é um conceito relativamente novo que ainda carece de uma definição clara". Contudo, é fácil perceber uma certa convergência de seu entendimento como um enfoque ampliado, atualizado e universal da administração de materiais convencional (realizada operacionalmente), tratando a cadeia produtiva completa de maneira estratégica e integrada. Assim, a SCM combina os grupos de processos logísticos ligados aos materiais e às informações nos ambientes interno e externo.
Por essas razões, a SCM é considerada por muitos como a gênese da derradeira fronteira empresarial para aproveitamento das novas vantagens competitivas, acopladas aos avanços concatenados da globalização e da tecnologia da informação.
Nessas condições, partindo do pressuposto de que os novos limites da competição privada são demarcados no âmbito das cadeias produtivas e não apenas entre as empresas isoladamente, o planejamento e as decisões competitivas e funcionais das unidades de negócios passaram a abarcar suas posições assumidas no interior dos encadeamentos, tanto como elo supridor quanto como cliente. Ressalte-se que, nesse particular, o cliente corresponde à área funcional imediatamente subsequente e demandante de um produto ou serviço, podendo ser interno ou externo à empresa.
Para VOLMANN & CORDON, as cadeias produtivas representariam virtuais unidades de negócios, o real terreno da competição atual. PIRES chega a defender que, "atualmente, as mais efetivas práticas de SCM visam obter uma virtual unidade de negócios que propicie muitos dos benefícios da tradicional integração vertical, sem as comuns desvantagens em termos de custo e perda de flexibilidade a ela inerentes". Ainda nessa linha, alguns argumentos enfatizam que "o SCM cristaliza a idéia de ecossistema empresarial proporcionando uma estrutura de processos que permite às empresas entrarem em evolução mútua ao invés de simplesmente competirem entre si". 
Dentro desse novo modelo, as estratégias de cada empresa passaram a incorporar preocupações com o grau de competitividade do produto final e com o desempenho da cadeia completa. Por isso, parece razoável supor que a necessidade de seu gerenciamento integrado exige e/ou conduz à aproximação das relações e a instituição e definição articulada de responsabilidades distintas pelas diversas unidades de negócios integrantes da cadeia. Em outros termos, segundo WOOD e ZUFFO "não basta o fabricante ter buscado excelência operacional se os distribuidores, os atacadistas e os varejistas continuam operando em condições precárias". 
Evidentemente, a otimização das ligações entre as diferentes áreas funcionais para a obtenção das vantagens competitivas depende crucialmente de um eficaz fluxo de informações.

Objetivos da SCM
O objetivo básico da SCM reside no aprimoramento dos níveis de eficiência e de competitividade da cadeia produtiva por meio da potencialização das sinergias e da simplificação de atividades, que devem resultar em diminuição de custos e ampliação dos valores agregados. Para tanto, é necessária uma estratégia de gestão conjunta e interdependente entre as unidades integrantes da cadeia, priorizando a seleção adequada dos parceiros e a sincronização entre as suas diferentes metas e competências.
Dessa forma, a redução global dos dispêndios ocorre através da simplificação das operações, da diminuição das oscilações na demanda de bens e serviços, do declínio dos custos de transporte e de estocagem e da eliminação de desperdícios. Já o aumento de adição de valor se dá pela introdução de produtos com maior conteúdo tecnológico e pela criação e aperfeiçoamento de competências específicas ao longo da cadeia, englobando fornecedores e clientes.

Resultados da SCM
a) redução do número de fornecedores e clientes;
b) intensificação das relações com grupos de empresas escolhidos para uma articulação cooperativa e sinérgica;
c) integração e compartilhamento de informações entre clientes e supridores, permitindo o maior equilíbrio das variáveis relacionadas aos patamares de demanda, capacidade de produção e estoques, inclusive através de entregas just-in-time;
d) encaminhamento coletivo de soluções para os problemas; e
e) presença e participação dos diferentes elos nas várias etapas do processo, desde a concepção até a fabricação dos produtos.

Integração entre estratégia e infra-estrutura: competência
A competência da SCM representa uma qualidade não percebida diretamente pelo cliente. Especificamente, traduz o aprendizado conjunto da organização, representando a ligação entre estratégia e infra-estrutura. É exatamente a competência que assegura a capacidade, notada pelos clientes e representada pelas habilidades e práticas vinculadas à integração e à operação dos processos.

Outsourcing
O Outsourcing eqüivale à uma espécie de enfoque contemporâneo da subcontratação ou da terceirização, reproduzindo uma relação colaborativa e integrada entre duas ou mais empresas, na qual parcela da produção dos produtos e serviços utilizados por uma é estrategicamente transferida para a unidade fornecedora externa. Ao contrário da terceirização e da subcontratação, que representam simples negócios resultantes de critérios decisórios puramente operacionais, o Outsorcing pressupõe relações estreitas de parcerias e alianças estratégicas entre os membros da cadeia, de difícil reversão.

Considerações finais
A área de SCM é bastante recente no Brasil. Por certo, as profundas mudanças verificadas no panorama macroeconômico do país ao longo dos anos 90, destacadamente a liberalização comercial, a desregulamentação, as privatizações, a ampliação do front internacional (principalmente com a consolidação do Mercosul) e a estabilidade monetária, estimularam e/ou forçaram os agentes econômicos a concretizar projetos voltados à elevação dos patamares de eficiência e de competitividade. 
Contudo, tais iniciativas tem se revelado insuficientes para a desobstrução dos principais gargalos ao crescimento e à modernização econômica do país, principalmente quanto à infra-estrutura física e tecnológica. Tais entraves surgiram durante as várias décadas de fechamento econômico e foram aprofundados pela conjuntura recessiva e hiperinflacionária dos anos 80, justamente quando os países avançados consolidavam os novos conceitos na área de logística, atrelados aos novos padrões de concorrência e ao emprego da tecnologia da informação.
A indústria automobilística constitui o exemplo mais completo de introdução desses procedimentos inovadores, bem mais abrangentes e complexos que o just-in-time. A experiência de operação de novas plantas das montadoras no Brasil, principalmente depois de 1996, com uma base de suprimento integrada por consórcios modulares, será tratada no próximo artigo da equipe.

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