Se tamanho fosse dinheiro: seria troco.
Se tivesse açougue: venderia ossos.
Se fosse pássaro: seria bem-te-vi.
Se árvore: laranjeira, como esta tenho minhas raízes,
um tronco genealógico, meus galhos, folhas, flores e frutos.
Sou assim, qualquer coisa que apostou alto na felicidade
e, com surpresa a descobre em coisas banais.
Peço sinal verde para viver, mas de quando em vez
entro no sinal vermelho.
Me arrisco a descer ao fundo do poço
e descubro que sou tão normal como a lavadeira
que engole os seus sapos
e às vezes se engasga com uma rã.
Sou como relógio de funcionário público
que, por conveniência,
nunca casa com o da repartição,
e por isso chego sempre atrasada:
rio quando os outros já gargalharam,
choro quando a tragédia já passou.
Trago, discretamente, as antenas ligadas
e o olhar está sempre a procura
de uma agulha que se perdeu no palheiro.
Trago tanta coisa em minha palma
que nem chego a perceber
se o que cai é a caneta ou a alma.