VESTIBULANDO
Querida, você tem reclamado muito a minha
ausência. Por favor, não interprete meu retiro como ausência de desejo de estar
ao seu lado. Acontece, amor meu, que este é o terceiro vestibular que vou enfrentar
e eu não posso mais falhar. Não e não! Não agüentaria mais ver a cara de velório
dos meus pais, nem tão pouco a gozação do Juca, meu irmão: "E daí jumento, quando
é que vai ser promovido a cavalo."
Nos anos anteriores eu achava possível conciliar estudo e namoro, só que o namoro
passou a ser prioridade e deu no que deu.
Primeiro foi X, depois Y e agora não quero envolver Z (você) nesta álgebra que
acaba sempre me enlouquecendo.
Você não pense que é fácil comer uma travessa de salada mista – inglês, português,
matemática, física, química, ciências biológicas, história, geografia – todos
os dias em todas as refeições intelectuais. Dá náusea. Mas com ou sem náusea
estou decidido engoli-la até o final, sem adicionar sobremesa.
O vestibular é a coisa mais surpreendente que pode existir. Você estuda tudo,
sabe tudo, mas na hora dá um branco e você descobre que já não sabe mais nada.
Ainda para atazanar mais a vida do vivente tem aquelas questões mais absurdas,
do tipo: O que determina a lei Pelé? Qualquer pilantra da rua sabe, mas o cara
que queimou pestana durante o ano inteiro sobre os livros não sabe.
Prometo, quando tudo acabar e eu estiver lá do outro lado do "vestibu", a primeira
coisa a fazer será levar você a um restaurante, dispensar a salada mista, e
juntos comermos outras iguarias, inclusive sobremesa.