Conto narrado por Romilda Melzi do Nascimento

(Adamantina - SP)

Marcelo sabia perfeitamente que o amor materno é muito forte. Ele não sabia, porém que esse amor pode sobreviver à própria morte do corpo. É o que mostra este caso.

 

Marcelo era motorista de uma transportadora de São Paulo e se encontrava no Estado do Espírito Santo para fazer uma entrega. Apesar dos seus 50 anos, ele era muito forte e aquela viagem lhe parecia muito fácil e curta. Já estava tudo preparado para a partida, quando ele recebeu um recado dizendo que seu ajudante estava muito doente, impossibilitado de participar daquele transporte.

Normalmente, pelo regulamento da firma, ele não deveria viajar sem o ajudante. Mas como ele tinha urgência em terminar o serviço e voltar para São Paulo, pediu uma autorização especial e - apesar da chuva - partiu para seu destino.

Marcelo era conhecido por ser tão ativo quanto teimoso e, como estava acostumado a viajar pelo Brasil inteiro, sentia-se muito seguro de si. Algum tempo depois já tinha abandonado a cidade e alcançado a estrada principal. Como a chuva já estava passando, a viagem transcorria muito tranquila. O único problema é que se sentia solitário. Para distrair, começou a assobiar e cantar. De repente, como se fosse uma visão surgida do nada, os faróis do seu caminhão localizaram na estrada uma mulher acenando para que ele parasse. - O regulamento da transportadora proíbe que seus motoristas parem nas estradas. A mulher, porém, estava bem vestida e parecia desesperada. Ela não dava impressão de estar ali - de baixo da chuva - por um simples acaso: existia um certo perigo no ar. Num impulso inconsciente ele freou o caminhão, saltou da cabina e perguntou:

A mulher respondeu chorando:

Marcelo mandou a mulher subir, abandonou a estrada principal, entrando por uma outra secundária, de terra batida, que a mulher tinha indicado. Apenas um detalhe o intrigava: a mulher não apresentava ferimento algum. Ele perguntou como o

desastre tinha acontecido e ela respondeu que não sabia: chorava muito e o carro tinha derrapado pelo morro abaixo, muito rapidamente. Chegando ao local, Marcelo parou o caminhão, pegou um farolete e pediu que ela o esperasse enquanto ele ia buscar o garoto. Com muito cuidado, desceu o morro, até avistar um automóvel arrebentado no meio do mato. Ao ouvir o choro de uma criança, procurou apressar o passo, mas o solo estava coberto de lama. Lá, uma grande surpresa o aguardava. No banco dianteiro ele viu os corpos de um homem e de uma mulher. No banco traseiro estava um garoto muito assustado, entre os corpos de dois adolescentes. Ele retirou o garoto do carro e perguntou quem eram os outros. Chorando, o garoto respondeu que eram seu pai, sua mãe e seus irmãos.

Marcelo esfriou, dirigiu a luz para o rosto da mulher e descobriu, assombrado, que era a mesma que ele tinha encontrado na estrada. Pegou o garoto no colo e subiu lentamente o morro, com a certeza de que não encontraria mais aquela mulher à sua espera. E não encontrou.

 

Voltar