Manifestações de Assombração percebidas por animais

Uma observação se faz necessário antes dos relatos dos casos. Diz-se que as formas de mula-sem-cabeça e lobisomem, assombrações vistas no interior do Brasil, são geralmente espíritos de pessoas más na terra. Há casos de magia negra em que os espíritos toma a forma de uma cobra preta e se enrola na perna da pessoa enfeitiçada. A Sociedade de Medicina e Espiritismo do Rio de Janeiro possui, em seus arquivos, vários casos do genêro.

(Artigo reproduzido da "Revista Light"da senhora Elizabeth d'Espérance, pessoa conhecida no domínio dos estudos psíquicos e narrada por ela mesma.)

A localidade, onde se reproduziram os fatos, não está afastada de minha casa e eu mesma fui testemunha ocular deles. Depois da publicação de meu caso, tive o ensejo de assistir a um fato semelhante. Eis brevemente a sua história:

- Em 1896, estabeleci-me definitivamente na minha residência atual. Conhecia muito bem o lugar, que já havia visitado várias vezes, e estava mesmo informada de que ele tinha a fama de ser assombrado, todavia eu não tinha sabido grande coisa a este respeito, sobretudo porque não conhecia quase ninguém aos arredores, depois porque não se conhecia minha língua e eu ignorava a do país. Após isto é fácil conceber que as comunicações entre nós deviam necessariamente ficar limitadas, pelo menos durante certo tempo. O que vi ou acreditei ver não deve então ser atribuído a um efeito de rumores que eu não poderia conhcer.

Nos meus passeios cotidianos, eu tinha o hábito de ir a um bosquezinho de que gostava muito por causa da sombra fresca da qual ali se gozava no verão e porque também se ficava livre dos ventos do decurso do inverno. Uma estrada pública atravessava-o de um lado a outro. Ora, eu havia frequentemente observado que os cavalos eram ali tomados de medo e tal coisa sempre me intrigava, não sabendo a que atribuir o fato. Em outras ocasiões, quando eu chegava a esse lugar com o meu par de cães, esses se recusavam decididamente a entrar no bosque, se arrojavam por terra, metiam os focinhos entre as patas e ficavam surdos à persuasão bem como às ameaças. Se eu me dirigisse para qualquer outra direção, eles me seguiam alegremente, porém, se eu insistisse em querer voltar para o bosque, abandonavam-me e se dirigiam para casa, presas de uma espécie de pânico. Renovando-se esse fato por várias vezes, decidi-me falar dele a uma amiga, que era proprietária desse lugar. Soube então que incidentes iguais se tinham muitas vezes reproduzido no local há anos bem recuados, não constantemente, mas a intervalos de tempos, com  cavalos ou cães, indiferentemente. Contou-me também que essa parte da rota que atravessava o bosque era olhada pelos lavradores do lugar como um terreno assombrado devido a um terrível crime que foi cometido no começo do século passado.

Um cortejo matrimonial tinha sido atacado por um apaixonado que a esposa repelira e essa foi assassinada ao mesmo tempo que o marido e o pai. O culpado fugiu, mas foi alcançado, a dois ou três campos de distância, pelo irmão da esposa, que o matou. Esta história, muito conhecida, é autêntica. Perto do pequeno bosque( mas não onde os cavalos se espantavam) há três cruzes de pedra que marcam o lugar onde os três assassinatos foram cometidos e uma outra cruz, colocada a três campos de distância, assinala o ponto em que o culpado tombou por sua vez. Tudo isto se passou há um século, mas a presença das cruzes tem servido para conservar, na região, a lembrança do drama, o que explica, portanto, a atitude dos cavalos e dos cães.

Num dia do outono de 1896, eu havia saído com uma amiga para fazer um passeio... Chegamos ao bosquezinho no qual entramos pelo lado do oeste, seguindo tranquilamente o nosso caminho... Fui a primeira a me voltar e percebi uma vitela(novilha com menos de um ano) de tom vermelho escuro. Surpresa com a aparição inesperada desse animal ao meu lado, soltei uma exclamação de espanto e ela se abrigou logo no bosque, do outro lado do caminho. No momento em que penetrava no arvoredo, um estranho clarão avermelhado se desprendeu dos seus grandes olhos e dir-se-ia que projetavam chamas. Era hora do por-do-sol, o que fez com que eu pensasse que os raios do sol, que dardejavam em linha horizontal, sobre os olhos do bicho, bastassem para explicar o fato, olhos esses que brilhavam quase como as esquadrias de uma janela quando eram batidas diretamente pelos raios do sol.

Quando estávamos perto de nossa casa, minha amiga verificou que havia perdido o cabo de prata de sua sombrinha e se dirigiu para um dos jardineiros a fim de lhe pedir para mandar um homem procurar o objeto perdido e lhe deu todas as indicações necessárias ao lhe indicar exatamente qual o caminho que havíamos percorrido. O jardineiro lhe disse que, antes do anoitecer, ele mesmo iria lá e lhe explicou que os camponeses da região experimentavam um grande mal-estar ao penetrarem no bosque, sobretudo à tarde. - E por quê? - perguntou a minha amiga. O jardineiro contou então que a superstição desses camponeses ignorantes, já tão intoleravelmente estúpidos e irritantes, tinha ainda piorado ultimamente em consequência do rumor de que a "vitela de olhos reluzentes" fora visto no bosque o que fez com que ninguém se aventurasse a ir lá... Minha amiga e eu trocamos um olhar, sem contradizer o douto jardineiro que foi procurar o objeto perdido enquanto voltávamos para casa.

Desde então, por algumas outras vezes, a longos intervalos, espalhava-se o rumor de que a "vitela de olhos reluzentes" fora vista por alguém e o bosque era cada vez mais evitado pelos camponeses, se bem que, depois dessa época, bem poucos dias se passavam sem que eu atravessasse o bosque a pé ou a cavalo ( salvo certos períodos durante os quais eu devia ausentar-me da casa) e quase sempre com o meu par de cães, e nunca mais, até algumas semanas, me aconteceu encontrar novamente com o animal misterioso.

Era uma jornada sufocante e eu me dirigia para o bosque em busca de abrigo contra o sol e a reverberação enceguecedoura do caminho. Estava acompanhada de dois collies (cães pastores) e por um pequeno terrier. Chegando ao limite do bosque, os dois cães se agacharam subitamente debaixo do sol e se recusaram a prosseguir caminho, ao mesmo tempo em que exerciam toda a sua arte de persuasão canina para que eu me dirigisse para o outro lado. Vendo que eu persistia em querer prosseguir, acabaram por me acompanhar, porém com visível repugnância. Todavia, alguns instantes após, parecerem se esquecer e recomeçaram a correr para cá e para lá, enquanto eu continuava tranquilamente o meu caminho, colhendo amoras. Num certo momento, eu os vi chegar às carreiras para irem deitar-se, tremendo e gemendo, aos meus pés. eu não conseguia explicação para o evento, quando de repente, ouvi detrás de mim umas patadas furiosas que se aproximavam rapidamente. Antes que eu tivesse tempo de afastar-me, vi correr, na minha direção, um bando de gamos(mamífero semelhante ao veado) cheios de pavor e que, na sua desenfreada galopada, faziam tão pouco caso de mim e dos cães que quase me jogaram por terra. Olhei em torno de mim, espantada, para descobrir a causa de tal pânico e percebi uma "vitela de cor vermelha carregada", que voltando sobre os seus passos, se embarafustou pelas partes podadas, enquanto os gamos se tinham virado para uma outra direção do bosque. Meus cães, que em outras circunstâncias ordinárias, lhes teriam dado caça, se mantinham agachados e trêmulos nos meus pés, ao passo que o cão terrier não queria descer de cima dos meus joelhos. Por vários dias esses cãozinhos não quis mais atravessar o bosque e os collies não se recusavam a isso porém ali entravam contra a vontade deles, mostrando visivelmente a sua desconfiança e o seu temor.

Uma breve explicação dos fatos narrados

A vitela de cor vermelha-escura ou como se diz " a vitela de olhos reluzentes", não era um animal comum, vivo e terrestre... Qual relação, porém podia existir entre o fato em questão e a tragédia que se desenrolara no bosque é um problema para o qual não encontraremos nenhuma resposta. Não duvido, portanto, de que as faculdades de intuição e de clarividência próprias aos animais deviam ter-lhes feito conhecer a existência de alguma coisa de anormal ou de supranormal no bosque e que a repugnância pelos fenômenos desta natureza - repugnância que, no homem, é chamada superstição - era a causa verdadeira de sua estranha atitude.

 



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