Título: CLOSE CALL (Chamada íntima)
Autora: lovesfox
E-mail: lovesfox@rogers.com
www.geocities.com/fanficcorner
R (idioma)
Angsty, História,
Spoilers: Nenhum
Resumo: Seguindo uma pista de Mulder, Scully fica ferida.
Retratação: Mulder, Scully e Skinner não me pertencem. Esse privilégio
é de Chris Carter e 1013 Productions.

~ * ~ * ~ * ~ * ~ * ~
CLOSE CALL
por Lovesfox
~ * ~ * ~ * ~ * ~ * ~

Parte 1

Complexo subterrâneo 
Arredores de Hagerstown, Maryland 
11:45 da noite

Sobre ele, Scully tropeçou de novo, o pé dela escorregando 
no degrau, e só o fato de que ele a estava observando bem de perto
o salvou de levar o salto do sapato dela bem dentro do olho.

"Scully!" Mulder assobiou. "Toma cuidado, ok? Quase que você arranca
meu olho!"

Ela resmungou algo, e ele nao conseguiu entender, e começou a subir mais 
uma vez, o salto da bota dela batendo ruidosamente no próximo degrau.

Mulder gelou, se abraçando à escada de mão enferrujada, sentindo Scully
fazer o mesmo. Ele olhou para baixo, mãos apertadas, enquanto sua cabeça 
nadava um pouco. Eles tinham escalado cerca de 120 metros, e o chão 
parecia bem longe.

Felizmente, nao havia ninguem ali.

Ele normalmente não era um otimista, mas parecia que eles iam conseguir fugir
sem serem capturados ou mortos. Fora do perigo que ele mesmo os conduziu.

"Preste atençao onde pisa, Scully" ele assobiou de novo, e esperou até ela
retomar o passo lento para cima. Colocando a bota dele com cuidado no
degrau, ele subiu, elevando o pé oposto, sem parar.

Algo morno e molhado espirrou na mão dele, e Mulder quis saber se 
havia alguma coisa gotejando em algum lugar, ou se eles estavam num dreno
de algum tipo. Ele não podia ouvir água correndo, nem viu nenhuma indicação
de drenagem também, mas era possível. Também havia a condensação que tinha
que estar cobrindo os degraus, pois eles tinham se tornado escorregadios
quanto mais alto eles fossem, embora fosse estranho a água nao estar
fria.

Se ele se lembrava bem das coisas que ele viu na televisao, minas e cavernas
eram mais quentes à medida em que ficavam mais profundas, mas eles estavam
subindo agora, e não descendo.

Outra gota bateu na mão dele... e igualmente estranhamente morna e grossa.
Óleo?

Mais alguns degraus, e ele estava passando por uma luz de uma fonta na parede 
do túnel. Lançou uma iluminação fraca sobre ele e a escada, e Mulder
olhou para a mão dele.

O líquido que tinha caído nele, e que ele pensou que fosse condensação
nos degraus, nao era água ou óleo.

Era sangue. 

"Scully?" Mulder ofegou, e parou de repente, agarrando a escada de mão.
A palavra ecoou ligeiramente no túnel,pois ele tinha falado mais alto do
que pretendia devido ao choque que teve. Ele xingou, esperando ouvir tiros
ou talvez uma voz gritando onde eles estavam.

"Scully, você está sangrando," ele tentou falar num sussurro, depois de
ver que nada aconteceu.

"Eu sei," Scully respondeu fracamente, e chupou uma respiração ruidosa. 
"Não tem muito... que podemos fazer agora" ela disse rápido. "Temos que...
dar o fora daqui."

"Mas como..." ele começou a dizer. 

"Mulder!" ela gemeu, se mexendo lentamente, e agora que ele estava
prestando mais atenção, se puxando debilmente para cima. "Uma bala me pegou
de raspão, mas não é... tão ruim."

Ele teve um retrospecto para esse momento, quando eles viraram num canto de um
corredor, no complexo, e encontraram dois homens armados, vestidos com
uniformes pretos. Homens que atiraram contra eles, para nao fugirem,
eliminando qualquer chance de procurar pelo resto das portas e labirintos.
Deve ter sido naquela hora, ele percebeu, que ela foi atingida.

Mulder acenou com a cabeça, e então percebeu que ela nao podia ve-lo.
"Então suba rápido, ok?" ele sussurrou.

"Ten...tando," a resposta dela flutuou até ele. 

Um segundo depois ele assistiu a mão dela falsear, e viu que ela ia
cair. "SCULLY!" ele chorou, apavorado, imaginando o corpo dela caindo
por cima do dele, e se quebrando no fim do túnel.

Pulando pra cima, com adrenalina nas veias, Mulder lançou o corpo contra
o dela, a empurrando contra a escada, enquanto ele agarrava os lados 
da escada, com muita força, até doerem seus ossos. "Te peguei" ele
arquejou contra a jaqueta de couro dela. "Te peguei. Você vai ficar
bem."

Ela gemeu, um som baixo, lamentável, que o chocou, e deixou preocupado.
E então "Eu estou bem." uma respiração fraca, seguida por "E estou pronta."
Um ar chupado. "Vamos."

Com uma mão na escada, Mlder passou um braço ao redor da cintura dela, e agarrou
a escada pelo outro lado, a embalando em seus braços, para protege-la, caso
ela começasse a deslizar de novo.

"Firme agora," ele sussurrou, e sentiu o corpo dela ficar tenso
enquanto ela começava a subir de novo.

Quando ela subia um degrau, ele seguia depressa, basicamente grudado
contra a parte de trás dela desde o começo. Era desajeitado, e perigoso,
mas ele se arriscaria.

Finalmente eles alcançaram o topo, ambos respirando com dificuldade.
Mulder jogou Scully por cima do parapeito, usando um pouco mais de força
do que necessário, devido sua pressa de tira-los do túnel. Quando ergueu
a cabeça, ele viu que ela tinha rolado sobre o chao rochoso e acidentado,
ficando deitada lá, parada.

"Scully?" ele sussurrou ruidosamente, preocupado que tivesse agravado
a ferida de bala. "Você ainda está comigo?"

"Yeah," foi a resposta baixa que ele recebeu, depois de um longo e tenso
momento. Enquanto saía do túnel, ele viu ela ficando de quatro.

Antes que conseguisse sair do túnel, ela já tinha ficado de pé,
e estava com os braços ao redor do corpo, a jaqueta bem fechada
debaixo dos seios dela.

"Onde você foi atingida?" ele perguntou, indo até ela, as maos agarrando seus
ombros.

"Mulder, nós precisamos dar o fora daqui. Eles virão atrás de nós quando
não nos acharem lá embaixo, se é que eles já nao mandaram alguem aqui
pra cima" Scully desconversou, os olhos se fixando sobre o ombro de
Mulder, esquadrinhando a escuridao ao redor deles. "Vamos"
ela respirou fundo, e continuou, um pouco mais forte. "Eu posso fazer
isso. A bala só me atingiu de raspão."

"Certo," ele disse, acenando com a cabeça, as maos saindo dos ombros 
pequenos. Ele colocou a preocupação de lado, por enquanto. Por causa
de sua preocupação, ele nao estava mais pensando claramente - era
provavel que houvesse uma equipe procurando por eles. Scully tinha
razão: eles precisavam continuar correndo.

Mostrando o caminho de onde vieram, dentro dos bosques, ele pegou-a
pelo cotovelo, e somou, "Por aqui, Scully."

Parecia que haviam se passado horas desde que tinham viajado
por aqui, depois de terem entrado pela entrada secreta do
complexo, mas na verdade havia sido apenas há uma hora. O carro
deles estava parado numa estrada de terra, a uma milha dali, 
cortando caminho pelo bosque.

Não foi difícil seguir pelo caminho, mas ele era estreito até
para eles andarem juntos, e Mulder não podia continuar oferecendo
uma mão para ajudar Scully.

Então ele foi na frente, indo rapidamente, e com um andar fixo,
atento dos xingamentos de Scully atrás dele.

Sem lanternas, e com as arvores bloqueando a luz da lua,
era mais difícil de caminhar. Ele se arranhou em alguns galhos
e tropeçou em raízes altas mais vezes que ele conseguia contar,
e sabia que acontecia o mesmo com Scully, ouvindo as respirações
afiadas dela de vez em quando, junto com xingamentos murmurados.

Eles estavam quase chegando ao carro quando Mulder percebeu
que não tinha ouvido sua parceira atrás dele durante os últimos
minutos ou algo assim.

"Droga!" ele xingou. Parando, ele se virou para procura-la, a
respiração pesada, vapor saindo de sua boca.

Tudo que ele podia ver eram os esboços das árvores. Mulder 
piscou e olhou ao redor, pegando uma massa escura que parecia
estar amontoada contra uma árvore. "Scully?"

Correndo de volta, quase torcendo um tornozelo, ele
parou sobre a massa escura, que se transformou numa massa
humana quando ele se aproximou lentamente. Era sua parceira.

Ela estava se apoiando na arvore com a mão, ligeiramente dobrada
à cintura, a mão direita debaixo da jaqueta, do lado esquerdo.
As respirações dela faziam nuvens de vapor no ar.

"Scully!" Mulder exclamou, esticando a mão automaticamente
para toca-la. "O que..." ele parou de falar quando puxou o braço
dela. Um pouco da luz da lua penetrou entre as árvores, e os
iluminou. 

E serviu para revelar o sangue que estava na palma e nos
dedos dela.

Scully ergueu a cabeça, sobrancelhas franzidas, e fazendo 
careta. 

Xingando de novo, ele chegou mais perto, a agarrando pelos
ombros, virando-a de costas contra a árvore. Ele a ajudou a
se sentar, apoiando contra o velho carvalho. Scully gemeu
ligeiramente, e ele estremeceu, uma mão no ombro dela, a
outra mão procurando um lenço dentro do casaco dele.

"Droga, Scully, por que diabos você não me disse que era tão ruim assim?
Mulder falou, maos ocupadas em manter o pano branco apertado contra o lado 
dela, sentindo o sangue encharcar o tecido fino e molhar os seus dedos.

Scully parecia estar pronta para dizer alguma coisa, mas ela ofegou
ligeiramente, mordeu o lábio e virou a cabeça pro lado.

Freneticamente ele observou a pele mais palida que porcelana, e a aparencia
quase translucida, e a transpiração que pontilhava a testa, os olhos umidos,
cheios de dor. Mas ainda assim ele continuou, nervos e medo fazendo ele falar
antes de pensar. "Obviamente este é outro de seus momentos 'eu estou bem, Mulder'."

Ela chupou uma respiração trêmula e estalou debilmente, "Podemos voltar lá
atrás e ter esta discussão lá embaixo, no complexo, se você quiser. Dê a chance
para eles terminarem o trabalho enquanto estivermos lá."

Isso o calou.

A declaraçao picou, mas o relaxou também. Claro que ela nao estaria 
devolvendo sarcasmo se estivesse muito ferida.

Outra respiração trêmula, e então ela somou, "Mulder, nao sabia que
estava tão ruim, mas nós precisamos continuar. Parar só vai aumentar
as chances de sermos capturados ou até mesmo mortos. Nós ainda nao
estamos.." desta vez ela respirou muito fundo e continuou, "Fora de perigo."

Tanto literal quanto figurado, Mulder pensou. "Bem, vamos entao, parceira" ele
disse e pegando uma das maos dela, ele colocou-a sobre a bandagem improvisada
e apertou, dizendo, "Segure firme" ele se abaixou, e se apoiou perto dela, "Colo
que outro braço ao redor do meu pescoço."

Quando ela concordou, ele deslizou o braço esquerdo dele ao redor da cintura,
e a direita debaixo do braço dela, a palma larga contra as costas dela.
"Em três, certo?" ele falou.

Ao aceno dela, ele começou "Um, dois, TRÊS!" e a puxou pra cima.

O gemido dela saiu estrangulado, mordido, e ela oscilou nos braços de Mulder.
Ele sabia que se a soltasse, ela cairia no chao, e ele mordeu o labio - mas
nao sabia se estava segurando palavras de castigo por ela ter escondido isso,
ou outro xingamento.

"Você está bem?" ele preferiu perguntar, e ficou atordoado com a resposta dela.

"Com a sua ajuda, sim." foi a resposta murmurada.

"Sempre, parceira" ele falou, sincero, depois de um momento. Scully tinha
admitido que precisava da ajuda dele. Isso nao acontecia com frequencia.
Ligeiramente firme de si, ele falou de novo, com tons encorajadores. 
"Certo. Eu vou colocar meu braço ao redor da sua cintura, e vamos 
andar juntos, ok?"

"Mm-mmm."

Andar era muito dificil devido à diferença de altura entre os dois, e 
Mulder estava com medo de estar ferindo Scully. Mas já que, de jeito nenhum
ele iria deixa-la pra trás, e muito menos ficarem esperando como patos,
isso era muito necessario.

Porém, eles não tinham ido muito longe quando ela tropeção e ficou
manca, caindo pesadamente para o chao. O peso súbito quase o derrubou,
mas Mulder conseguiu sustentar a ambos. Respirando fundo, Mulder dobrou
os joelhos ligeiramente e passou o braço livre atrás dos joelhos dela.
Com outra respiração rapida para apoio, ele a ergueu nos braços.

A cabeça dela caiu um pouco, só para revelar um rosto palido, olhos fechados,
e a boca ligeiramente aberta. O braço ao redor dos ombros dele tinham 
permanecido no lugar, mas a mao dela nao agarrava mais seu pescoço, e a 
outra tinha caido longe da ferida, oscilando, mole. O lenço dele caiu
ao chao, encharcado com sangue. Inútil agora. Ele deixou o lenço ali mesmo.

Ela estava inconsciente, o que só poderia significar que ela tinha perdido
muito sangue. Ele socou o panico para o lado e com cuidado a ajustou em seus
braços.

Com o equilibrio seguro, Mulder começou a andar, o mais rapido que ousou.

Felizmente seus cálculos estavam certo. Parado a uns quinze pés ou algo assim,
depois de seguir uma curva no caminho, ele viu o carro deles, e cruzou a estrada
de terra até lá em meros segundos.

Ele precisou usar um pouco de mágica, com um joelho dobrado pra cima, e 
apoiando contra a porta do carro para apoiar o peso dela, enquanto apalpava 
as chaves e abria a porta do lado do passageiro.

Colocando-a dentro com extremo cuidado, ele percebeu, xingando, que deveria
estar colocando alguma coisa na ferida dela para conter a hemorragia, e que
provavelmente ela estava em choque.

Ele fechou a porta e correu ao redor do carro, indo para o porta mala, a chave
errando o lugar algumas vezes antes de conseguir abrir. Agarrando o equipamento
médico que Scully tinha colocado lá, ele foi para o lado do motorista.
Suas mãos tremiam tanto que ele teve problemas com a chave na porta, também.

Abrindo a porta asperamente, ele entrou, olhando para Scully enquanto enfiava
a chave na ignição, ligando o carro. Ela tinha se movido, e estava afundada
contra a porta, os braços mancos ao lado do corpo.

Alcançando o painel, ele ligou o aquecimento no máximo, e lutou contra o espaço
espasmódico, tirando a jaqueta, jogando sobre as pernas dela para dar-lhe mais
calor. Ele ligou a luz e abriu o equipamento médico sobre o colo, procurando
entre os conteúdos.

Não era muita coisa, mas tinha gaze grossa, blocos quadrados, e
fita cirúrgica.  Agarrando quatro dos blocos e a fita, 
ele fechou o equipamento e jogou tudo no banco de trás.

Virando-se para Scully, ele fez careta. Isso não ia ser muito bom, e apesar
da preocupação dele sobre o fato de que ela tinha perdido a consciencia,
ele estava grato que isso nao estaria causando mais dor, tentando localizar
a ferida e cobri-la.

Movendo a jaqueta dela aparte, ele puxou a blusa de gola alta dela para fora
da calça preta. Ambas as peças de roupa estavam molhadas com sangue, e a careta
de Mulder ficou mais grave. Ele tinha que fazer isso rapido, e leva-la para um
hospital o mais rápido possível ainda.

Rasgando um dos pacotes, ele bateu a gaze sobre a área que parecia ter mais
sangue, tentando localizar o buraco da bala. Mas assim que secou, mais sangue encheu
o local depressa.

Merda. Rasgando aberto os outros blocos, ele os segurou na mão esquerda enquanto
sondava o lado dela com a direita, murmurando, "Desculpe, Scully."

Finalmente achando o que ele pensava ser a entrada da bala, onde mais sangue
vazava, ele segurou dois blocos em cima, usando os dentes para rasgar a fita
fora do rolo. Ele colocou o ultimo bloco debaixo do lado dela,
achando que poderia haver uma saída de bala, sabendo que ele tinha que
conseguir atenção médica para ela imediatamente.

Assim que o curativo improvisado estava no lugar, ele esfregou as maos sujas
de sangue na calça jeans preta dele, e entao levantou a jaqueta dele para
cobrir a parte de cima do corpo dela, apertando com cuidado ao redor.

Com isso feito, ele se ajeitou no banco, empurrou o lixo do colo para o chao,
e ligando o motor, fez os pneus girarem ruidosamente enquanto ele virava o
carro para voltar na direção que eles tinham vindo.

Deixando as luzes desligadas por enquanto, ele dirigiu o carro o mais
rapido que ousou. Mulder manteve os olhos na estrada de terra a maior parte
do tempo, dando olhares casuais para o retrovisor, para as árvores e arbustos
que cobriam os dois lados da estrada, e para Scully.

Ela nunca se moveu, e não fez nenhum som.

~ * ~ * ~
CLOSE CALL
PARTE 2

Hospital Municipal de Washington
Hagerstown, Maryland
1:20 da manhã


Os ombros de Mulder afundaram lentamente quando as portas automáticas se fecharam,
escondendo a maca que levava Scully, levando-a mais adiante para o departamento
de cirurgia. E para longe dele.

Ela foi para a cirurgia para tratar do corte no intestino delgado dela,
causado pelo tiro que recebeu no lado esquerdo do corpo.

Depois de uma viagem de carro, apavorado, pela noite escura, e uma parada
bem selvagem dele diretamente na frente das portas da ala de emergencia
do hospital, sua parceira foi levada de seus braços e levada para a ala de trauma,
onde foi estabilizada.

Ele ouviu jargões médicos sobre o que estava acontecendo com ela
e um comentário nada otimista - antes que a enfermeira o tivesse empurrado 
para fora da sala, e ele ficou no corredor.

Apertando os punhos, ele sentiu o sangue seco - sangue de Scully, e abrindo
lentamente as mãos, ele sentiu horror ao ver as manchas. Ele sabia que o sangue
dela manchava sua roupa também, mas o tecido preto não deixava muita coisa
aparecendo.

Aparentemente alguém o notou, pois Mulder escutou passos no linóleo, e uma
voz feminina, "Senhor, tem um banheiro no fim do corredor, onde você pode
se limpar. Tenho algumas toalhas e uma camisa de uniforme para você usar."

Olhando, ele viu a enfermeira de pé, sorrindo. Ela estava oferecendo uma
camisa de hospital azul, e duas toalhas brancas.

Ele as aceitou, dando um aceno confuso, e deixou-se guiar docilmente
para o banheiro. Lá, ele conseguiu se controlar para agradecer antes
de entrar.

De pé, em frente da pia, ele foi atingido por um sentimento irracional
e sentiu-se relutante em lavar o sangue de suas mãos.

Essas manchas eram a única prova tangível de que Scully estava viva.

Tremendo, ele parou de pensar nisso e puxou a camisa que usava sobre a
cabeça, e jogou-a ao chão. Ele abriu a torneira e colocou as mãos debaixo
da água fria. Vários segundos depois, após esfregar as mãos asperamente,
ele usou o sabonete líquido da parede, empurrando a alça com força, e uma
grande quantidade desceu em sua palma.

Fazendo espuma, sua mente deu um branco enquanto ele esfregava sem parar,
até que finalmente ele percebeu que não havia sobrado sabonete, e que a 
água que gotejava de suas mãos estava limpa. Mulder jogou água sobre o
rosto, esperando ficar mais alerta.

E conseguiu. Ele precisava ligar para Skinner e para a sra. Scully.

Secando-se com toalhas de papel, ele vestiu a camisa do hospital e
pegou a descartada. Depois de pensar, ele jogou-a na lata de lixo perto da
porta.

Olhando para os dois lados do corredor deserto, ele viu um telefone na parede,
uns vinte pés longe das portas para onde Scully foi levada. Dando um último
olhar pelas portas duplas, e não vendo ninguem, ele foi na direção do
telefone.

Mulder teclou os numeros do celular de Skinner. Mesmo sabendo que precisava
falar com a sra. Scully, ele adiou isso, e, além do mais, ele tinha
que alertar seu supervisor sobre a situação.

A situação causada por suas decisões apressadas, e por isso sua parceira
tinha levado um tiro, e havia um complexo - que devia estar abandonado - para
ser investigado. Agora.

Quando a voz áspera de Skinner respondeu, Mulder falou depressa.  
"Senhor, aqui é o agente Mulder. Estou no hospital municipal de Washington,
em Hagerstown.  Agente Scully levou um tiro, senhor."

<> Alarme, preocupação.

"Ela está na cirurgia neste momento. O doutor classificou o estado dela
como crítico." Mulder respondeu, recusando-se a pensar no significado desse
diagnóstico.

Um som amortecido, como se Skinner tivesse xingado, veio pelo telefone.
Logo depois, a voz do diretor assistente falou. <>

"Recebi pistas sobre um possível local onde podia achar provas, e que
estava abandonado. Nós entramos só para descobrir que não estava tão
abandonado assim, e enquanto fugiamos de lá, Scully levou o tiro."

Ele ouviu o AD inalar profundamente, e sabendo que ia ser criticado,
ele falou antes que Skinner tivesse chance. "Senhor, você precisa levar
uma equipe pra lá agora, antes que eles limpem tudo!"

<> ele ouviu.  <>

Mulder tagarelou as instruções, descrevendo outros detalhes de quando ele
e Scully tinham entrado no complexo subterraneo.

<> uma pausa, e então o AD perguntou sobre o assunto que Mulder
estava evitando. <>

Mulder tragou o nó da garganta.  "Vai ser minha próxima ligação, senhor."

<>

Click.

Delisgando, Mulder respirou fundo e discou o número da sra. Scully. Ele 
contou os toques na cabeça, tremendo enquanto imaginava ela
sair da cama, e ouvir tais notícias. Mas quando a secretária atendeu, Mulder
se lembrou de que Scully tinha dito no dia anterior que a mãe dela estava
fora da cidade, visitando o irmão de Scully e sua família.

Xingando, ele desligou sem deixar mensagem, e deitou a cabeça sobre
o braço apoiado contra a parede. Ele ergueu o receptor, com intenção
de encontrar o numero de Bill Scully, talvez pelo banco de dados do FBI ou
pelos Pistoleiros.

Do canto do olho ele viu movimento no fim do corredor. Desligando
depressa, ele foi para a enfermeira que tinha saído do departamento
de cirurgia.

A enfermeira não sabia de uma Dana Scully, mas prometeu descobrir pra
ele, e saiu.

Mulder se apoiou na parede mais próxima, e deslizou para baixo, terminando 
sentado no chão com os cotovelos sobre os joelhos curvados, vazio e 
escoado. 

Ele não poderia dormir e nem podia, até saber que Scully ia ficar bem.

Sua mente era um branco total, exceto por uma imagem. Scully, pálida, enquanto ela
era levada pela equipe do hospital pelas portas da emergencia.

E por isso ele não ouviu a enfermeira se aproximando, e saltou quando
a voz murmurou. "Senhor?" uma pausa, e então, "Agente Mulder? Você está
bem?"

Ficando de pé, ele acenou com a cabeça, não confiando na propria voz, e ressentido
com a intrusão. Ele só queria ficar sozinho, até poder ver Scully de novo.

"Sua parceira ainda está na cirurgia, senhor. Isso é tudo que posso lhe 
informar até este momento" ela parou para ver se ele tinha mais alguma pergunta,
e quando Mulder não falou nada, ela acenou para a direção oposta da cirurgia,
e disse. "Tem uma sala de espera no fim do corredor. Está vazio - você
pode descansar um pouco lá."

Longe demis, na opinião dele.

Tremendo a cabeça, ele resmungou. "Prefiro esperar aqui. Só..." ele parou
de falar quando sentiu um aperto no estômago, e pigarreando, ele concluiu.
"Por via das dúvidas."

"Entendo, senhor," a enfermeira respondeu, e bateu de leve no braço dele.
"Posso pelo menos pegar uma cadeira para você?"

Tanto faz - ele não ligava. Mas se isso significava que ele seria
deixado sozinho, ele aceitaria a cadeira. Ao invés de responder, ele acenou
com a cabeça, e observou-a se afastando.

Ela voltou alguns minutos depois, trazendo uma cadeira acolchoada
que devia ser da recepção, e não para visitas. Colocando a cadeira perto
dele, ela lhe deu outro sorriso, e saiu.

Afundando na cadeira com um grunhido, Mulder deixou o corpo afunda, 
fechou  os olhos e bateu a cabeça contra a parede. Ele deu boas vindas
para o estalo de dor, e a palpitação estúpida que se seguiu. 

Pensando no que aconteceu, ele pensou nos fatos que os levaram até
este ponto. 

Um envelope pardo, com fotos, foi empurrado debaixo da porta de sua casa
Há dois dias. Fotos que mostravam operações em algum tipo de complexo 
subterraneo.

Um e-mail secreto e sem pistas na manhã seguinte, com coordenadas que
os Pistoleiros lhe ajudaram a decifrar.

E o telefonema naquele mesmo dia, onde a voz estava obviamente torcida
para esconder sua identidade, lhe dizendo que eles tinham que correr
antes que as informações sumissem.

Quando ele tentou obter mais detalhes, saber exatamente sobre o que se
tratava isso tudo, a voz só respondeu, 'as repostas para tudo que você procura'.
A conversa foi encerrada, não dando tempo o suficiente para rastrea-lo,
depois da ação rápida de Scully em pedir isso por telefone.

Depois de uma breve mas aquecida discussao com Scully, ele anunciou
seu plano de ir para o complexo naquela noite. Apesar da desconfiança dela
para as fontes e pistas, e seu método de entregas, ela expressou sua
intenção de acompanha-lo.

Se ela nao tivesse ido, Mulder lamentou. Se ele tivesse escondido os dados
dela, e ido sozinho.... ela não teria levado o tiro.

E ele teria enfrentado a raiva dela por ter sido deixada com alegria,
ao invés de estar aqui, sentado num hospital, esperando para saber o
que estava acontecendo. 

Ele se lembrou de que não tinha informações fazia tempo. Ele abriu os olhos
e olhou para as portas da cirurgia. Ficou desapontado quando não viu
ninguem lá, embora ele soubesse que isso poderia durar horas.

Afundando na cadeira de novo, ele fechou os olhos, e descansou a cabeça
contra a parede mais uma vez. Ele bocejou largamente, e mentalmente
se ordenou para não dormir.

De repente, ele se lembrou de ver rapidamente uma possível 'resposta'
sobre o que ele e Scully tinham visto no completo, logo antes do encontro
fatal com os soldados de lá.

Uma luz esverdeada, tímida, escapando pelas frestas de uma das muitas
portas, e a pequena janela retangular. Olhando pelo vidro opaco,
ele viu vagos esboços do que pareciam ser tanques.

Mulder pensou na mesma hora sobre os tanques que tinha visto antes - 
tanques que continham clones.

A porta estava trancada, com acesso por um teclado eletronico, e
impossível de ser aberta. Então eles foram em frente, virando no
canto do corredor, indo direto para o perigo.

E agora eles estavam aqui. De novo.

~ * ~ * ~

Parte III

Hospital Municipal de Washington
Hagerstown, Maryland,
3:55 da manhã

Um som penetrou seu subconsciente - uma voz pouco conhecida,
funda, chamando seu nome.

Ele acordou de sua soneca nervosa, tirando-o de um sonho terrivelmente
real onde ele e Scully estavam escalando freneticamente aquela mesma escada.
Só que desta vez eles estavam debaixo de tiros.

Mulder se sentou rápido, de susot e suspirando, seu coração batendo
rápido, e seu corpo frio e úmido de suor e medo, percebendo que tinha
dormido em sua vigilância, apesar de sua silenciosa declaração para não fazer
isso.

"Scully!" ele falou, e ficou de pé, indo diretamente para a área de
cirurgia.

Ele olhou ao redor e viu o homem com roupas de médico, amarrotadas, expressão
cansada, e o categorizou como médico de Scully. Tinha que ser. Não havia mais
ninguém por perto.

Mulder olhou para o semblante do médico, procurando alguma indicação do
que o homem estava a ponto de falar. Não havia nada lá, e ele sentiu
o coração bater mais rápido, nervoso.

"Agente Mulder?" o médico repetiu, estendendo a mão quando parou na frente de Mulder.
"Sou o dr. Reynolds. O cirurgião que atendeu a agente Scully."

Mulder o cumprimentou, ainda incapaz de falar, e não lendo nada no rosto do
médico.

"Sua parceira está na recuperação, neste momento, em condição estável"
o médico continuou. "Ela levou um tiro na parte mais baixa do quadrante esquerdo,
e houve uma perda de sangue significativa. Como suspeitavamos, a bala cortou
o intestino delgado dela, e foi necessário consertar o dano."

Não foi muito varonil da parte de Mulder, mas seus joelhos ficaram fracos.
Alívio surgiu, mas seguido de perto com medo. Mas não culpa. Ainda não.
"Ela está... bem, não é?" ele conseguiu falar.

"Ela vai ficar bem, agente Mulder." o médico respondeu, um pequeno sorriso
nos lábios. "Se não houver complicações, ela vai ter alta de três a quatro dias."

Mulder tentou falar novamente-a boca abriu e seus lábios se moveram, mas
nenhum som saiu. Ele sentiu seu coração se acalmando, e sua respiração estava
voltando ao normal, enquanto a verdade da condição de Scully entrava em seu
cérebro. Pigarreando, ele tentou mais uma vez. "Eu gostaria de ve-la."
ele declarou com firmeza, mas implorando com os olhos.

Talvez o desespero de Mulder estivesse irradiando ondas, pois o dr. 
Reynolds exibiu apenas uma resistência simbólica, começando a tremer a
cabeça, negativamente, antes de parar. O cirurgião deu de ombro, 
e suspirou. "Vou fazer uma anotação no prontuário dela. Depois que
a agente Scully estiver instalada no quarto dela, você vai ter dez minutos."

Começando a se virar, Dr. Reynolds parou falou. "Ela está completamente sedada,
agente Mulder, então eu duvido que ela vai acordar agora."

Isso não importava. Ele só precisava ve-la.

Acenando com a cabeça, Mulder murmurou palavras que não poderia se
lembrar mais tarde, mostrando sua gratidão. Ele viu o médico acenando com
a cabeça, e então indo embora para a área de cirurgia.

A pressa de energia que o sustentou durante a breve conversa com o cirurgião
de Scully o deixou de repente, e ele cambaleou para cair fraco numa cadeira, tonto
e quase desmaiando. Ele se curvou, cotovelos sobre os joelhos, e a cabeça 
pra baixo, respirando fundo.

Scully estava bem.

As mesmas palavras passaram por sua mente sem parar, um mantra de confiança. Se mexendo
ligeiramente, ele se abraçou, pensando nisso mais uma vez.

Ele ficou assim durante um bom tempo, completamente desavisado da passagem do
tempo. Se confortando no conhecimento de que ele seria capaz de ver Scully
em breve.

Mas ele não merecia conforto. Pelo contrário - ele merecia pesadelos, como
os que teve cochilando na cadeira...

...Scully deslizando pelos degraus e caindo além dele.

...ambos capturados pelos soldados que tinham encontrado, e levados
para um quarto onde lhes disseram que eles iriam ser preparados para
testes...

...ele mesmo sendo forçado a fugir sozinho, depois de ter perdido Scully
no labirinto de corredores, enquanto a voz dela gritava pela sua ajuda...

Outra voz masculina, esta aqui bem conhecida, chamou seu nome um pouco forte
demais, o tirando de suas lembranças, e fazendo-o ficar de pé mais uma vez.

O diretor Assistente Skinner estava vindo em sua direção, a expressão ilegível.
Ele perguntou, direto. "Como está Scully? Já soube de alguma coisa?"

Mulder acenou com a cabeça, quase dando um sorriso. "O médico dela esteve
aqui..." a voz dele sumiu quando percebeu que não sabia quanto tempo havia se
passado desde que ele vira o dr. Reynolds. "Ela está estável, e está sendo levada
para um quarto."

O AD relaxou os ombros tensos, e sua testa ficou mais lisa, sem rugas
de preocupação, mas não totalmente. "Isso é bom" ele disse e passou uma
mão no queixo, olhando para outro lugar rapidamente. Quando ele olhou para
Mulder de novo, ele parecia bravo, e transtornado, e mesmo simpatizante. "Estava
vazio, Mulder" ele declarou, sem preâmbulos.

Não havia necessidade para explicações. Mulder sabia que ele estava se referindo ao
complexo subterrâneo. Depois de ligar para Skinner, Mulder mante a mais fraca
esperança de que eles encontrariam alguma coisa lá embaixo. Algo que faria
os eventos da noite parecer mais do que um fútil exercício.

E que o tiro que Scully levou não tinha sido por nada.

'Eles' tinham limpado tudo enquanto ele levava Scully para o hospital,
e para Skinner organizar uma invasão. Algumas horas, no máximo.

Quando ele deixaria de subestima-los? Inúmeras vezes eles provaram do que
eram capazes, seus poderes, e ele ainda acreditava que poderia vence-los.

Virando para longe de Skinner, Mulder chutou a cadeira, e sentiu um
senso de satisfação quando as pernas de metal guincharam ruidosamente
ao longo do chão, e dor atingiu seu pé.

"Mulder!" Skinner alertou, a voz um sussurro severo.

Mulder ergueu uma mão para o AD, palma pra cima. Sem olhar para seu chefe,
ele reconheceu a reprimenda.

Surpreendentemente, ninguém saiu para investigar o som.

Depois de várias respirações lentas, fundas, Mulder sentiu mais controle.
Enfrentando Skinner, e vendo seu olhar simpatizante, ele falou. "Não havia
nada lá?"

"Completamente vazio, Mulder."

De repente, o cansaço e a derrota eram demais. Cambaleando, suas costas encontraram
a parede mais uma vez, e ele deslizou para o chão. Ele e o chão eram velhos amigos.

"Mulder?" seu superior o chamou, alarme e preocupação no tom da voz.

"Eu estou bem" ele disse, e bufou à ironia dessas palavras, se lembrando de
da acusação que ele disse para Scully no bosque, depois de fugirem do complexo.
Ele não estava bem, e nem Scully estava quando falava essa frase. Tremendo a
cabeça, ele emendou, "Não se preocupe. Eu vou viver."

Mas ele cambaleou, e se afastou da parede. Mulder se sentiu muito fraco 
de repente, como se suas pernas não o aguentassem.

Skinner o agarrou pelo braço, dando-lhe apoio. Seu superior estava franzindo
a testa, preocupado. "Mulder" ele disse. "Vamos dar uma volta. Respirar ar
puro."

Era uma sugestão, mas parecia uma ordem. Mulder estava tentado a recusar,
mas percebeu que isso poderia lhe fazer bem. Provavelmente ele iria
demorar mais uma hora até poder ver Scully, e enquanto isso, ele teria
ficado sozinho, sentado no corredor, se castigando.

Skinner soltou-lhe o braço quando ele acenou, e foi em frente, com Mulder
seguindo-o, lentamente. Eles esperaram pelo elevador, e ficaram quietos
até chegarem na entrada do hospital.

Lá eles ficaram de pé, ambos fitando a escuridão do lado de
fora.  Skinner rompeu o silêncio. Mulder estava surpreso por ele
ter esperado tanto tempo. "Como diabos você achou aquele lugar,
Mulder?" ele perguntou. Um olhar de lado revelou o tique do queixo
de Skinner.

Não muito chegado a seguir protocolo, ele nem se coçou para tentar
informar Skinner. Aquela decisão foi influenciada pelos atos que
o AD tinha feito de veta-los completamente. E isso seria outra pílula
amarga - Skinner estaria certo em ordenar que eles não fossem até lá.

"Fotos enfiadas debaixo da minha porta, depois de um e-mail e um telefonema,
tudo sem pistas". Mulder percebeu que tinha tensionado os ombros sem
querer, antecipando a bronca de Skinner.

Mas não aconteceu nada. O AD somente suspirou severamente, tremendo a
cabeça, olhando para longe de Mulder, as mãos nos quadris.

"O que posso dizer?" Mulder zombou, se escondendo atrás do sarcarmos
e da auto-depreciação. "Você me conhece. Sou o maria-vai-com-as-outras.
No meu caso, os e-mails e telefonemas secretos são o meu sinal, 
embora eu nunca consiga uma recompensa."

"Mulder-" Skinner começou, depois de olhar para Mulder de novo. Ele parecia
morder as proximas palavras, mas exalou pesadamente antes de tentar de novo.
"Mulder, eu sei que você pensa..."

Desta vez foi Mulder quem o parou, cuspindo "É o contrário! Eu não
penso... eu só... *faço*, e Scully sempre paga por isso!"

Outra visão flamejou em sua mente. Uma de Scully afundada no lado do passageiro,
dentro do carro, enquanto ele aplicava bandagens para o ferimento dela.

Com raiva de si mesmo, Mulder girou ao redor e espiou o escuro frio do
começo da manhã. Ele ouviu um xingamento atrás dele, e passos pesados
o seguindo. Ele foi parado de novo pelo aperto de aço no braço, e Skinner o
virou de novo.

"Nao faça isso com você mesmo!" Skinner exclamou, voz baixa, mas sonora, e
as palavras cortavam fundo. "Já passou, e você não pode mudar isso. Mas você
pode mudar o que vai fazer no futuro!" parando, ele soltou Mulder, parecendo seguro
de que ele não iria fugir.

Depois de respirar fundo, Skinner continou. "E quanto a Scully, ela
é sua parceira, e cobre seu pescoço mesmo quando ela não deveria. Mas ela
toma as próprias decisões, e trabalha nos Arquivos X tanto quanto você. Ela
sabe dos riscos, e os leva de boa vontade."

Parte dele concordou com a avaliação de Skinner sobre sua parceira, mas
Mulder ainda tinha dúvidas. Será que Scully realmente fazia suas proprias
escolhas, ou ela o seguia somente por alguma submissão extraviada ou
lealdade para com ele?

Ele tremeu a cabeça - isso não era possível. Scully merecia mais do que
isso. Ele se endireitou um pouco e disse para Skinner. "Eu sei."

Parecia que Skinner tinha algo mais a dizer, mas segurou sua lingua.
Batendo de leve no ombro de Mulder, ele disse. "Vá ver sua parceira, agente.
Tenho que voltar para DC e lidar com os eventos desta noite, ou melhor,
desta manhã. Me mantenha em dia."

"Sim, senhor," Mulder respondeu, e observou enquanto o AD saía para o estacionamento. Depois
de mais alguns minutos de solidão silenciosa, ele se virou e entrou. Para ver
Scully.

Quando ele alcançou o andar cirúrgico, uma das enfermeiras com quem ele
conversou mais cedo lhe disse que Scully tinha sido levada para o quarto.

~ * ~ * ~

Epílogo
Hospital
Quarto de Scully
5:45 da manhã

Mulder bateu suavemente na porta com as juntas dos dedos e abriu com
cuidado, cutucando a cabeça para olhar ao redor. O resto do corpo seguiu
dentro, até que ele estava de pé, os olhos se ajustando à luz fraca.

Ele podia ver o rosto pálido de Scully - seus olhos estavam fechados,
e ela parecia estar dormindo. Um monitor cardíaco estava ao lado dela, na cama
de hospital, e se não fosse por isso, o quarto estaria quieto, e só a luz
vermelha no indicador esquerdo dela brilhava, pulsando.

Apesar de não querer acorda-la, sua necessidade para confirmar se ela
estava realmente bem era mais forte. Então, ele foi adiante, até estar
perto da cama. Erguendo uma mão, ele tocou o pulso dela.

Ela suspirou, virando a cabeça para ele.

Mulder viu as palpebras tremulando, viu a garganta trabalhando enquanto ela
engolia, e ele enrijeceu em antecipação. Um momento depois, os lábios dela
se separaram, e ela suspirou de novo antes de soltar um som sussurrado.
"Mulder?"

Ele sorriu enquanto seu coração corria mais rápido. Se apoiando na grade da cama,
de forma que seu nariz estava a polegadas do dela, e pouco ligando para
o proprio conforto, ele respondeu um gentil "Eu estou aqui, Scully."

As palpebras dela tremularam mais algumas vezes, a lingua saiu para alisar
os labios rachados, e então ele estava finalmente olhando para o bonito
azul dos olhos dela, que estavam meio fora de foco devido às drogas que ela
deveria estar tomando, mas isso não importava. Ela estava viva, e acordada.

"Ei," ele disse, ainda usando a voz suave. De alguma maneira a mão dele
tinha se movido, e agora estava sobre a cabeça dela, acariciando seu rosto.
"Só durma, Scully" ele falou. "Durma."

"Mmmmm," foi a resposta dela, os olhos se fechando.

E eles permaneceram fechados por longos momentos, a respiração dela lenta
e profunda. Cessando a carícia na bochecha dela, ele estava para pegar
uma cadeira quando ela murmurou seu nome de novo.

"Eu ainda estou aqui, Scully," ele disse.  Ficando mais corajoso, ele deixou 
os dedos pentearem as mechas do cabelo sobre o travesseiro. "E eu não vou
a lugar nenhum."

Era um fato.  Embora a nota do médico sobre uma visita de dez minutos,
ele iria ficar ali mesmo. Eles teriam que tira-lo dali fisicamente, e não 
seria fácil.

Os lábios dela se curvaram num sorriso enquanto seus olhos se abriam mais
uma vez. Depois de engolir com óbvia dificuldade, e lambendo os lábios
de novo, ela falou. "Você... está bem?"

Piscando em surpresa, ele parou a mão sobre o cabelo dela enquanto olhava
pra ela, surpreso. "Eu? Mas..." a voz dele sumiu. Ela moveu a cabeça ligeiramente,
como se em súplica para ele continuar, e a esse gesto, ele continuou sua difícil
tarefa. Pigarreando, ele falou de novo. "Eu estou bem, Scully. Foi você que..."

'Levou um tiro', a mente dele terminou a frase que não conseguia falar em voz
alta. Ele apertou os dentes enquanto outro pensamento passava por sua mente
cansada. 'Levou um tiro por minha causa, e da minha tola busca, e meu comportamento
impulsivo.'

E Scully sabia exatamente o que ele estava pensando.

"Não" ela sussurrou severamente, e lutou para erguer a cabeça, os olhos
meio sem foco luzindo pra ele. O monitor cardíaco soltou uma nota discordante,
e começou a tocar o alarme. "Não se culpe... pelo que aconteceu!" ela continou,
e então afundou de volta no travesseiro, respirando pesadamente, as narinas
se movendo. O braço que não estava preso à IV bateu debilmente no ar, tentando
localiza-lo.

Ela parecia mais pálida também, e Mulder ficou preocupado. Olhando para
o monitor, ele pegou a mão dela e apertou-lhe os dedos ligeiramente. "Scully... ei,
ei, calma!" ele falou, a outra mão, tremendo, acariciando a bochecha e testa dela.

O barulho da porta o fez ficar mais ereto, se sentindo culpado, e ele virou a
para ver a enfermeira que esteve no quarto de Scully não fazia muito tempo, e ela
estava com um olhar preocupado.  Ela foi para o monitor e apertou vários botões,
silenciando o alarme, e então foi para a cama, colocando a prancheta perto dos pés
de Scully. Quando ela olhou pra ele, Mulder saiu do caminho, soltando a mão de 
Scully com relutância.

"Senhorita Scully?  Você está sentindo dor?" ela perguntou, as mãos ocupadas, erguendo
a roupa de cama, aparentemente conferindo o local da cirurgia.

Mulder virou a cabeça para dar à Scully um pouco de privacidade, ainda capaz de
pegar a resposta sussurrada de sua parceira.

"Eu estou be---" ela começou a dizer, e Mulder fez careta em reação
a estas malditas palavras. Mas ele enrijeceu quando ela chupou uma respiração,
assobiando, provavelmente devido a alguma coisa que a enfermeira tinha
feito no local do ferimento dela, e ele olhou para o rosto dela.
"Doeu um pouco" Scully murmurou, olhando pra ele rapidamente antes
de olhar para o outro lado.

Erguendo o braço dela, a enfermeira viu a hora no relógio, e então disse
"Sua próxima dose de remédio está perto. Vou conferir sua intravenosa, 
seus sinais vitais e então vou pegar sua morfina, ok?"

Mulder observou enquanto a enfermeira fazia seu trabalho, tocando e manipulando
os dedos de Scully suavemente, depois conferiu o tubo da IV, antes de conferir o
saco. Pegando a prancheta, ela fez uma anotação, e então leu o monitor cardíaco,
anotando tudo.

"Eu volto logo, Srta. Scully" ela falou enquanto colocava a prancheta debaixo do
braço, e saía do quarto.

Mulder retomou seu posto ao lado da cama, apoiando os cotovelos na grade da cama.
Ele observou Scully em silêncio, pois ela parecia ter dormido de novo. Linhas
de tensão apareciam na boca dela, e ela estava carranqueando ligeiramente, e ele
desejou que a enfermeira corresse logo com aquela morfina.

Desta vez, quando a porta abriu, Scully acordou com um suspiro, gemendo, e ele
olhou da sua parceira para a enfermeira, carranqueando.

A enfermeira murmurou "Desculpe te-la assustado, srta. Scully" e injetou uma
dose de morfina na IV, checando mais uma vez, antes de sair.

Sabendo que a enfermeira não voltaria tão cedo, Mulder pegou uma cadeira
e a colocou perto da cama. Sentando, ele abaixou a grade para poder encara-la,
e pegou a mão dela sem obstrução, e com conforto. Seu polegar começou
a acariciar as juntas.

Os olhos de Scully tremularam alguns vezes em piscadelas lentas, preguiçosas, 
mas ela permaneceu acordada, meio grogue, lutando claramente contra os efeitos
da morfina. Se mexendo para virar o corpo dela para ele, um pouco, fazendo uma
careta no processo, ela ainda conseguiu fixar um olhar sonolento. "Você não é culpado
por isso, Mulder."

As palavras dela não tiveram menos efeito mesmo sendo ditas por um rouco
sussurro.

Ele não concordou, mas não iria discutir com ela. Principalmente por ela
estar deitada, drogada, numa cama de hospital. Ele se sentia culpado,
quer ela quisesse ou não. E ele sabia que se não tivesse teimado em 
correr para investigar aquela unidade, ela não teria levado um tiro.

"Scully, não precisamos falar sobre isso agora" ele disse, mantendo a voz
baixa e suave. Calmante. "Você precisa descansar."

Ela tremeu a cabeça, obstinada. Fechando os olhos e abrindo-os de novo,
pela metade, ela falou. "Mulder... eu escolhi ir com você..." ela inspirou
e engoliu antes de continuar. "Por que..." os olhos se fecharam, e permaneceram 
fechados, a morfina finalmente fazendo efeito. Uma respiração fraca. 
"Nossa viagem. Nossa procura."

Mulder sorriu um pouco, sentindo o peso em sua alma ser aliviado. Ele sabia que
não tinha imaginado Scully dar ênfase à palavra 'nossa.'

Nossa viagem.  Nossa procura.

FIM

Avaliação para lovesfox@rogers.com
Traduzida em 02 de maio de 2003.

    Source: geocities.com/br/excerphiles

               ( geocities.com/br)