BAURU
Lupicínio notou a fúria nos olhos de Orozimbo quando o mandou tomar no cú. O desgraçado bufava de raiva e indignação, suas mãos tremiam. Fora do seu gabinete já havia um burburinho. Os funcionários espiavam, medrosos, através do vidro com marcas de mãos gordurosas. Lupicínio jogou o casaco do terno por cima do ombro esquerdo e segurou-o com o dedo ossudo e comprido enquanto percorria, sorridente, os corredores. Olhou para a morena de seios generosos com quem o maldito chefe tinha um caso e cogitou chamá-la de puta. Desceu as escadas de mármore e estava na Avenida Ipiranga. Pegou um ônibus qualquer; todos, naquele momento, eram adequados.
Chegou em casa e ligou para uma
tele-entrega. Pediu um bauru com ovo e queijo duplo, e devorou-o enquanto
contemplava as luzes de Porto Alegre. Não tinha nada para beber, e aquele
foi o melhor bauru de sua vida.
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João Carlos Dalmagro Júnior.