O INSETO

A porta estava aberta, e da sala Alfredo podia vê-la caminhando na grama ainda molhada. Tinha o passo firme, apesar de evitar as poças d’água. Ela não ia alegre nem triste, ia com seu casaco azul. Olhava para a casa e para o chão, alternadamente. Secou seus tênis no capacho e entrou. A fumaça dava-lhe um aspecto sombrio.

Alfredo demonstrava tristeza; Janaína, cansaço. Os dois se cumprimentaram com um leve toque de lábios e  subiram as escadas de mãos dadas, apesar do dia magnífico convidá-los para um passeio pelo campo. Alfredo caminhava à sua frente. Foi ele quem disse para passarem à biblioteca. Ela hesitou por instantes e seguiu-o. Alfredo sentou em sua poltrona de couro e acendeu outro cigarro. Janaína abriu a janela. O único barulho era o dos dedos do homem, tamborilando sobre a mesa de mogno. Ela tirou um livro da estante e abriu-o na página cento e trinta e dois. Era o final de um capítulo e tinha, como última frase, “Ele disse que ela o traíra”. Alfredo sorriu e dissimulou maiores intenções mexendo nas gavetas. Ela não o retribuiu. Aproximou-se da luz e ficou olhando para a janela. Havia um inseto morto e despedaçado. Suas minúsculas patas estavam separadas do resto do corpo. Os alegres pássaros o mataram.

 

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João Carlos Dalmagro Júnior.