GAITA SAFADA NA CIDADE BAIXA

 Para Alexandre Gaspodini

 “...Pessoas mesmo são os loucos, os que estão loucos para viver, loucos para falar, loucos para serem salvos, que querem tudo ao mesmo tempo, aqueles que nunca bocejam e jamais dizem coisas comuns mas queimam, queimam, queimam como fabulosos fogos de artifício explodindo como constelações em cujo centro fervilhante – pop – pode-se ver um brilho azul e intenso...”

 Jack Kerouac. On the Road

  

Lá vem a gaita safada envolta em dedos suados

Descendo a Cidade Baixa

Ébrios, convalescendo de prazer

Regozijando-se com cada nota

Expurgando sua dor muda através das pequenas frestas de seu instrumento

 

Lá vem o velho malandro e sua gaita

Leitor crente de Bukowski, com seu beck no bolso e seu coração gigante

Ele senta num bar e todos sabem que ele quer uma cerveja

Os olhos espremidos quando puxa o fôlego

Gozo, orgasmo, espasmo

 

O grande Gaspo vomita um velho e agressivo Blues

A espinha se arrepia, cérebro absorto em uma egotrip

Ele quer mais um biledau, quer sorver mais um gole daquele líquido amargo, mais um boquete da puta barata

Bate o pé, acompanhando o ritmo

Velho negro catador de algodão

Velho Gaspo catador de experiências

Sentado num bar ou atirado em uma sarjeta

Sempre

   

Georgia on my mind 

 

Completamente esgotado

Não há mais líqüido para ser expelido de seu corpo

Ele seca o suor com o braço

Guarda a harmônica no bolso roto de sua velha calça jeans

E, pronto para outra viagem,

Sorve o último gole de cerveja

Traga a ponta de seu companheiro

Dobra uma ou duas esquinas e cai na cama, desfalecido de êxtase

Ali jaz, por uma noite, o velho e sua gaita safada

Ali, em algum ponto da Cidade Baixa, na velha e poeirenta parte de Porto Alegre.

   

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João Carlos Dalmagro Júnior.