Pensar em avaliação é pensar, indiretamente, em um ato de julgamento
de valores, de examinação de resultados e ou comportamentos. Diante
dessa perspectiva, na tentativa de aguçar ainda mais os interesses
de um público diversificado, porém com um alvo em comum, que são o
professor e a educação, respectivamente, este artigo vem tratar da
avaliação educacional, buscando conceitos de teóricos que validem,
concordem ou descordem em suas idéias. Trata-se de um estudo
essencialmente teórico e que pode apresentar idéias divergentes
quanto ao aspecto avaliativo.
Embora se fale em meios
menos opressivos de avaliação educacional, é aceitavelmente
compreensivo que a expressão avaliar ainda cause pânico em alguns
alunos diante de certas situações. Talvez não se trate do medo de
ser avaliado, mas sim, pelo caráter autoritário e segregador que a
avaliação propicia aos que a aplicam.
Para o professor, que também
foi aluno um dia, avaliar é um ato contínuo e diário. É algo que o
ser humano faz até mesmo involuntariamente e, claro, a escola o faz
com seus propósitos. Mas até que ponto avaliamos coerentemente
nossos alunos? E o que seria coerência em um processo de avaliação?
Que avaliação estamos buscando construir enquanto docentes?
Antunes acredita que
Nos tempos de
agora, não mais por essas idéias mas pela intervenção crescente do
Estado que, preocupado essencialmente com os custos materiais de
reprovações, cria sistemas “automáticos” de aprovação, que minimizam
e mascaram o sentido de uma avaliação verdadeira (ANTUNES, 2002, p.
14).
Talvez as preocupações do Sistema governamental com os gastos na
educação estejam induzindo a escola a utilizar meios avaliativos
que possam contribuir para deixar claro que de todo o conteúdo
apresentado aos discentes houve proveito o suficiente para levá-los
à aprovação, daí então a busca pelo aprimoramento do processo
avaliativo e as discussões que se têm levantando em torno dele nos
últimos tempos. Evidentemente, se os tempos mudam a clientela também
difere, e isso é fator provocador de mudanças ou adaptações no
Sistema Educacional para a criação de sistemas “automáticos”, aos
quais se refere Antunes.
Existem várias formas de se
conceituar avaliação, vai sempre depender da situação ou do objeto a
ser avaliado. Na educação, por exemplo, a concepção de avaliação
para alguns, inclusive pais e alunos, é formulada a partir do que
ocorre nas práticas diárias, conceitos, aprovação, reprovação, notas
e recuperação (ROMÃO, 1998).
Há quem diga que avaliar é
julgar ou apreciar determinada situação, Haydt confirma essa idéia
comentando que
Avaliar é julgar ou fazer apreciação de alguém ou alguma coisa,
tendo como base uma escala de valores [ou] interpretar dados
quantitativos e qualitativos para obter um parecer ou julgamento de
valor, tendo por base padrões ou critérios (HAYDT, apud ROMÃO, 1998,
p. 56).
Entendo a avaliação, ou o ato de avaliar, como uma forma de
comparar e analisar o resultado alcançado com o resultado que se
pretendia alcançar, mas o tempo sempre traz inovações a fim de que o
Sistema Educacional seja cada vez mais satisfatório e completo e,
sendo o processo avaliativo parte permanente desse Sistema, inová-lo
e adaptá-lo à realidade contemporânea significa cooperar para os
ajustes e melhoras no Sistema Educacional. Para tanto, é necessário
romper elos com métodos tradicionais e místicos de avaliação, que
ainda são preponderantes em nossos dias, porém sem fugir da real
função que tem a avaliação, que, quer queira quer não, ao seu final
o processo avaliativo vem sempre acoplado à avaliação
classificatória, e por conta disso “a avaliação deve sempre se
referenciar em padrões (científicos ou culturais) socialmente
aceitáveis e desejáveis, portanto, ‘consagrados universalmente’”
(ROMÃO, 1998, p. 63).
Mas é bom que professores,
alunos, pais e escolas se convençam de que “a avaliação é sempre
muito mais do que uma medida. É uma representação […] do valor
escolar ou intelectual de outro indivíduo” (PERRENOUD, 1999, p. 57).
A concepção existente de
avaliação diz respeito a uma ação reflexiva diária que pode
acontecer desde a observação informal de um aluno, levando em
consideração seus atos, sua fala, o conhecimento de sua vida
extra-escolar, até uma observação intencional, a qual possibilita ao
professor classificar/medir o nível de avanço do conhecimento de seu
aluno. Para Belloni et. al. “avaliar é uma ação corriqueira e
espontânea realizada por qualquer indivíduo acerca de qualquer
atividade humana; é, assim, um instrumento fundamental para
conhecer, compreender, aperfeiçoar e orientar as ações de indivíduos
ou grupos“ (BELLONI et. al., 2001, p. 14).
A avaliação educacional tem
se desenvolvido ampla e sistematicamente, o que traz grande
colaboração para a evolução do processo ensino-aprendizagem, bem
como contribui para a organização da escola nos meios formais e não
formais de ensino (BELLONI, 2001).
Hoffmann vê a avaliação como
[…] uma das mediações pela qual se encorajaria a reorganização do
saber. Ação, movimento, provocação, na tentativa de reciprocidade
intelectual entre os elementos da ação educativa. Professor e aluno
buscando coordenar seus pontos de vista, trocando idéias,
reorganizando-as (HOFFMANN, apud BELLONI, 2001, p. 19).
Pelo
ponto de vista de Hoffmann a avaliação é intermediária entre o saber
adquirido e o saber a adquirir, organizando os conhecimentos e dando
um retorno a quem avalia e a quem é avaliado.
Enriquecendo a fala de
Hoffmann, acrescento Paro, cuja teoria é de que “[…] a avaliação se
faz continuamente, alimentando permanentemente as decisões e ações
orientadas para a correção dos rumos e superação dos problemas
detectados” (PARO, 2003, p. 35). Nessa perspectiva, acredito que a
avaliação, se realizada coerentemente, ou seja, dentro das
necessidades para que se faz, só pode vir a acrescentar no processo
ensino-aprendizagem. Para tanto, sempre dependerá do idealizador da
ação: o professor.
Do conceito de
avaliação escolar podem surgir muitas ramificações e uma delas é
usar a avaliação para se ter o domínio da situação em sala de aula.
Por essa perspectiva, o sentido de avaliar prevalece a serviço do
conservadorismo social, que visa tão somente conservar e reproduzir
uma sociedade já alavancada com seus princípios. Talvez a escola,
com sua didática, seja um dos responsáveis pelo entendimento,
adquirido através da história, que a sociedade tem do ato de
avaliar, o que explica a forma como muitos docentes utilizam a
avaliação. É importante lembrar que
[…] a assunção do educando como sujeito deve conduzir às
considerações de que os métodos avaliativos não podem violar essa
condição sob pena de tomar o aluno apenas como objeto, o que
compromete irremediavelmente a realização do produto pretendido.
Esta simples constatação deveria desencorajar métodos avaliativos
com ameaças, punições e castigos […] comprometem a constituição do
sujeito que é precisamente o objetivo que a avaliação deveria cuidar
de favorecer (PARO, 2003, p. 37).
O
professor jamais pode se esquecer de que o aluno não é um objeto ou
um produto e sim um ser em formação, que traz em sua história algum
conhecimento na bagagem e está na escola para aprimorar e dividir o
que trouxe, bem como acrescentar e somar novidades que virão,
fazendo acontecer a reciprocidade esperada pelo docente.
Ao assumir e esperar do
aluno uma troca, o professor foge de ser rotulado como autoritário,
mas repito, é necessário que se faça uma avaliação coerente às
necessidades de ambas as partes, como afirmam Silva et. al. “[…]
deve haver uma coerência entre ensinar, aprender, avaliar […]”
(SILVA et. al., 2004, p. 96).
A atitude descrita por
Luckesi desvia o real sentido da avaliação e coloca sob suspeita a
competência dos docentes que precisam usar desse subterfúgio para
ter o domínio de uma classe e preservar a postura autoritária que
pode fazer bem para o seu ego. Mas a verdade é que para um processo
justo de avaliação o autoritarismo traz muitas perdas, já que pode
influenciar na tomada de decisão do docente diante do juízo de
valor, ou seja, do conceito qualitativo sobre o sujeito ou objeto
avaliado. Eis aí um ponto forte e favorável ao autoritarismo
docente: a tomada de decisão. Esse direito, se posso assim dizer,
delega ao professor o poder de fazer ou desfazer, de dar ou retirar
valores atribuídos, sejam eles qualitativos ou quantitativos. Daí,
oportuniza-se ao professor uma avaliação classificatória e não
diagnóstica.
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