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 DILEMAS ÉTICOS  

Reflexões sobre a ética e a  decisão

Genecy Lemos Soares Louzada

Tomar decisões faz parte da vida do indivíduo; é conseqüência da sua capacidade mental e de seu livre arbítrio. Seja assunto simples e rotineiro, seja assunto mais complexo e esporádico, a vida demanda escolhas cotidianamente. Homens e mulheres, jovens e velhos, pobres e ricos, calmos e agitados, empregados e patrões, professores e alunos, sãos e doentes, todos precisam fazer opções em sua vida, embora cada um apresente maneira diferente de agir. Maneira essa, que por sua vez, demonstra a sua postura ética, embora haja autores que definam moral para o agir individual e ética para o social. Fato é que as diferenças individuais tornam-se também uma das razões para que alguns assumam com mais expressividade suas escolhas e outros permitam que alguém o faça em seu lugar. Estes, abdicam do seu direito e da sua liberdade, mas não estão livres da decisão visto que quando alguém foge do direito de decidir está decidindo não decidir, mesmo que essa atitude venha acompanhada de justificativas das mais diversas e plausíveis. Em suma, a ética “representa a luta do homem pela liberdade, o que implica escolha de ação” (HERMANN, 2001,p.19). A história seguinte pode ilustrar tal afirmação:

 

É noite. Um homem está em um barco, navegando lentamente à deriva para uma cascata. Este homem, estando bem acordado em seu barco, não pode escapar de tomar uma decisão. É verdade que todas as suas opções podem no final resultar inúteis. Ele pode começar a remar doidamente e ainda assim ser levado pela corrente, por sobre a borda para a destruição. Pode não fazer absolutamente nada e a corrente pode prender o barco contra uma rocha, e conservá-lo  em segurança até o amanhecer. Mas este homem não sabe qual é a decisão adequada, e ele percebe que não fazer nada também é uma decisão.[...] Ele está dentro do barco, e tudo o que faz ou deixa de fazer o compromete. (FORELL, 1983)

 

Quando Forell relatou esse fato, ele o fez para justificar sua premissa de que decidir é inerente à vida. Pouco depois ele ressalta que em outras eras a necessidade de decidir em relação a leis não se mostrava tão acentuada. As leis morais dos vários povos conquanto diferissem entre si, na maioria das vezes, eram consideradas válidas e as pessoas seguiam o que já estava estabelecido. O comportamento humano experimentava um estágio de imediatismo ou de tradicionalismo. No imediatismo a obediência às leis morais era natural e no tradicionalismo, acontecia por hábito. Todos agiam da mesma maneira, por tradição e pouco se perguntava porque agiam como agiam. As pessoas tinham a certeza de que as leis morais de sua sociedade estavam corretas, o que não as impediam de tomar decisões. Decidiam quase sempre segundo tais leis. Era o estágio chamado de pré-ético.

 Se o estágio pré-ético do comportamento humano está calcado na decisão sem contestação quando se passa a interpretar as leis e normas de conduta vigente na sociedade, avançou-se para o estágio da ética como “[...] busca de uma compreensão racional dos princípios que orientam o agir humano” (HERMANN, 2001, p.15). Agir que é diferente de pessoa para pessoa num mesmo grupo social e, de grupo para grupo. Daí ser possível encontrar outras éticas em nossa sociedade conforme descreve Forell (1983).

 Na era da pós-modernidade expandiu-se a incerteza acerca dos valores e, com ela, o relativismo. Tudo é relativo, nada é absoluto e tudo depende das circunstâncias, do ponto de vista, da circunstância ou da necessidade. Devido à democratização da informação e à globalização, são poucas as culturas que ainda possuem um código fechado do que seja certo ou errado.Esse relativismo tem provocado dilemas éticos no momento da decisão, pois além de indagar em como agir com ética, torna-se necessário também perguntar: como decidir com ética?

 Mesmo as pessoas maduras defrontam-se com alternativas não imagináveis para as sociedades anteriores. É possível encontrar situações para as quais as opções não sejam antagônicas, não se enquadrem no certo ou errado, no bom ou ruim, no natural e no artificial. Para o atual estágio do comportamento humano apresentam-se ocasiões quando nenhuma possível decisão seja claramente boa ou má. Haja vista outro episódio contado por Forell (1983, p. 194) sobre o dilema vivido por um oficial americano durante a segunda guerra mundial. Tal oficial e seu exército estavam fugindo dos nazistas e um de seus soldados foi ferido, não podendo mais caminhar. O exército não podia parar sob pena de serem mortos pelos inimigos. O companheiro teria que ser deixado para trás. O dilema ético não era se deveria deixá-lo ou levá-lo, nem se matar seria certo ou errado. Mas se a melhor decisão seria deixá-lo morto ou vivo? Ou seja, não era agir, mas decidir. Se o deixassem vivo, ele seria encontrado e torturado até delatar os companheiros. Poderia  descrever, inclusive, os planos do exército. Isso seria pôr em risco a vida de todos. O melhor então seria matá-lo de vez, porém matá-lo também não era correto, já que a ética da guerra é matar inimigos e não companheiros. Não tinham certeza de qual a melhor decisão, resolveram então, escondê-lo no meio de arbustos e contarem com a sorte dele não ser descoberto. A alternativa deu certo e só então, concluíram que fizeram a melhor escolha. A pergunta é: ”Teria sido um procedimento correto se não tivesse funcionado e levado à execução de centenas de homens e suas famílias?” (FORELL, 1983,p. 195).

 Se viver é decidir, como enfrentar os dilemas éticos do dia-a-dia? Onde encontrar a ética da decisão? ”Existem pessoas que “procuram uma regra para cada ato da vida. Outras pessoas dizem que não devemos nos preocupar com regras, mas sim com princípios” (SMITH,1987, p.50). Seguindo o raciocínio de Smith, podemos pensar na origem do pagamento mensal do salário. Como acordo entre patrão e empregado, o salário é uma troca que ambos fazem entre si, não é presente e nem uma atitude de caridade. Seu pagamento mensal visa manter uma regularidade para que a pessoa possa se organizar. O que fazer então, quando o patrão descobre que o dinheiro não é suficiente para pagar a todos? Ele pode aguardar a entrada total dos recursos e pagar a todos de uma só vez. Pode escalonar a folha de pagamento e fazer o revezamento em cada mês. Pode ainda pagar aos que ganham menos primeiro e tantas outras alternativas. Os argumentos contra e a favor de cada uma dessas opções poderia passar pela idéia de justiça, de igualdade de direitos, de solidariedade, de humanidade, de competência gerencial etc. Mas o princípio original para o pagamento mensal não é o da justiça ou da igualdade de direitos ou, de qualquer um desses embora todos essas idéias sejam válidas. O princípio original do pagamento mensal é o da regularidade. É preciso ser coerente com ele e este é o dilema: existiria uma opção com maior coerência? Existiria uma opção que não fosse tão ruim? Está colocado aí um dilema ético.

 Tomemos outro exemplo: o princípio básico da avaliação é perceber como foi a aprendizagem do aluno. Então, o professor pede uma atividade para avaliar o conteúdo estudado e um dos alunos não entrega na data prevista. O professor agora enfrenta um dilema ético: deve ou não prorrogar este prazo para tal aluno? Seria justo para quem entregou no tempo certo? Seria justo deixar de avaliar a aprendizagem desse aluno? Deve diminuir o valor do trabalho? Qual é o princípio maior da avaliação? Qual é o seu significado original? Fazer justiça, atribuir nota ou verificar se houve aprendizagem? O professor não pode deixar de decidir e qual a ética que deve adotar? Como ser coerente? Este é um dilema ético bem provável de ser real em nossos dias e, que nos faz pensar que em alguns momentos o maior dilema não é como agir, mas como decidir!

 REFERÊNCIAS

 FORELL, George W. Ética da decisão. Trad. de MULLER Walter. São Leopoldo: Sinodal, 1983.

HERMANN, Nadja.Pluralidade e ética na educação.Rio de Janeiro:D P & A, 2001.

SMITH, Ebbie. Equivalênca dinâmica Aplicada à Ética. In: Revista Teológica. Ano III,n.5. Rio de Janeiro: STBSB, jun 1987.


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