

Foi uma
jornada tipicamente brasileira.
- Você
sabe onde está indo, Saccomani? - Perguntou o sujeito sentado no bando da
direita.
- Sei sim,
João.
Quando
João Augusto de Macedo Soares, 39 anos, Vice-presidente da gravadora EMI-Odeon,
seu filho Rafael, 16, e o produtor independente Arnaldo Saccomani enfim
chegaram, a Boate Lua Nua estava quase vazia. eram 10:30h da noite meio fria de
7 de abril de 1995.
enquanto
ali em cima João Augusto aguardava, lá em baixo a Boate já estava lotada,
todos os cantos tomados por uma moçada de jeans e camiseta, no maior
clima de final de campeonato.
Mesmo
estando a poucos minutos de Dinho, Bento, Sérgio, Samuel e Júlio se
apresentarem no show mais importante de suas vidas, eles que se espremiam entre
a mesa, o banco e o espelho rachado não emitiam o menor sinal de nervosismo.
Era um jogo decisivo - mas era em casa, com a torcida e o campo esburacado a
favor. com outro nome, outro figurino e outro repertório, diferente do Utopia,
eles já haviam vencido muitas paradas no Lua Nua.
No instante
em que cinco Chapolins Colorados saltaram no palco, loucos furiosos, anteninhas
balouçantes e tudo, e detonaram um rock ensandecido que levantou a massa - era Cabeça
de Bagre II -, João Augusto ouviu o som que estava aguardando não há
três horas, mas há quase um mês. E ao vivo era ainda melhor do que imaginava.

Quando o
Chapolim-cantor colocou um enorme bigode postiço e os Chapolins-instrumentistas
detonaram um fado turbinado, cuja a letra a platéia amestrada sabia de cor, a
casa quase veio abaixo. João Augusto só não parou o show naquela hora para
apertar a mão dos rapazes porque seria linchado pela massa - e porque também
queria mais. A letra era verdadeiramente inacreditável:
Roda,
roda e vira, solta a roda e vem
Neste
raio de suruba, já me passaram a mão na bunda
e ainda
não comi ninguém...
Um
redemoinho varreu o Lua Nua.
Quando o
band-leader aposentou os trajes de Chapolim e o disfarce de português para
vestir-se de boneca cibernética, o circo pegou fogo. Com um microfone sem fio
especialmente alugado para a ocasião, a Gretchen replicante iniciou sua
glamurosa gornada noite adentro, do palco até o mezanino, passando a mão
em toda e qualquer bunda ao alcance. Foi em direção àquele ser humano
fantástico com poderes titânicos que voara do Rio até Guarulhos apenas para
vê-lo. Então, o Robocop Gay esticou-se todo e alisou o moreno simpático, por
quem se apaixonou. Foi correspondido.
Terminado o
show very porreta, o vice-presidente se ergueu do tamborete e sugeriu: "
vamos conversar lá fora"
João
Augusto, Saccomani e Rick Bonadio foram para o café ao lado do Lua Nua.
Aguardaram por um tempo até que os cinco Chapolins suados chegassem, depois dos
cumprimentos efusivos dos amigos, dos parentes, dos garçons, dos seguranças -
de toda e qualquer alma que tivesse visto o show.
Depois de
tudo acertado, no Lua Nua, a garrafa de ballantines 12 anos - comprada para
quebrar o gelo do execltivo - foi aberta. E os Mamonas Assassinas, em geral
abstêmios, tomaram um dos raros porres de suas vidas.
estavam
festejando o fim do utopia, e o início da realidade.

VOLTAR