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Vida dos Descendentes |
O capítulo VI, do nosso futuro livro desenvolve a vida dos descendentes da família Durlo de Jaguari, principalmente das 1ª e 2ª gerações nascidas no Brasil, ou seja, do início do século XX ao final da década de 1960. Torna-se difícil publicarmos pequeno texto um conteúdo de aproximadamente 40 páginas. Por isso, tentaremos colocar alguns aspectos importantes, de forma resumida, os principais aspectos da vida de nossos imigrantes, familiares Durlo de Jaguari.
1. Arquitetura A típica construção dos imigrantes italianos constava de três pisos bem distintos com finalidade específica: 1.1 Subterrâneo, subtérreo popularmente denominado de porão, geralmente aproveitando o declive do relevo, construído de paredes de pedra e piso de chão batido. Um local com temperaturas naturalmente mais baixas, destinado a guarda de bebidas como o vinho, cachaça, graspa, vinagre, sucos e outros. O porão ainda conservava alimentos como o salame, ossocolo, figadei, cudigüim, costelinhas de porco, toucinho, leite, queijo, nata, peixe seco, ovos, carne de gado seca, geléias, chimier, melado e mel...e outros produtos. 1.2 Térreo piso geralmente construído de madeira, também podia ser de alvenaria, destinada a moradia da família, composta de muitos dormitórios em função do elevado número de filhos, geralmente de 4 a 6 quartos, uma sala grande no centro, onde a família se encontrava para rezar o terço todas as noites. A sala tinha capacidade de acolher várias famílias vizinhas ao mesmo tempo, para as rezas noturnas, quando da visita de Santa, Santo ou Nossa Senhora, que circulavam nas famílias e receber visitas. A sala além de suas funções sociais já citadas, se constituía no local onde as filhas da família namoravam. Dois ou três casais de namorados usavam a sala ao mesmo tempo, aos sábados à noite e aos domingos de tarde até certa hora da noite.
Os quartos além de servirem para dormitórios, possuíam ainda a
finalidade de ser usado como local do hábito do banho semanal. Diariamente se
costumava lavar as partes visíveis como pernas e os pés, os braços e as
mãos, o pescoço e o rosto. O banho completo ficava para sábado à tarde
(banho semanal). Era para ficar limpo e cheiroso para o fim de semana que
começava no sábado à tardinha.
1.3
A cozinha geralmente uma casa menor e separada da principal. Mais tarde
se localizava num canto da casa, peça bem ampla onde sedestacavam duas grandes mesas
destinadas às refeições, geralmente usadas uma e as duas quando havia
visitas, os namorados e dias de trabalho, quando havia mutirão com a
presença dos vizinhos para servir o almoço.
Existiam ainda, os galpões destinados a guarda de ferramentas, equipamentos de trabalho, carreta, gêneros agrícolas ainda não beneficiado, recém colhidos da lavoura, como milho, trigo, arroz, feijão, cana, mandioca, palha de trigo, de milho, de arroz, pendão de milho para ser usado como alimento aos animais durante o inverno. A mangueira destinada aos animais de leite, o chiqueiro para a criação e engorda de porco e de galinha.
As
casas de nossos ascendentes Durlo
A casa do avô Giuseppe Durlo era uma casa grande, composta de uma cozinha grande com piso de terra, chão batido. Na cozinha localizava-se o fogolaro que funcionou por muitos anos, uma espécie de fogão rústico composto por uma mureta de tijolos onde se fazia fogo Logo acima uma corrente fixa num barrote do telhado da cozinha e na ponta dessa corrente dependurava-se panela preta de ferro para cozinhar ou chaleira para ferver água. Ao lado, fazia parte do fogolaro uma mureta maior onde se colocavam as panelas, chaleira e outros utensílios de cozinha. Mais tarde houve uma modernização com a aquisição de uma chapa de ferro, construindo-se o primeiro fogão de chapa, feito pelo nosso irmão mais velho José, quando já era bem jovem e criativo. O José inventou uma espécie de forno de lata, no interior da construção de tijolos e barro que serviam para apoiar a chapa preta de ferro. Possuía uma sala bem grande de tábua, 5 quartos, mais tarde um deles foi ocupado pelo tio Olivino quando casou, em 1944. Depois o tio Olivino fez uma casa próxima a sanga, ao lado de umas taquareiras. Na casa se destacava a cantina também de chão batido, onde tinha pipas de vinho, vinagre e cachaça. Colocava-se também salame, presunto, ovos, queijo, etc... Um pouco antes do tio Guilherme casar em 1950, foram construídas duas peças de alvenaria, na frente onde até hoje é o quarto e a sala, com aquela área em toda sua frente, casa de muitas lembranças de nossa infância. Existiam galpões, no local que depois foi construída a estufa de secar fumo do nosso tempo de criança. Os galpões além de guardar produtos agrícolas, ferramentas, era também usado como moradia de peões, descendentes de brasileiros, ou seja, africanos, mestiços de africanos com portugueses ou com índios, que trabalhavam para a família. Tais peões, só gostavam de comer feijão preto, que era o principal prato deles. É perfeitamente compreensível esse hábito pois a origem da feijoada, provém da época do Brasil colonial, das senzalas. A antiga morada do bisavô Giovanni Battista Durlo II e do avô Giuseppe Durlo era sempre acompanhada por uma ou duas hortas, onde se produziam verduras e legumes muito usado na alimentação da família. As hortaliças, geralmente eram consumidas cruas. Juntamente com as hortaliças também se plantavam flores. Na nossa casa e de nossos tios próximos haviam evoluído, destacando-se as duas hortas, cercadas geralmente por abacaxis (ananás) e os jardins em separados ligados à frente das casas, por onde se fazia o acesso das visitas e dos namorados, quando no verão eram usadas as sombras das ramadas de maracujás ou de parreiras para um bate-papo com as visitas ou para namorar. A primeira casa de nosso pai João era de tábua. Coberta de tabuinhas farquejada que ele a nossa mãe fizeram. Uma sala de chão batido, um quarto com assoalho de tábua, um puxado onde se localizava a cantina com pipas, depois foi transformada em quarto. Um galpão destinado a outros equipamentos. Enquanto os primeiros filhos eram pequenos dormiam no mesmo quarto dos pais. A cozinha era separada da casa com duas peças, com a presença do fogolaro. Mais tarde, uma grande casa de madeira, com estruturas de ipê (enormes colunas fincadas no chão e barroteamento, espécie de vigas), revestimento e assoalhos inferior e superior de tábuas de grápia. A casa principal era dividida em 6 peças amplas: uma sala grande que atravessava a área central da casa, 4 quartos, sendo dois de cada lado da sala, mais uma cantina num dos cantos. Na parte superior, o girau (sótão) onde colocavam os alimentos de grãos que precisavam de ambiente seco. À frente, um grande jardim, onde sempre se tinha uma ramada de maracujás, para sombra, o qual dava enormes frutos, mas que não sabíamos se era comestível. A cozinha separada com duas peças com a presença fogão de chapa e nos anos 60 o1° tradicional fogão a lenha. Compunha ainda: o complexo de estufa para secar fumo, galpão, galão mangueira para o gado leiteiro, galinheiro, chiqueiro de engorda, chiqueiro enorme geralmente cercado de pedra, onde os animais ficavam mais soltos, sempre com duas hortas, dois parreirais e em toda a volta com árvores frutíferas de todas as épocas do ano.
2. Economia A primeira e principal preocupação de nossas famílias, foi à produção de alimentos para a sobrevivência, ou seja, de início caracterizou-se por uma economia de subsistência familiar geralmente praticada pelos componentes familiares.
2.1 Agricultura A agricultura era prioridade, praticada de forma rudimentar, através da derrubada da mata, queimada e sem lavrar a terra se utilizando o plantio direto no solo, utilizando o saraquá (uma espécie de pequena pá fixada por um cabo), devido à dificuldade de virar a terra entre os troncos e raízes das árvores derrubadas. Mais tarde passou-se a utilizar uma espécie de arado rústico para mover a terra entre os tronco e raízes das árvores, o pula-toco puxado por boi ou cavalo.
Os principais produtos cultivados eram: o milho destinado à confecção
da farinha para a tradicional polenta, para alimentar os animais e aves
domésticas; o arroz e o feijão para se fazer a "ministra".
Outro prato típico do imigrante; o trigo para a farinha confeccionar a
tradicional "taiadele", massa caseira, pão, bolacha; a
cana para a confecção do melado, açúcar, rapadura e a cachaça. A cana
era também usada como alimento aos animais domésticos; a mandioca para
ser usada como alimento familiar, mas principalmente para os animais. E
outras...abóbora, moranga, melancia, melão. Ainda próximo à área residencial, além das hotas já citadas, localizava-se o pomar como subsídio alimentar, cultivando-se laranja, bergamota, lima, limão, pêra, ameixa, goiaba, pêssego, caqui, abacaxi (ananás), esses geralmente cercavam as grandes hortas e com destaque especial para o cultivo de grande área de parreira, para a produção de uvas destinada a produção da tradicional bebida, o VINHO.
2.2 Pecuária A pecuária bovina de corte foi de pouca importância devido à falta de espaços destinados a criação, pois a o relevo (terra) montanhosos não oferecia facilidade para a criação de gado, pois o imigrante se dedicou a agricultura uma vez que já trazia a mentalidade agrícola da Itália e era interesse das autoridades governamentais brasileiras que se implantasse a agricultura. Foi o que aconteceu com a pequena propriedade policultora, inicialmente auto-suficiente. As primeiras cabeças bovinas eram criadas para subsistência familiar com o leite e seus derivados. O sub produto mais importante, o queijo depois a nata, a manteiga e a “puina” (espécie de ricota feita do soro do queijo). O gado bovino também era usado para auxiliar no trabalho, como tração do arado para virar a terra, grade para remover a terra antes do plantio, puxar carreta, único veículo de transporte de cargas de qualquer natureza e número coletivo de pessoas, mover engenho de moer cana e até mesmo nas olarias onde se produziam tijolos. O gado suíno era o mais usado, pois a gordura (banha), bem como as carnes e seus derivados eram usados pelo imigrante oriunda do porco. As nossas famílias tinham uma dedicação especial a essa criação, tendo um ou dois espaços muito grande cercado de ananás e caraguatás, espécies frutíferas com muito espinho, que fechavam o chiqueiro e ao mesmo tempo em que produziam frutos comestíveis. Em outras famílias, principalmente nas regiões mais serranas era costume fazer esse cercado de pedra, aproveitando-as para limpar o solo para a agricultura. Incluía-se um chiqueiro especial para a engorda, tratamento intensivo e preparatório para o abate.
Em
segundo lugar, vinha à criação de aves,
a galinha para a utilização da carne e de ovos, incluía em
algumas famílias pato,
marreco, ganso, angolista. A pecuária completava-se com
algumas ovelhas e um, dois ou três cavalos, importante veículo de
transporte pessoal, muito usado para viagens longas e passeios.
Geralmente, o rapaz exibia com garbo e luxo seu veículo para sua
namorada, sempre limpo e brilhoso. Igual ao seu dono, após ter recebido
o banho semanal e o fino trato alimentar quase diário. A ovelha destinava-se para festas importantes, como aniversário do dono da casa, natal, 1º do ano, páscoa e pelego destinado à montaria do cavalo.
2.3
Agroindústria
a)
“O
santo vinho de cada dia”
Como diz o ditado popular: “néctar dos deuses”, tão antigo que há milhares de anos, os povos gregos e romanos destinaram um deus para o vinho, “Dioniso” deus do vinho grego e “Bacco” deus do vinho romano. Normalmente as famílias de imigrantes italianos, assim como a nossa, sempre cultivou uma boa extensão de parreiras de uvas mais resistentes ao clima da região. Antes do fabrico do vinho era muito gostoso, após uma chuva comer uvas frescas debaixo da parreira. Na época da colheita, toda a família se reunia para essa grande festa e a parte mais difícil sobrava para os filhos menores, que era de esmagar a uva com os pés. O ritual começava com o lava-pés, quando se ficava com os pés de molho na vertente ou córrego d’água até amolecer a sujeira, depois com sabão e um pedaço de pedra, se lixava os pés para depois passar o dia sapateando sobre uma grande pipa de boca aberta, dentro de um caixote com fundo de ripas com frestas, por onde passava o caldo e a uva esmagada. Quando criança, era comum pegar um “fastugo”, palha de trigo, mais grossa e longa possível, então irmos até a pipa para sugar o suco da uva, antes que se transformasse em vinho. De início, o suco era muito gostoso, mas à medida que começa fermentar, ficava melhor até que começava a dar dor de barriga e em alguns dava diarréia. A gente fazia isso escondido dos pais e dos irmãos mais velhos. O fastugo (canudinho), era empurrado para baixo no meio do bagaço só com a ponta de fora, para qualquer momento retornar a sugar o suco. Às vezes, a gente não achava mais. Acreditávamos que a dor de barriga que tínhamos era castigo, porque estávamos tomando às escondidas. Essa era uma indústria obrigatória em todas as famílias de imigrantes italianos. Destinado a transformar o milho e o trigo em farinha, o descascador de arroz, eram os principais componentes dos moinhos italianos. As grandes famílias possuíam seu próprio moinho. Alguns foram crescendo e passaram a prestar serviços para as famílias próximas que não o possuíam. As instalações produtoras do moinho eram movidas por uma grande roda com a força da água. A roda d’ água se constituiu numa importante característica da atividade econômica e da cultura italiana no Rio Grande do Sul.
c) Os engenhos
Chamou-nos atenção no depoimento dos mais velhos, a maneira que era transportada a cana da lavoura no cerro (monte Durlo) até próximo ao engenho. Colocavam-se fios de arames esticados morro abaixo e se soltavam os feixes de canas através desses fios, que desciam em alta velocidade e se espatifavam ao tocar no solo. A moenda, geralmente era movida pela roda d’água, a maioria dos nossos tios a utilizava como o tio Guilherme que herdou do avô Giuseppe, os tios Luiz, Ernesto, Luisa possuíam seus engenhos. A mossa família nos primeiros tempos tinha um em sociedade com o tio Luiz e depois se desentenderam e o pai colocou um que era movida por um boi, pela falta de riacho corrente próximo de casa. Sobrava para as crianças ficarem o dia inteiro rodando em volta do engenho tocando o boi.
d)
Os embutidos
A carne era separada dos ossos, depois moída com máquina manual para se fazer o “salado”, salame. O sangue do porco coagulado era moído com o fígado do animal se fazia o “figadel”. Da carne nobre, se fazia o “ossocolo”, copa. Da pele moída se fazia o ”cudiguim”. Da pele moída com carne da cabeça cozida, se fazia o queijo de porco. O rabo, os pés e pernas, eram salgados e guardados para colocar no feijão. Depois de retirada a carne, os ossos eram cortados e cozidos num papelão, ou aquele tacho de fazer melado açúcar. Cozinhava durante um dia e depois eram guardados em latas, cobertos por banha para conservar. Normalmente os ossos eram usados para colocar no feijão, na ministra ou aquecido e comido com polenta nas principais refeições. Essa atividade parecia um dia de festa. Toda a família levantava cedo, a qual começava com o aquecimento de uma grande panela de água e só encerrava no dia seguinte, dependendo do tamanho do animal. Era costume mandar as crianças entregar para os dois vizinhos, geralmente tios, um pedaço de costela, uma perna de salame, cudiguim, etc. E quando esses matavam porcos retribuíam a gentileza.
e)
Carpintarias e serrarias Nos primeiros tempos, as famílias tinham que beneficiar a madeira lascando e usando o “segon”, serra puxada por duas pessoas, uma em cada ponta, um serrote grande, o estrussador. As casas eram cobertas por tabuinhas feitas em casa, de cerne puro de grápia, as quais duravam muitos anos. Alguns homens eram especializados em fazer móveis simples, outros tinham uma especialidade ímpar que era a de fabricar pipas, barris, mastela destinadas ao vinho e para a cachaça. Nosso avô materno Gaetano Pillan era um grande especialista em pipa e barris. As gamelas domésticas eram feitas de tronco de tiambauva cortada com o enxó em casa. Mais tarde, surgiram algumas serrarias destinadas a beneficiar os troncos de madeira, para transformá-la em tábuas e barroteamento para a construção de casas, galpões, chiqueiros. Havia serraria movida pela roda d’água em cada pequena região, para atender as necessidades das famílias da área. Em nossa região se destacava a família Damian, a qual possuía um complexo de beneficiamento, não só de madeira, como de milho, trigo e o descascador de arroz.
f) Pilão/rebolo/monjolo
O pilão e a mão de pilão destinadas a socar milho para fazer canjica e descascar arroz eram feitos em casa, geralmente de um tronco de grápia, madeira bem resistente. Levava-se o arroz ao moinho descascar, quando era em maior quantidade, mas o mais comum era descascar no pilão em casa. Com a pedra de grês se confeccionava o rebolo, como se fosse uma roda de pedra, que ao girar por uma manivela manual servia para afiar facas, foices, machados, cunhas, formão... O rebolo seria o esmerilho dos dias atuais. Com dois rebolos deitado um sobre o outro com raiuras internas, controlado o superior por um eixo e movimentado de forma circular por um cabo e com um buraco interno para colocar milho, era uma espécie de moinho caseiro que servia para triturar o milho, destinado a preparar comida para os porcos e galinhas. Numa determinada época também se usava o monjolo. Era uma espécie de descascador de arroz movido por uma alavanca. Era composto um tronco de madeira reta e numa das extremidades era afixada um pilão, uma espécie de socador e na outra extremidade uma gamela de timbauva, onde enchia de água conduzida por uma bica de taquara. O instrumento era semelhante a uma gangorra de praças infantis de hoje.
g) O artesanato As famílias praticamente confeccionavam os recursos de que necessitavam para a sobrevivência e para o trabalho. A palha de trigo (fastugui) era trabalhada pelas mulheres que confeccionavam a trança (dressa), para confeccionarem os chapéus destinados para o dia a dia em casa e no trabalho. Com a mesma trança também se fazia sacolas (esporta), uma espécie de bolsa destinada a levar objetos, quando saía de viagem e mesmo quando se ia à Igreja para levar algo, numa festa, num baile etc. Também usadas pelas meninas como bolsas para levar material escolar. Com o vime que era plantado em solos úmidos, produziam-se cestas e cestos destinados a transportar produtos da horta e da lavoura. Os mesmos, também eram confeccionados de cipó muito encontrado nos matos, às vezes grandes cestos eram feitos de taquara. As gamelas, geralmente feitas a partir de um tronco de timbauva, madeira leve e macia para cortar, destinavam-se a lavar louças, outra para lavar as mãos, os braços e os pés no final da tarde. Geralmente se fazia uma gamela maior destinada aos banhos semanais, aos sábados à tarde. A roupa era lavada num buraco no riacho, logo abaixo da vertente mais próxima. Era comum o uso de baldes para carregar a água para a cozinha. O balde era confeccionado de madeira, várias tiras unidas uma ao lado da outra presa por fora com dois fios de arame ou duas cintas metálicas, a seguir um cabo de arame grosso para carregar. A mesma técnica do balde, era usada na confecção de pipas, barris e mastelas, trabalho mais sofisticado que nem todas as famílias conseguiam fazer. A palha da espiga de milho era muito usada para fazer cordões e confeccionar os acentos das cadeiras e raramente eram usada para o feitio de sacolas, bolsas. A palha bem selecionada compunha os colchões, bem antes do aparecimento da espuma. Algumas famílias juntavam penas de galinha e faziam um colchão para os donos da casa, pai e mãe. Pela manhã ao levantar e a noite antes de dormir, as palhas dos colchões eram removidas para ficarem fofinhas. A noite ao se movimentar na cama, as palhas acabavam ficando duras. As penas de galinha eram lavadas, guardadas para fazer travesseiros e em raros casos entrava na composição de acolchoados. Colchão e acolchoados compostos de penas de galinha eram considerados um dote que a noiva levava da família ao casar-se. Os acolchoados eram sempre feitos em casa com tecidos comuns e lã de ovelha produzida em casa ou de panos velhos. As estruturas das cadeiras, das camas, bancos, mesas e até armários para cozinha, dos quartos eram confeccionados em casa. As ferramentas como facas, facões, foices, machados, enxadas, ponteiras de arado em metal, eram feitos pelo ferreiro da região. O ferreiro mais próximo da localidade que fazia esses trabalhos era o Luis Spórquio e seu filho Dalirio, que mais tarde casou com nossa irmã Rosa.
3. Alimentação
A polenta, tradicional alimento trazido da Itália e que se conserva até os dias de hoje, fazendo parte da mesa de quase todo o brasileiro, feita numa panela grande de ferro. Começava com a água fervendo, colocando-se farinha de milho bem fina, porque grossa era para cachorro, a qual deveria ser mexida constantemente com a “mescola”, que era feito de um pedaço de madeira fino e roliço. A polenta devia ficar muito tempo no fogo para cozinhar, para ficar mais gostosa. Depois de pronta era despejada no “panaro”, tabuleiro de madeira arredondado. Em pouco tempo de resfriamento, ainda quente ficava com consistência firme, para ser cortada durante a refeição com um pedaço de fio de linha n.º 16.
A poenta estava sempre presente nas três refeições diárias. Começava como o café da manhã com a polenta “brustulada” na chapa do fogão acompanhada por queijo, ou salame, ou ossocolo, ou ovo frito, ou fortaia. Incluía o café de chaleira com leite. O pão era reservado para o final de semana, como alimento mais sofisticado. No almoço além da “minestra”, que podia ser também com taiadele (massa caseira) com algum tipo de carne, peixe, caça ou ovos, também acompanhava um bom copo de vinho. Na janta se aproveitava a sobra da minestra, novamente a polenta comandava a refeição... Tanto no almoço como na janta, sempre tinha a entrada principal, muita salada temperada com vinagre caseiro e banha. Muito verde abria as refeições e ingerida antes de qualquer alimento, salada pura. No domingo a refeição era mais sofisticada. O café com pão, bolacha, mel, chimia, melado e queijo. O pão e a bolacha eram assados no forno a lenha feita de barro. Nesse forno, eventualmente eram assados carnes em casos especiais, festa de aniversário, geralmente do pai e festas religiosas. Na época da uva, no verão, o café-com-leite era substituído pelo vinho doce, suco de uva recém esmagado com os pés, ainda na fase de fermentação. O almoço dominical era a principal refeição da semana. Especial porque se matava uma galinha grande e gorda (cevada). Algumas partes eram cozidas na água, para a retirada do brodo, caldo para cozinhar “i taiadelli”, massa caseira, que seria a sopa com caldo de galinha e massa de modo que ficasse bem rala com muito queijo ralado. A galinha “lessa”, cozida na água comia-se separada, igualmente a outra parte que era frita em panela de ferro preta acompanhada com polenta, mandioca ou arroz. O segundo parto do domingo, podia ser também ser o tradicional risoto italiano, se extraindo o “brodo” de galinha e nele cozinhando-se o arroz, com muito queijo ralado e a galinha era comida em separado. Nunca podia faltar o “santo vinho de cada dia”, é lógico que as crianças bebiam suco de frutas laranja, limão, ananás etc... conforme a fruta da época. Cerveja e refrigerante, se tomava somente no dia de festa de Igreja ou da Gruta da Fontana Freda. Na especialidade do domingo se comia também a sobremesa que podia ser doce de leite (ambrosia), creme de vinho, de laranja, de limão, de leite, pudim, sagu, doce de abóbora, de batata, rapadurinha de leite, merengue. Durante a semana se usava como sobremesa o hábito de comer frutas da época. Quando não se tinha salame, queijo e nem presunto, costumava-se fazer fortaia de cebola. As crianças não gostavam devido ao adocicado e enjoativo, sabor da cebola cozida. Também se usava radicci de capoira, nativo em meio ao mato como salada, frito ou ainda com ovos.
4.
Indumentária A maneira de vestir de nossa família era simples, basta observarmos a foto da família do avô Giuseppe Durlo. Tal fato se justifica pela dificuldade de se adquirir roupas e calçados. Aquela indumentária que se vê nas tradicionais fotos italianas ou em corais e mesmo em apresentações de grupos folclóricos, não faziam parte de nossa família e nem das demais da região, pois as famílias de modo geral eram pobres, não tinham condições de possuir aqueles trajes típicos e elegantes para a época. Acreditamos que mais tarde tenha sido introduzida para cultivar a tradição e a saudade da pátria italiana. Nos primeiros tempos, usava-se saco ou tecido de algodão para confeccionar camisas. Para diferenciar uma peça de outra se costumava tingir com cores diferentes. Não era só para o trabalho, usava-se essa camisa de saco até para sair. As calças eram feitas de tecido riscado e excepcionalmente o tecido de linho destinado para as festas religiosas e sociais. Era normal se ter uma roupa melhor para festas, uma outra simples para guardar os domingos e umas duas ou três roupas bem comuns, de tecido mais barato e de preferência resistente para o dia a dia no trabalho. Usavam-se roupas velhas por causa da sujeira do trabalho. Quando se rasgavam em alguma parte, as mulheres faziam os remendos para serem aproveitadas. Como as mulheres só usavam vestidos ou saias, quando iam trabalhar, especialmente em locais com muito capim ou passavam em macegas, era comum o uso do “gambaroti”, espécie de pernas de tecido, que eram amarradas acima dos joelhos para proteger contra espinhos, evitar que suas pernas fossem riscadas. Era tradicional que cada homem tivesse seu terno de casamento e depois permanecia com o mesmo para o resto da vida. Quando falecia o usava no caixão. Quando se trabalhava na agricultura ou mesmo em casa no dia a dia era comum andar descalços. À noite depois da lavada tapeada da noitinha: pernas, pés, braços, mãos, rosto e pescoço, usava-se tamanco ou chinelo. O calçado do dia a dia predominava o tamanco, com sola e salto bem grosso de madeira, bem pesada. Era clássico o caminhar arrastando aquele cepo nos pés fazendo barulho, destacando-se o caminhar nos pedregulhos, no assoalho da casa, no assoalho da escola e até no piso da Igreja. As crianças gostavam de brincar com seus tamancos gastos, pois os saltos gastavam e as sola ficavam bem lisas e escorregadia na grama quase seca do inverno, relevo em declive parecia-se que estava esquiando na neve, fértil imaginação das crianças. Era comum quando criança brincar correndo no barro a quase zero grau, com uma roda de madeira, imaginando que fosse uma carreta, uma bicicleta e até um automóvel, as famosas Ford 28, 29 que às vezes circulavam pela estrada da Fontana Freda, expelindo aquele cheiro estranho da combustão de gasolina em meio ao ar puro da natureza ainda intacta. Ao longe se ouvia o ronco do tradicional motor e já se identificava que veículo era e ao passar naquela alta velocidade, nós crianças corríamos atrás e acompanhávamos aquela estranha criatura. Era comum os pés racharem e sangrarem devido ao frio, daí se usava sebo de ovelha ou de gado para amenizar a dor. Sapato era raríssimo, geralmente eram os adultos que usavam sapato de couros. Crianças sandálias e mais tarde sapato de borracha, sapatilha e futuramente congas. Para economizar o máximo possível se ia até próximo a Igreja de tamanco ou descalços e na última possa d’água na beira da estrada, se lavava os pés, se escondia os tamancos com um pano para secar os pés e se calçava o sapato. As calças dos meninos eram presas pelo suspensório. Quando chegava na adolescência ao mudar a voz, o guri tinha o direito de usar suspensório de couro. Só rapaz e homens que usavam o cinto. Na década de apareceram as grandes novidades como a camisa volta ao mundo, o bonlon, o slack para as mulheres que passaram a usar calças, principalmente pelas mocinhas. Surgiram ainda os tecidos de tergal, muito caro porque não precisava passar ferro, sapatilha (alpargatas), o sapato de borracha que era mais barato e não estragava, mas os pés ficavam murchos e com aquele cheiro de fazer correr qualquer criatura, a conga e por último a sensacional novidade, o chinelo de dedo que inicialmente era calçado das jovens meninas e depois escandalosamente os guris passavam vergonha ao usá-lo, pois era calçado de mulher. Nos dia de muito frio com chuva era comum os homens usarem a capa, tanto a pé como a cavalo ou mesmo de carreta, comprada pronta de pano a qual protegia da chuva e do frio.
5.
Educação A mentalidade do imigrante italiano era a de ter muitos filhos, para que pudesse ajudar nas atividades agrícolas. O que os pais queriam que seus filhos fossem apenas agricultores. Os primeiros conceitos de educação eram dados em casa pelos pais e voltada para a obediência aos pais e irmãos mais velhos, aos vizinhos, às pessoas da comunidade e as autoridades constituídas, ainda ao respeito aos valores morais, patriótico da pátria-mãe Itália e a nova pátria, o Brasil. Se enfatizava aos valores e virtudes morais, como honestidade, responsabilidade, solidariedade, boas relações sociais ...Toda a educação era orientada no sentido de preservar os valores familiares alicerçada por uma educação e cultivo dos valores religiosos. A Igreja comunitária e doméstica centralizavam a formação do indivíduo como pessoa, como ser social e cidadão consciente de seu papel no meio em que vivia. Nas comunidades que iam se formando, a Igreja ocupava o centro que era sempre a prioridade. Próximo a Escola e o cemitério, com belas obras de escultura, verdadeiros trabalhos artísticos, talhados por alguém da comunidade, que possuía esse dom natural e que transmitia de geração a geração da mesma família. No cemitério da Fontana Freda podemos apreciar verdadeiras obras de arte da família Donadel. Próximo da Igreja, também se localizava a cancha de bocha. Mais tarde, o campinho de futebol da gurizada e posteriormente o clube, a sociedade Recreativa e Esportiva, através dos quais a comunidade desfrutava as divertidas atividades culturais, os jogos, confraternizações, bailes e outras atividades comunitárias, que até então eram realizados em casas de família. 5.1 A Escola Nos primeiros tempos, a Escola era composta por apenas uma sala de aula e uma só professora, que ainda ensinava na língua italiana, dialeto Vêneto, região norte da Itália, de onde a maioria dos imigrantes vinham. Era muito difícil se conseguir professora que dominasse língua portuguesa, até porque dificilmente iria se entender com a comunidade e com as crianças, pois toda a comunicação era em italiano. Só para exemplificar: Nossa mãe sempre comentava que ela ensinava o catecismo na capela da linha 6, sempre no idioma italiano. Não é de se estranhar que nós nos criamos com o pai e a mãe falando no dialeto vêneto, nós em português com eles e sempre nos entendíamos. Basicamente nos primeiros tempos se ensinava a ler e escrever, as quatro operações da matemática: somar, subtrair, multiplicar e dividir. Nosso pai se orgulhava ao contar que, quando estava no quartel, no 7º RI, em Santa Maria, ele era dos soldados destaque, pois sabia as quatro operações e foi encarregado pelo comandante da Unidade Militar, para ensinar as tais operações da matemática para os soldados do quartel. As crianças estudavam até a 1ª e 2ª séries, dependendo da época e das circunstâncias familiares. Mais tarde, até a 3ª, como acontecia com os meus irmãos mais velhos. Como sou o filho mais novo de nossa família, consegui fazer a 4ª série na Escola da Fontana Freda. Minha turma era composta por dois alunos, eu e o peixinho, o José Pes. Como as Escolas normalmente possuíam apenas uma sala de aula, as turmas não eram separadas. Uma professora atendia, ao mesmo tempo, no mesmo turno uns 8 alunos da primeira série atrasada, uns 6 da primeira série adiantada, uns 5 da segunda, uns 4 da terceira e uns 2 ou 3 da quarta. A disciplina era muito rígida, pois a praofessora freqüentemente batia nas crianças com vara de vime, daquelas bem comprida, que pedia para os próprios alunos levarem. Costumava colocar os alunos mais agitados (ativos), na frente e sentada em sua mesa não precisava se levantar, para puxar nas crianças a longa vara, geralmente a cabeça era o local mais acessível da criança. Na nossa época, os castigos e eram desde a humilhação de ficar no recreio recluso na sala de aula, ficar de joelhos num canto da sala, na frente da turma, direto no chão, com grãos de milho ou até sobre tampinha de garrafa virada para cima. O puxão de orelha era comum, principalmente quando não se conseguia aprender. Na década de 60, os recursos se restringiam ao quadro e giz, carteiras para dois alunos com um buraco central, para colocar o tinteiro, para excepcionalmente se escrever a caneta. O uso permanente era o lápis. A pena e depois de mergulhada a pena no tinteiro, dava para escrever uma palavra desde que não fosse longa, a seguir a professora aplicava o mata-borrão para que a secagem da tinha fosse mais rápida, evitar rasuras. Foi uma grande novidade quando apareceu a caneta que continha um espaço interno para se carregar de tinha e se escrevia mais rápido, até que terminasse a tinta e novamente era reabastecida. A esferográfica foi uma tecnologia no final da década de 60. Usava-se apenas um livro com conteúdos de várias matérias, editado em São Paulo, dentro de uma realidade totalmente diferente do Rio Grande do Sul. Um caderno para o dia a dia em sala de aula e outro caderno para passar a limpo em casa, fazer os deveres de casa. Existia um terceiro caderno que era usado só no Sábado, daí o nome “Caderno de Sabatina”, era uma forma de avaliações parciais, onde aos sábados se fazia os testes do que se estudava durante a semana. Tínhamos uma borracha encaixada na ponta oposta do lápis, uma pequena régua de madeira geralmente feita em casa. Não existia biblioteca, nem qualquer periódico como jornais, revistas. O material escolar individual era guardado e transportado numa “saqueta” para os guris e “sporta” feita de dressa para as gurias.
5.2
A merenda escolar Na época de nossos irmãos e primos mais velhos era comum entre as crianças trocarem suas merendas. As famílias que possuíam terras melhores, produziam mais trigo e tinham pão todos os dias, por isso as crianças podiam levar uma fatia do precioso alimento como merenda escolar. Os nossos familiares, como nem sempre tinham pão, levavam frutas e trocavam por um pedaço de pão com outras crianças.
Não existia qualquer tipo de merenda
servida na Escola, assim cada criança levava a sua. Como raramente tínhamos
pão para levar, a mãe cozinhava na água um ou dois ovos. Como nós tínhamos
vergonha de exibir e comer os ovos durante o recreio, escondíamos nos capins à beira da estrada, um pouco antes
de chegar na Escola. Na volta, em torno do meio dia matávamos a fome com aqueles ovos que
estavam escondidos, quando buscávamos energia para a longa caminhada de
volta para casa. Após o almoço já frio, quando chegávamos em torno de 13 horas, se comia à
sobremesa subindo num pé de frutas, conforme a época da bergamota,
goiaba, pêra...
5.3
Admissão ao Ginásio O ensino na nossa época constava do 1º Grau = o Primário lº ciclo, que abrangia da 1ª série atrasada até a 5ª série e o 2º ciclo que era o Ginasial, que abrangia da 1ª a 4ª série. Como não havia vaga para todos os alunos egressos do primário, era necessário realizar várias provas seletivas, os exames de admissão ao Ginásio. É claro que nas escolas do interior não havia cursos ginasiais, somente na sede Jaguari, uma Escola Pública e uma Particular. Os filhos das famílias do meio rural não tinham oportunidade, apenas algumas famílias com melhores condições financeiras. Foram raros os casos da família Durlo, que puderam estudar, da nossa geração. E cada um tem uma história própria. Para exemplificar, eu consegui cursar o Ginásio, o 2º Grau, estudando a noite e trabalhando durante o dia; dois Cursos Superiores na UFSM, numa Universidade Pública, que além de gratuita oferecia moradia nas casas de estudantes e alimentação subsidiada além de bolsas. Uma Pós-graduação exercendo a função de professor de Ensino Superior, de 2° Grau, Pré-Vestibular, concomitante com a função de Secretário da FACOS, em Osório. Todos os meus estudos foram realizados, em usar um centavo de meus pais, pois eles não tinham condições de proporcionar estudos aos seus filhos.
6. Comunicações e transportes As famílias viviam quase isoladas do mundo. O avô Giuseppe Durlo, costumava receber uma revista, que vinha da Itália. Não se tinha acesso a jornais, revistas e nem rádio. Mais tarde, quando éramos crianças, nossa família receia mensalmente um exemplar da Revista Rainha dos Apóstolos, editada pelos padres Pallotinos de Santa Maria. O primeiro rádio da família Durlo que lembro foi do tio Luis Durlo (Bio). Era um enorme caixote falante, alimentado por bateria. Quando ligava tinha-se que aguardar por vários minutos até aquecer para funcionar. A bateria era carregada com um dínamo instalado no engenho da roda d’água, onde se fazia melado, rapadura, açúcar e cachaça. No início do mês de abril de 1964, lembro que as famílias próximas se encontravam à noite, na casa do tio, para ouvir os últimos acontecimentos do Golpe Militar de 64. Nossa família adquiriu o primeiro rádio em 1966. A carta era o meio mais usado para se comunicar entre parentes e amigos que estivessem mais distantes. O destinatário recebia com um atraso de 15 a 30 dias após, dependendo da origem. Entre os tios, que geralmente eram próximos, se comunicavam através do grito. Quando era mais distante se ia a pé ou a cavalo para comunicar algo, tarefa geralmente executada pelas crianças. Era comum, o nosso avô Giuseppe Durlo, se deslocar a cavalo, para a sede do antigo município, que era em São Vicente do Sul, para pagar impostos das terras e outros afazeres necessários, antes de 1922, quando Jaguari se emancipou de São Vicente. Depois ele ia visitar sua irmã Teresa, que era casada com Antônio Taschetto e que morava no interior entre os atuais municípios de Mata e São Pedro do Sul. Um dos primeiros veículos que esteve na Fontana Freda, que se sabe através das lembranças da família, ocorreu na década de 1940, um Chevrolet preto fabricado na década de 30, é lógico importado, que conduzia o Bispo da Diocese de Santa Maria, o qual foi realizar crisma. Algumas famílias possuíam uma sofisticada charrete, apelidada de aranha, puxada por um cavalo, que garbosamente desfilava pelas estradas em direção ao Barracão “cidade de Jaguari”, ou que ia para a Igreja no Domingo. Como não possuíam coberturas, as mulheres se protegiam do sol ou da chuva com coloridas sombrinhas. Esse veículo chamava atenção das pessoas por onde passava e provocava ciúmes naquelas famílias que não a possuíam. No início dos anos 60, as famílias mais abastadas já possuíam um veículo automotor, camionetas antigas, com carroceria de madeira, coberta por uma estrutura de madeira, acabamento em lona e “ignição à manivela”. Os modelos tradicionais eram Ford 1925, 1926, 1927, 1928 e em alguns casos a famosa 29. Em meados dos anos 60 começaram a desfilar veículos melhores, já com cobertura de lata, produzidos nos anos 40, como Doge, Ford, Chevrolet e alguns marajás da cidade desfilavam em nossas festas religiosas e as famosas DKV, Sinka, Aero Willis, Ford rabo de peixe, Jeep muito usado pelo padre, Rural Willis e o novíssimo top de linha Gordini. Os famíliares Durlo de Jaguari até o início dos anos 70 não possuíam esse privilégio. É claro que mais tarde também passou a circular uma linha de Ônibus antigo, o qual fazia a linha Barragem ou Bom Respiro a Jaguari, em alguns dias da semana. Nem todas as pessoas tinham condições de tomar o ônibus para ir a cidade. Muitos ainda iam de cavalo, quando tinham que comprar algumas mercadorias pesadas ou volumosas, se deslocavam com suas carretas, uma viagem que envolvia o dia inteiro, cujo estacionamento era a Associação Rural, localizada no início da cidade.
Da televisão dispensamos comentários, a não ser que nos finais dos anos de 1960, a cidade de Jaguari possuía três aparelhos, com longas antenas para sintonizar a única emissora de tv do Rio Grande do Sul, Tv Piratini de Porto Alegre. As três televisões estavam localizadas: uma no melhor restaurante da cidade, o “Novo Mundo”, onde em 69 fui trabalhar e morar, para poder estudar; outra no bar e lancheria “A Marmota”, para atrair os fregueses e a terceira na residência de um dos médicos da cidade, que se não estiver enganado, na casa do Dr. Chula, um dos mais antigos médicos da cidade. Foi numa dessas tvs que em julho de 1969, passamos a madrugada em claro, em torno de zero grau, para assistir a primeira transmissão da chegada do homem à lua. Ufa!... bem que tentamos ser o mais breve possível nesse capítulo. |