Própolis
contra câncer |
Quinta-Feira, 26/12/2006 |
Compostos sintéticos inspirados na resina de abelhas são eficazes no tratamento de tumores A capacidade da própolis, uma resina produzida pelas abelhas, em vedar e esterilizar colméias já é bem conhecida da ciência. Vários estudos também apontam que a substância tem poder antisséptico, cicatrizante, antimicrobiano, antiinflamatório e antioxidante, entre outros. Ciente disso, uma equipe de pesquisadores brasileiros, liderados pelo químico cubano José Agustín Pablo Quincoces Suárez, professor da Universidade Bandeirante de São Paulo (Uniban), sintetizou em laboratório compostos químicos semelhantes aos encontrados na própolis com o objetivo de estudá-los e, no futuro, usá-los na formulação de medicamentos. A pesquisa, iniciada há sete anos, comprovou ser promissora e os primeiros resultados começam a aparecer. Uma família de compostos mostrou-se altamente eficaz no tratamento de células cancerígenas humanas em testes in vitro e com animais de laboratório. "Os resultados são animadores e mostram que estamos no caminho certo. Já depositamos duas patentes referentes aos métodos de obtenção das substâncias, aos compostos em si e suas aplicações", destaca Quincoces. Chegar a esse estágio da pesquisa, no entanto, não foi nada fácil. O primeiro desafio foi exatamente conseguir produzir compostos similares aos existentes na própolis. Para isso, os pesquisadores usaram como matéria-prima insumos químicos empregados pelas indústrias de alimentos e de fármacos. Após muita experimentação, cinco famílias de compostos - batizadas pelas letras HB, L, Q, V e HMF - deram sinais de serem promissoras. Mas cabe uma pergunta: se essas substâncias são encontradas na natureza, por que sintetizá-las em laboratório? A resposta é simples. Como esses compostos estão presentes em concentrações muito baixas na própolis, da ordem de microgramas ou miligramas, eles seriam insuficientes para a realização de estudos farmacológicos e, dependendo dos resultados, para a produção de medicamentos. Além disso, ao serem produzidas em laboratório, essas substâncias podem ter suas propriedades melhoradas por meio de técnicas de modelagem computacional. "Em alguns casos, alteramos a estrutura original delas para chegar a uma molécula mais eficiente, seja no aumento de sua atividade biológica ou na redução de sua toxicidade", explica a farmacêutica Daniela Gonçales Rando, pesquisadora do grupo na Uniban. O passo seguinte depois da síntese em laboratório foi iniciar os testes com os diferentes compostos a fim de aferir suas atividades terapêuticas. Para isso, o grupo estabeleceu parceria com diversas instituições de pesquisa no Brasil e no exterior. Os primeiros ensaios com a família de compostos HB tiveram início em 2001 no Centro Pluridisciplinar de Pesquisas Químicas, Biológicas e Agrícolas (CPQBA) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). "Foram realizados, com sucesso, testes in vitro antitumorais e antimicrobianos e testes toxicológicos in vivo, em animais. No ano seguinte, pesquisadores do Laboratório de Imunologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) começaram a fazer ensaios antitumorais com compostos da família V", relata Quincoces, que é coordenador do Laboratório de Síntese Orgânica da Uniban. Naquele mesmo ano, o imunologista Durvanei Augusto Maria, do Instituto Butantan, em São Paulo, uniu-se ao grupo e começou a realizar uma bateria de testes antitumorais e de toxicidade de compostos da família HB. Esses testes mostraram que a substância foi capaz de impedir a progressão de tumores de um tipo de melanoma, um tipo de câncer de pele, em camundongos. |
Fonte: Agência FAPESP |