0 COMÉRCIO NA ÉPOCA FEUDAL
"Em nome de Deus e do lucro." Com risco de uma simplificação exagerada, pode-se talvez dizer que os quatro motivos principais que inspiraram os dirigentes portugueses (reis, príncipes, nobres e mercadores) foram, numa ordem cronológicas mas sobrepostos em graus: 1. o zelo da cruzada contra os muçulmanos; 2. o desejo de se apoderar do ouro da Guiné; 3. a questão do Preste João; 4. a procura das especiarias orientais. (BOXER C. R. 0 Império Colonial Português Lisboa, Edições 70, 1981.) |
Os dois maiores centros de comércio europeu, durante a Idade Me dia, eram o norte da Itália e a região de Flandres, no norte da França. No século XIV, as rotas terrestres que ligavam essas regiões tornaram-se muito inseguras devido às constantes revoltas camponesas e à Guerra dos Cem Anos (1337-1453) entre França e Inglaterra. Os mercado rés buscaram, então, uma rota alternativa de comércio, contornando a Península Ibérica pelo Oceano Atlântico.
Assim, novos portos se desenvolveram na Espanha e em Portugal como Barcelona, Cádiz, Lisboa e Porto, onde se estabeleceram mercadores florentinos, genoveses, judeus. Pela rota do Atlântico, passavam navios italianos que se dirigiam aos importantes centros têxteis da Inglaterra e de Flandres. Especiarias asiáticas e produtos de outras regiões do Mediterrâneo, como o vinho da Grécia e de Creta, sedas e brocados orientais, davam nova vida aos portos da Península Ibérica. As especiarias asiáticas cujo comércio favoreceu a prosperidade das cidades italianas durante a Idade Média, eram muito consumidas porque sua utilização garantia a conservação e melhoria da qualidade das carnes, bolos e bebidas produzidas pelos europeus.
"Elas vinham do arquipélago indonésio, o cravo da Índia cultivava-se nas Molucas, a noz-moscada no arquipélago de Banda, a pimenta principalmente em Sumatra - ou do Sri Lanka (dantes chamado Ceilão) (canela) e do sudoeste da Índia (pimenta). No tempo de Marco Polo, as especiarias e outras mercadorias eram transportadas por caravanas, por terra, através da Ásia Ocidental, até ao Mar Negro e ao levante. Com a desintegração do Império Mongol, esta rota tornou-se demasiado perigosa e, por volta de 1400, os mercadores árabes e indianos transportavam as mercadorias por via marítima para os portos do Mar Vermelho. Daí eram transportadas por terra até aos portos mediterrâneos do Egito e da Síria onde os mercadores venezianos e genoveses as compravam para distribuição e venda na Europá. (Arnold, David. A época dos descobrimentos. Lisboa, Gradiva,1983,p.22.)
Para a aquisição das especiarias e dos demais produtos orientais, o comércio europeu utilizava-se do ouro para cunhagem de moedas. No século XV, as minas européias estavam praticamente esgotadas, acarretando forte obstáculo ao crescimento econômico. Os europeus passaram a buscar o metal nos portos do norte da África, onde ele chegava proveniente do interior desse continente. -0 ouro africano era extraído de veios a superfície da terra, na zona de Bambuck, à montante do Rio Senegal; em Bure, no alto Niger e em Aken (Gana), antiga Costa do Ouro. Da região da extração, o ouro em pó era transportado pelos mercadores nativos até Timbuctu,, ao sul do Saara, onde era vendido para os mercadores árabes e transportado pelo deserto ate os portos do norte da África. Ali, era comprado por genoveses, venezianos, catalões e judeus, em troca de tecidos, de cobre e de sal.
Autores: Olga Maria A. Fonseca Coulon e Fábio Costa Pedro
Apostila: Dos Estados Nacionais à Primeira Guerra Mundial, 1995, CP1-UFMG
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