A GRÉCIA ANTIGA

 

Autores: Fábio Costa Pedro e Olga M. A. Fonseca Coulon.
História: Pré-História, Antiguidade e Feudalismo, 1989

 

 

A Grécia Antiga ou Hélade localizava-se na bacia do Mar Egeu, abrangendo o território europeu ao sul da Península Balcânica, as ilhas dos mares Egeu e Jônio e a costa ocidental da Ásia Menor. Daí se espalhou pelas costas dos mares Negro e Mediterrâneo, atingindo o sul da Itália e da França e a costa da Líbia no norte da África, sendo o mar Mediterrâneo sua principal via de comunicação.

A civilização grega ou helênica começou a existir por volta de 1200 a 1100 a.C., com a chegada dos dórios ao sul da Península Balcânica, conquistando os aqueus que aí habitavam.

 

A GRÉCIA PRÉ-HELÊNICA  

Anteriormente à chegada dos dórios, existiram na região da bacia do Mar Egeu duas importantes civilizações: a Cretense, na ilha de Creta e a Aqueana ou Micênica, no continente europeu. Essas civilizações conheciam a escrita, utilizavam armas e instrumentos de bronze e tinham agricultura, artesanato e comércio desenvolvidos. Os cretenses foram dominados pelos aqueus por volta de 1 400 a.C..  

A Civilização aqueana ou micênica teve como principais centros Micenas, Tirinto e Pilos, na península do Peloponeso, onde foram construídos palácios que eram fortalezas monumentais. A sociedade apresentava-se composta de numerosas famílias principescas, reinando sobre pequenas comunidades agrárias.  

Entre 1200 e 1100 a.C., os centros palacianos micênicos foram completamente destruídos pelas invasões dos dórios, povo vindo do norte e de língua indo-européia, assim como os aqueus, porém de índice civilizatório mais baixo. Em compensação, apresentavam uma superioridade: o uso em larga escala de utensílios e armas de ferro, fator incontestável de sua vitória sobre os aqueus, que permaneciam na idade do bronze.  

MicenasOs dórios moveram-se até o sul do Peloponeso; daí estenderam-se à ilha de Creta e algumas ilhas do Mar Egeu. Com isso, muitos aqueus migraram para as ilhas e a costa ocidental da Ásia Menor, numa região que ficou conhecida como Jônia e Eólia, onde procuraram preservar suas tradições e sua organização de cunho patriarcal, criando pequenos povoados agrícolas.

Com as invasões, o comércio, as comunicações e a arte regrediram e a escrita desapareceu, permanecendo apenas as habilidades técnicas d agricultura, da cerâmica, da metalurgia e a língua grega. Entretanto, com os dórios nascia uma nova cultura e um novo tipo de vida – a civilização helênica ou grega – que iria se expandir atingindo o apogeu no século V a.C.. O

 

O PERÍODO HOMÉRICO (SÉCULOS XII O XI a.C.)  

Os quatrocentos anos que se seguiram à chegada dos dórios (de 1200 a 800 a.C. aproximadamente) permanecem bastante obscuros para nós, devido à escassez de fontes escritas. O que existe sobre a época são os poemas épicos a “Ilíada” e a “Odisséia” escritos por Homero, provavelmente no século VIII a.C., baseado em poesias e cantos transmitidos oralmente pelos “aedos” (poetas e declamadores ambulantes), entremeando lendas e ocorrências históricas relacionadas com as guerras entre os dórios e os aqueus.

A organização gentílica dos gregos  

Os poemas homéricos referem-se aos acontecimentos relacionados à destruição da sociedade micênica, como as guerras de Tebas e de Tróia. Relatam as ações dos heróis gregos, com a ajuda de seus deuses. De sua leitura, percebe-se que a sociedade da época era formada por reis (basileus) e nobres, senhores de terras e rebanhos. Os nobres organizavam-se em famílias extensas – os genói – em que os membros eram unidos por laços de parentesco consanguíneo e/ou religioso.

O “genos” era o núcleo humano em torno do qual se estruturava o “oikos”, unidade econômica que compreendia terras, casas, ferramentas, armas e gado, dos quais dependia a sobrevivência do grupo. O trabalho no “oikos” – pastoreio, agricultura de cereais, legumes e frutas, produção de óleo e vinho, fiação e tecelagem – era realizado pelos membros do “genos” e pelos escravos, obtidos através de pilhagens e saques; tanto quanto possível, o “oikos” procurava ser auto-suficiente.

A principal ocupação dos nobres, chefes dos “oikos”, era a guerra praticada contra os vizinhos ou inimigos externos. As lutas se restringiam ao combate individual entre os guerreiros, pesadamente armados. O objetivo das guerras era essencialmente a aquisição de escravos e de metais que o “oikos” não produzia.

Além dos reis e dos nobres, existiam trabalhadores livres – demiurgos – ferreiros, carpinteiros, videntes e médicos, que prestavam serviços aos nobres e ocasionalmente participavam de suas assembléias, como ouvintes, sem direito a tomar decisões. Abaixo dos demiurgos, havia os tetes, homens sem posses e sem especialização, que vagavam de um lado para outro em troca de algum alimento ou roupa.

O desaparecimento da monarquia.

Por volta do século VIII a.C., em algumas regiões do território grego dos Bálcãs, da Ásia Menor e das ilhas do Mar Egeu, já havia um grande número de comunidades dominadas por grupos de famílias aristocráticas proprietárias das melhores terras, que justificavam seu poder pela autoridade que lhes provinha dos antepassados, muitas vezes um “herói” famoso do passado, ou mesmo até um deus. A figura do rei desaparecera, substituída por magistrados eleitos e por conselhos de nobres.

Aos poucos o pequeno povoado tornou-se regra, com a população reunindo-se em volta das antigas fortificações micênicas, onde logo surgiam uma praça para o mercado e um ou dois templos. Esboçava-se assim a forma de vida tradicional dos gregos – a “pólis” – que irá se expandir de forma original durante os séculos seguintes.