0 NASCIMENTO DAS FÁBRICAS
Autores:
Olga Maria A. Fonseca Coulon e Fábio Costa Pedro
Apostila: Dos Estados Nacionais à Primeira Guerra Mundial, 1995, CP1-UFMG
Além da modernização da agricultura, a Inglaterra tornou-se, em meados
do século XVIII, pioneira na evolução do sistema manufatureiro para o
sistema fabril.
Entre as razões desse pioneirismo, destacou-se o desenvolvimento do comércio
externo, favorecido pelas práticas mercantilistas. Apoiada por uma frota
mercante poderosa, a Inglaterra passou a dominar os mares, fazendo com
que a América, a África e a Ásia fossem exploradas pelas companhias de
comércio que se dedicavam à compra de produtos agrícolas e matérias primas
coloniais, ao tráfico negreiro e à venda de produtos manufaturados ingleses.
0 desenvolvimento mercantil inglês impulsionou a busca de novas técnicas
e métodos de produção de mercadorias. Assim, a produção realizada nas
casas ou nas oficinas foi substituída, no decorrer do século XVIII,, pela
produção nas fábricas. Esses estabelecimentos concentra vam um número
maior de operários, utilizando-se de equipamentos fornecidos pelo empregador
e produziam para um mercado mais vasto.
A organização das fábricas ampliou o controle do empresário sobre o trabalhador
que ainda detinha os conhecimentos técnicos sobre a produção. Criaram-se
nelas uma hierarquia e uma ordem inexistentes no sistema doméstico e nas
oficinas. A partir de meados do século XVIII, quando surgiram as primeiras
máquinas na indústria têxtil do algodão, já existia nas fábricas um operário
disciplinado e assalariado.
A MECANIZAÇÃO DA PRODUÇÃO
As primeiras invenções que deram inicio ao processo de mecaniza ção da
produção ocorreram no setor têxtil do algodão que, por ser uma atividade
mais recente na Inglaterra, não estava controlado pelos regu lamentos
das corporações de ofício. A indústria algodoeira concentrava-se na região
do Lancaster, próxima ao porto de Liverpool, ligada ao comércio colonial,
que recebia a matéria prima do Oriente, das Antilhas, do Brasil e das
colônias inglesas da América.
As máquinas que revolucionaram a produção do algodão foram: a "spinning-jenny",
ou filatório, uma roda de fiar composta que produzia oito fios ao mesmo
tempo, criada por James Hargraves, em 1767; a "water-frame" ou bastidor
hidráulico, que produzia fios para a urdidura e a trama do tecido, desenvolvida
por Richard Arkwright, em 1769; e a "mula", uma versão aperfeiçoada das
duas máquinas anteriores, patenteada em 1779 por Samuel Crompton, que
chegava a produzir 400 fios da melhor qualidade (mais finos e mais resistentes)
ao mesmo tempo. Em 1785, Edmund Cartwright criou o tear mecânico aumentando
a produção de tecidos e em 1792, Eli Whitney inventou o descaroçador do
algodão, barateando a oferta da matéria prima em bruto.
0 avanço técnico decisivo para a mecanização da indústria foi a utilização
da energia a vapor, a partir da máquina criada em 1712 por Thomas Newcomen
e aperfeiçoada em 1769 por James Watt, um construtor de instrumentos científicos
da Universidade de Glascow. A máquina a vapor de Newcomen foi muito empregada
nas minas de carvão para bombear a água; as modificações introduzidas
por Watt permitiram a sua utilização nas indústrias. A energia a vapor
substituiu com enorme vantagem a energia muscular, hidráulica ou eólica,
até então usadas para movimentar as máquinas.
A energia a vapor possibilitou o crescimento da mineração, da metalurgia,
da tecelagem e dos transportes; foi aplicada às máquinas de bombear a
água e de içar os minérios do fundo das minas, tornando o carvão mais
barato; movimentou fábricas de fiação, de tecidos, de cerveja, de papel
e moinhos de grãos.
As inovações tecnológicas atingiram a indústria metalúrgica com a invenção
do laminador para a fabricação de chapas de ferro e com o método de pudlagem
que eliminava o carbono do minério de ferro, produzindo um metal de melhor
qualidade e mais forte. 0 ferro foi utilizado na fabricação de máquinas
mais resistentes, que podiam ser moldadas de forma padronizada, substituindo
a madeira.
0 uso do ferro e da energia a vapor permitiram a invenção de barco a
vapor (1807), da locomotiva a vapor (1822) e de ferrovias de uso comercial
facilitando e barateando o transporte a longa distância de matérias primas,
mercadorias e passageiros. Criaram-se também melhores arados e generalizou-se
o uso da debulhadora e da ceifadeira, A máquina a vapor e a indústria
do ferro contribuíram para a primeira arrancada da Revolução Industrial.
"0 mundo industrial tornou-se como uma imensa fábrica, onde a aceleração
do motor, sua desaceleração e suas paralisações modificam a atividade
dos operários e regulam a produtividade". (MANTOUX P, op. cit. p. 340.)
AS CIDADES E AS FÁBRICAS
Antes da invenção da máquina a vapor, as fábricas situavam-se em zonas
rurais próximas às margens dos rios, dos quais aproveitavam a energia
hidráulica. Ao lado delas, surgiam oficinas, casas, hospeda rias, capela,
açude, etc. A mão-de-obra podia ser recrutada nas casas de correção e
nos asilos. Para fixarem-se, os operários obtinham longos contratos de
trabalho e moradia.
Com o vapor, as fábricas passaram a localizar-se nos arredores das cidades,
onde contratavam trabalhadores. Elas surgiam "tenebrosas e satânicas",
em grandes edifícios lembrando quartéis, com chaminés, apitos e grande
número de operários. 0 ambiente interno era inadequado e insalubre, com
pouca iluminação e ventilação deficiente.
Até o século XVIII, cidade grande na Inglaterra era uma localidade com
cerca de 5 000 habitantes. Em decorrência da industrialização, a população
urbana cresceu e as cidades modificaram-se. Os operarios, com seus parcos
salários, amontoavam-se em quartos e porões desconfortáveis, em subúrbios
sem condições sanitárias.
As cidades tornaram-se feias e negras, envoltas numa atmosfera fumarenta,
estendendo por todos os lados seus subúrbios mal construí dos. ( ....
) Nelas desenvolveu-se uma vida urbana que a velha Inglaterra não havia
conhecido. Era a massa enorme e confusa do proletariado, que ocupava o
formigueiro industrial com seu movimento disciplinado; a cima dela, dirigindo
para seu lucro todo o mecanismo da grande indústria, a aristocracia manufatureira,
a classe poderosa dos capitalistas fundadores e proprietários das fábricas".
(MANTOUX, P., op.cit.p.)
Autores:
Olga Maria A. Fonseca Coulon e Fábio Costa Pedro
Apostila: Dos Estados Nacionais à Primeira Guerra Mundial, 1995, CP1-UFMG
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