OS GERMANOS
E O IMPÉRIO ROMANO.

 

                           

 

Os germanos habitavam a região da Europa situada além das fronteiras do Império, entre os rios Reno, Danúbio e Vístula e os mares do Norte e Báltico, denominada Germânia. Eram considerados “bárbaros” pelos romanos(do grego, bárbaroi = estrangeiros), pois não possuíam a mesma cultura. Dividiam-se em numerosas tribos, como os gados, os borgúndios, os francos, os suevos, os alanos, os vândalos, os lombardos, os anglos, os saxões, os jutos, os frisões, etc.  

Os primeiros contatos dos germanos com os romanos ocorreram na época de Júlio César (séc. I a.C.). Nessa ocasião, as tribos germânicas viviam em aldeias rudimentares, praticando uma economia comunal baseada na agricultura, na pecuária e nas pilhagens. Quando as terras se esgotavam, partiam à procura de outras. As áreas cultiváveis e os bosques eram de uso comum aos habitantes das aldeias. Apenas os rebanhos permaneciam como propriedade particular, constituindo-se na principal riqueza dos guerreiros.

 A base da organização social das tribos era a “sipe”, espécie de clã formada por famílias ligadas por laços de parentesco. Seus membros protegiam-se mutuamente e a ofensa a um deles atingia toda a sipe, que praticava a vingança coletiva. Na guerra, o exército era recrutado entre os homens da tribo, maiores de 16 anos.  

Os germanos não conheciam cidades nem Estado. Sua mais importante instituição política era a Assembléia dos Guerreiros da tribo, que decidia sobre a guerra, a paz, a libertação dos escravos e escolhia o rei, com função religiosa e militar. Os principais chefes desenvolveram os costume de manter uma “escolta” ou “séqüito” de guerreiros, ligados ao líder por um juramento de fidelidade. Em caso de ataques e lutas, eram recompensados como produto das pilhagens, dando origem a uma nobreza possuidora de terras e escravos.  

O contato com os romanos e o desenvolvimento do comércio de mercadorias nas fronteiras foram aos poucos alterando a primitiva igualdade existente entre os membros dos clãs, contribuindo para criar a seguinte diferenciação social entre eles: os nobres, proprietários de terras, que se consideravam descendentes dos deuses germânicos; os livres, a maioria dos membros das tribos; os semi-livres, derrotados nas guerras de tribos afins; os escravos, englobando os prisioneiros de guerras, os endividados e os nascidos de pais escravos.  

No governo de Diocleciano(284/305), soldados germanos passaram a ser regularmente recrutados para servir nas legiões do Império. As autoridades imperiais procuravam rodear as fronteiras de chefes bárbaros aliados, que mantinham a independência, os usos e os costumes, mas defendiam os interesses romanos diante do mundo germânico e eram recompensados com dinheiro e terras.  

Por volta do século IV, a Assembléia dos Guerreiros praticamente desaparecera entre os bárbaros, substituída por um Conselho de Nobres. O contato cada vez maior com o Império levara-os a assimilar bastante a vida econômica, a hierarquia social, a disciplina militar e a religião dos romanos(muitos bárbaros haviam se convertido ao Arianismo, ramo do Cristianismo considerado herético pelo Concílio de Nicéia, realizado em 325). Mesmo assim, suas comunidades ainda eram bem rudimentares e quase todas desconheciam a escrita.  

A partir de fins do século IV, pressionados pelos hunos, povo nômade vindo da Ásia Central, as tribos germânicas migraram em massa e de uma forma não pacífica para o interior do Império Romano do Ocidente. Suevos, alanos, borgúndios, francos, vândalos, visigodos penetraram, saquearam e ocuparam a Gália, a Península Ibérica, a África e a Itália. Anglos, saxões e jutos tomaram a Bretanha. Para defenderem Roma dos sucessivos ataques de determinadas tribos, os Imperadores recorriam ao auxílio de outros chefes bárbaros, ficando à sua mercê. As invasões germâmicas trouxeram desordem, destruição, fome e pilhagem ao já decadente Império Romano, precipitando sua desintegração, no final do século V.

 

“Os hunos excedem em ferocidade e barbárie tudo quanto é possível imaginar de bárbaro e feroz. Sob uma forma humana, vivem em estado de animais. Alimentam-se de raízes de plantas silvestres e de carne meio crua, macerada entre suas coxas e o longo de suas cavalgaduras. Suas vestimentas consistiam em uma túnica de linho e jaqueta de peles de ratazana selvagem. A túnica é de cor escura e apodrece no corpo. Cobrem-se com um gorro e envolvem as pernas com peles de bode.

Quando cavalgam, acredita-se estarem pregados em suas montarias, pequenas e feias, mas infatigáveis e rápidas como relâmpagos. Passam sua vida a cavalo; a cavalo se reúnem em assembléias, compram, vendem, bebem, comem e até dormem às vezes. Nada se iguala à destreza com que lançam, a distância prodigiosa, suas flechas armadas de ossos afiados, tão duros e mortíferos como o ferro.  

Em suas migrações, o gado e as famílias os seguem em carros; é aí que as mulheres fiam, cosem, e dão à lua os filhos e os criam. Se lhes perguntamos de onde vêm ou onde nasceram, não sabem...” (Relato do historiador romano Amiano Marcelino, citado por GUERRAS, Maria Sonsoles. Os Povos Bárbaros. S.P., Ática, 1987, p.47)  

 

Autores: Fábio Costa Pedro e Olga M. A. Fonseca Coulon.
História: Pré-História, Antiguidade e Feudalismo, 1989

home