ferrea vox
REVISTA DE FILOSOFIA E CULTURA
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AQUI TERÁS UM CAMINHO
Para: Larissa com muitos fandangos
Venho hoje no Dia Internacional das Mulheres não divinizá-las
como jamais fiz, nem estritamente justificar meu apoio à sua emancipação
como o faço todos os anos neste dia, sequer acusá-las pelo
que não vem fazendo, mas lançar luz para o que é possível
a elas fazer a si e à humanidade inteira. E todavia lançarei
mão de todos esses recursos antes de assegurar-vos de que aqui terás
um caminho, porquanto o caminho é abertura que caiba a todos e sobretudo
a todos quantos possam interessar..
Onde será este “aqui”, figura opaca e só aparentemente
distante? Antes de tentarmos ensaiar umas respostas, retornemo-nos a si,
pois não mais nos é patente divinizar a mulher. E destaquemos
em especial o amor incondicional que ela pode exercer aos filhos. Eis aqui
um primeiro motivo, haja vista que o amor exercitado ao homem ser-lhe-á
percebido depois como um dos caminhos e não a estrada principal.
É lhes digno de repressão o pensar assim, mulheres? Não!
Por isso, em primeiro lugar, por outro lado, divinizemo-nas chamando-as
MÃE.
De todo modo, porém, não é o tema da maternidade
o tema comemorativo nesse dia que representa a expressão do espírito
combativo e o projeto dos dias melhores que certamente hão de nos
contemplar e por que as estradas principais todas serão pisadas.
Não! Hoje é por bem dia de reavaliarmos nossas forças
para transformação do mundo em digno de si. Por isso, em
segundo lugar, não a divinizaremos, faremo-nas sobretudo admitir
e verem-se como HUMANAS.
Consentir-se uma divindade é tarefa árdua. Naturalmente
aí o amado emancipa o amante. Fácil motivo de se ver porque
a extrema maioria das mulheres conhecidas acostumam-se com a ilusão
do adepto. Feito deusa, uma mulher aceita a reverência, o incenso
e o sacrifício. Alguns homens que verificaram isto explicaram-no
pela educação na infância, super proteção
dos pais e apoio social na “pureza (sagrada) da mulher” (refiro-me
à virgindade imposta e posteriormente auto-imposta e ainda mais
posteriormente suspensa ou por ato de vontade ou por decreto de casamento).
Homens inteligentes estes, quiseramos segui-los. Todavia não! Preferimos
ouvir o mais profundo da mulher e além, aceitando no momento da
juventude da mulher onde as experiências emancipatórias estão
ainda aquém da assimilação de si por divindade e além
da pureza imposta; este é o momento da emancipação
sexual.
Perguntar-me-iam pelas razões da insistência na
sexualização da emancipação. Não deveria
responder se de todo eu próprio as soubessem. No entanto, reafirmo
algo permanentemente simples: enquanto aguardamos a emancipação
dos homens pela das mulheres; vivenciemos todos, homens e mulheres um pouquinho
dessa estrada na liberação sexual da mulher.
Ainda assim, disseram-nos algumas vezes. “já vi mulheres
liberadas que eram virgens...” Por obscuro, tive de concordar. Mas jamais
ousaríamos deixar de arrematar uma coisa, ainda que desprezássemos
como digna de exemplo Joana Dark e suas seguidoras: “- E no entanto, o
motor de sua liberdade residiria ali mesmo próximo ao hímen...”
E por fim era necessário que insistíssemos nessa visão
sexual da liberdade. Não porque fosse a importância da liberdade
o fim para o qual os impulsos da fruição, da natureza e da
felicidade se guiassem. E sim móvel, desenvolvimento pelo qual se
transporta a escolhas dignas de emancipação.
Dito isso, pareceu-nos não haver discordância quanto
a um ponto. A nova mulher e o novo homem se equivalem. O que se exprime
daí a pergunta; houve conquistas? Sim, houve conquistas! A equivalência
sentimental, visual, psicológica e social ( pensando no trabalho)
etc. foram vistas por nós todos entortando nossos narizes. Mas é
desta equivalência que gerará a pacificação
das divergências para as próximas gerações.
Será preciso fé; por que a fé é possível,
constituinte sine qua non da criação. É isso
o que considero possível; é possível emancipar-se.
Mas o que é emancipar-se? Poderiam me perguntar. Sim, eu respondo
, poderemos nos fazer essa pergunta sempre. É filosoficamente impossível
dar uma definição definitiva. Haja vista que emancipar-se
não constitui-se apenas uma conquista. Emancipar-se , tarefa conjunta
da humanidade inteira, refere-se não apenas a um patamar,
a uma elevação a ser conquistada, mas refere-se à
renúncia diária dos pensamentos e ações cativos,
ainda que sejam atingidas conquistas.
Modo de ser que se resume minimamente assim:
“A mulher não é divina, é humana; o que
“ela” não fez foi desdivinizar-se humanizando-se; e aqui terás
o caminho se construirmos o seu sexo livre.”
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Revista de filosofia e cultura
ALUNOS DA TURMA DE 1997 - UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO