O filme, lembrado pelas cenas
antológicas e indefectível trilha sonora, ainda rendeu mais
duas continuações e foi vencedor de 3 Oscars. Um tanto lento
para ser assistido por uma geração acostumada com uma linguagem
cinematográfica rápida, "videoclipiana", O Poderoso Chefão
é um filme, como já foi mencionado acima, perfeito. O
único ponto negativo seria o sangue vermelho demais utilizado no
filme, comum nas produções dessa época. Assista apenas
se estiver preparado para receber as longas horas de belas imagens e intepretações:
acomode-se no sofá, esqueça o ritmo anfetamínico dos
filmes atuais e entre na história dos Corleone e o mundo criado
por Coppola.
Pulp
Fiction (Quentin Tarantino, 1994) - "Ame-o ou Deixe-o". É assim
que a maioria encara o violento filme de um dos cineastas mais inovadores
da década de 90. Pulp Fiction é simplesmente o relato
imparcial das ações de um grupo de gangsters e as pessoas
que com eles se envolvem. Apenas isso. Mas Tarantino conduz a história
com uma linguagem nova, atraente, de tal forma que cria um tipo de filme
novo, repudiado por muitos, adorados por outros, como bem descreve a frase
lá em cima. O filme preocupa-se apenas em contar um história,
sem personagens heróicos e perfeitos, onde todos são humanos,
logo todos são maus. O filme não mostra violência gratuita,
como argumentam aqueles que o criticam, já que tudo faz parte da
narrativa, tudo tem a ver com o clima de violência-humana-sarcástica
do filme.
Os diálogos rápidos
(de hambúrguers a corpos sem cabeça) e as situações
inesperadas nas cenas de ação (mostrando que todos erram
e acertam, quebrando com todos os clichês de filmes de ação
até então) e a ultraviolência são os ingredientes
básicos dessa receita que é Pulp Fiction. Receita
essa consumida por legiões de adoradores: se hoje em dia nove entre
dez fanáticos por filmes de ação sabem entoar o fictício
Ezequiel 25, 17 de cor, saiba que tudo é culpa da maestria
de Tarantino em escrever e dirigir suas histórias.
Matrix
(Larry & Andy Wachkovski, 1999) - O único filme do Oscar 2000
com 100% de aproveitamento (abocanhou as estatuetas em todas as quatro
categorias em que concorria). Superou o predestinado ao sucesso Stars
Wars Episódio 1: A Ameaça Fantasma nas bilheterias. Mesmo
não podendo se livrar do estigma de ser um filme do cinemão
hollywoodiano, Matrix é um filme que merece todos os elogios
e prêmios que lhe são cabidos. A história do hacker
Neo que descobre que o mundo onde vivemos é uma farsa criada por
computadores é contada de uma forma especial. Do ponto de vista
técnico, a montagem do filme é impecável. A trilha
sonora condiz totalmente com o clima, e a sonorização é
um capítulo à parte.
E uma das grandes sacadas são - claro - os efeitos especiais. Como todo filme alicerçado nos efeitos especiais, Matrix está fadado ao esquecimento rápido. A diferença é que em Matrix os efeitos visuais computadorizados são utilizados de forma inteligente, ou, no mínimo, diferente. Em vez de simplesmente criar as memas cenas, monstros ou robôs, que todo filme de ficção o faz e logo é superado por outro mais recente, há cenas nunca antes vistas ou pensadas. Exemplos claros são as cenas onde os personagens se esquivam das balas e as giradas de câmera em 360º utilizadas até então só em videoclipes. Fora os "modismos" que lançou: era fácil ver quem tinha virado fã do filme por estar usando capote preto e óculos escuros.
O filme chegou a gerar debates
acadêmicos sobre realidade ou liberdade humana. Apesar das tentativas
de teorização, é inevitável catalogar Matrix
como mais um filme comercial de ficção. Um filmaço
de ficção, que mesmo com toda sua previsibilidade consegue
superar com todos os outros filmes de ação, sempre com seus
clichês e efeitos especiais que apenas evoluem tecnicamente a cada
ano.
O
Paciente Inglês (Anthony Minghella, 1996) - Esse filme merece
cada um dos 9 Oscars que recebeu. É uma obra maravilhosa sobre um
dos temas mais complexos e abstratos que existem: a paixão humana.
Em um resumo absurdamente curto e grosso, pode-se dizer que é um
filme sobre duas pessoas que se amam intensamente e colocam esse sentimento
acima de tudo, não se importando em abrir mão de todas as
outras coisas relativas ao homem tais como política, lucro e poder
- e justamente por isso enfrentam dificuldades.
Para nos contar essa história,
o filme abusa de todos os recursos da linguagem cinematográfica.
Uma fotografia bela, atuações perfeitas, trilha sonora soberba,
produção bem cuidada. Tudo para mostrar uma história
humana num mundo que perdeu a humanidade. O casal vivivo por Ralph Fiennes
e Kristin Scott Thomas não liga para a guerra que corre no mundo,
para bens materiais, para nada, a não ser eles mesmo. E fazem isso
de maneira humana, com erros, mas sem egoísmo intencional. O mundo,
claro, não deixa de dar o troco, fazendo a história enveredar
para um triste fim.
Devido ao humanismo extremo
da história de amor e a fotografia, pode ser um filme pouco compreendido
aos acostumados com os filmes românticos com fórmulas prontas,
consumidos pela grande maioria. Mas vale lembrar que com seu roteiro rico,
complexo, tira a história do água-com-acúcar que pode
aparentar ser. Ao longo de suas várias horas, o filme, por vezes
lento devido ao estilo europeu, é uma obra-prima do cinema, coisa
rara na década de 90.