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Amyr Klink fala sobre sua nova viagem
Entrevista: Adriana Fernandes
Fotos: Lú Fernandes & Joe Ferreira


Após seis anos de projetos, construções e idéias finalmente o Paratii-Vento, novo barco do navegador Amyr Klink, será finalizado. O barco, que está ancorado no Píer 26 no Guarujá – Litoral Sul de São Paulo, deve partir em breve para a Europa onde serão inseridos dois mastros Aero Rig. O Paratii – Vento tem um comprimento total de 93 pés (29,72 m) por 8,5 m de boca. Carregado pode chegar a 100 toneladas, com um sistema de dois mastros Aerorig. Vai conseguir atingir a velocidade de 20 nós (36 km/h). Possui três lemes e uma bolina. Podendo navegar em 1,65 metro de água quando recolhida e com a bolina embaixo calará em 5,30 metros. Somente no retorno dessa viagem é que a primeira viagem-teste com o novo barco será iniciada. Em uma entrevista exclusiva você saberá um pouco mais sobre o novo barco e a nova viagem de Amyr Klink. Confira abaixo:

360 Graus – Amyr, Fale um pouco sobre o seu novo barco, o Paratii-Vento.

Amyr - Estamos no acabamento final do barco, instalando os últimos equipamentos. Ele já está praticamente pronto e acredito que daqui a um mês de trabalhoso esteja totalmente finalizado, aí só faltarão os mastros que estão sendo feitos em paralelo na Espanha; devo colocar esses mastros daqui uns dois meses mais ou menos. O barco vai viajar para a Europa para colocar os mastros e aí eu volto para o Brasil para começar a primeira viagem. Apesar do tamanho é o menor veleiro a usar lastro artificial, é uma espécie de jipe dos mares, eu queria um barco que pudesse chegar até lugares difíceis seguidas vezes, um barco que pudesse surfar ondas de 30m de altura, que eu pudesse tocar sozinho e que tivesse um custo operacional muito baixo. Acho que é isso o que a gente conseguiu aqui. Ele é muito fácil de tocar, acho ele bonito e mais do que isso ele é muito forte e fácil de operar, além de ser flexível pois permite diferentes usos como levar de 40 a 50 alunos que nunca viram um barco na vida, permite levar um grupo de alpinistas com equipamento pesado, entre outros. 

360 Graus – Quando este barco começou a ser construído?

Amyr - É um projeto longo e tecnicamente complicado, estou há seis anos nesta construção. Em função deste barco nós tivemos que montar um estaleiro, aprender a técnica que eu queria usar que é a construção em alumínio. Neste tempo eu casei, tive três filhas, dei uma volta ao mundo, mas o pensamento sempre em volta do barco que são experiências que a gente vai acumulando para chegar até o ponto que o barco como está hoje.

360 Graus – E sobre sua nova viagem? Conte-nos sobre ela.

Amyr - Tirando a ida para a Europa quando colocaremos os mastros a outra viagem é curta e preparatória. Não estou preocupado em colocar em prática o projeto mas sim em funcionamento a nova máquina. Esta ‘viagem-teste’ vai ser uma volta ao redor da terra, a mesma viagem que fiz só que numa latitude maior e eu queria começar pela Antártida. Esta viagem deve partir em novembro deste ano.

360 Graus- Desta vez você vai sozinho ou com uma equipe?

Amyr - Já naveguei muito com equipe, mas este barco foi feito pra navegar em solitário. Só que eu posso navegar "em solitário" com 40 pessoas a bordo. A idéia é que apenas uma pessoa navegue, como em um Air Bus, um ou dois pilotos fazem tudo e o resto da tripulação não tem que entender nada. Ao redor da Antártida eu quero ir com seis pessoas, mas se não aparecer nenhum dos seis eu posso ir sozinho. Essa é a versatilidade que esse projeto permite.

360 Graus - Qual é a tripulação ideal para navegar no seu barco?

Amyr - A característica mais importante é a boa vontade técnica e a disponibilidade física. Falo isso porque todo mundo na hora de subir no barco fala que faz qualquer coisa, mas 15 dias depois muda radicalmente; um não come carne, outro não bebe leite desidratado e o outro tem medo de se molhar. Por isso que eu queria um barco em solitário que pudesse confiar em um ou dois tripulantes para a navegação.

360 Graus – O que as pessoas verão no seu site durante as viagens?

Amyr - Eu pretendo fazer algo diferente não apenas um diário de bordo mas sim incluir informações para as pessoas que estão velejando. Quero levar ao público informações atualizadas mas também pretendo continuar ligado ao radioamadorismo que eu acho altamente moderno pois há uma identificação formal dos indivíduos, a solidariedade é verdadeira, mesmo ultrapassado eu não abro mão.

360 Graus – Falando em radioamadorismo fiquei sabendo que tem uma senhora que você sempre se comunica nas suas viagens, quem é ela?

Amyr - É a Dona América, ela é um exemplo que o radioamadorismo funciona. Ela não é navegadora oceânica mas ajuda muita gente. Ela auxilia plataformas petrolíferas, vai atrás de remédios para navegadores, ela tem muita disposição e um espírito fantástico. Eu gosto muito da internet pra trabalhar, mas para conversar não tem nada melhor que o radioamador.

360 Graus - Entre as características técnicas do seu barco tem uma que é totalmente diferente, o calado de apenas 1,5 m. Conte-nos a respeito.

Amyr - O calado foi feito pra encalhar e não para fugir deste problema. Apesar do tamanho, o Paratii-Vento é um barco que anda em qualquer profundidade, as viagens de exploração precisam de um detalhe como esse. É um universo totalmente diferente fazer uma volta ao mundo com um veleiro que tem 2,20 de profundidade e que não se pode chegar em águas de 0,60 m a 0,70 m. Os barcos com calado maior têm que fazer as viagens dos iates clubes. Eu quero chegar a todos os lugares, onde pode-se tomar banho em águas vulcânicas ou totalmente transparentes, quero ir ate o limite total. Um barco com mais de 2 m de calado, por exemplo, não vai a nenhum lugar do Nordeste brasileiro, já um barco que pode encalhar poderá descobrir milhares de lugares que eu que fiz a costa do Brasil diversas vezes não conheço. É um universo totalmente diferente, por isso que o novo barco é meio abrutalhado, não tem pintura, ele é um 4x4 do mar. Poderei até tirar os mastros e navegar em rios.

360 Graus - Então não vai ser só uma viagem pelos mares?

Amyr - Não, pretendo navegar no Rio São Francisco e até na Amazônia que é igual a Antártida, é a mesma dificuldade de navegação só que em um lugar tem gelo e no outro madeira.