Artigos da Dra. Carla de J. Rodrigues, 25 de novembro de 2001:
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Indicação e uso de coletes, órteses fixas e dinâmicas em crianças com distrofia muscular


A indicação e uso de órteses em pacientes com distrofia muscular são temas polêmicos e bastante contraditórios entre os profissionais da saúde.

Devido às alterações posturais graves decorrentes dos encurtamentos e atrofia musculares, principalmente quando a criança se encontra na fase adolescente é necessária a prescrição de vários aparelhos ortopédicos com o objetivo principal de manutenção da integridade e funcionalidade posturais. (A)

Segundo relato da fisioterapeuta Márcia, da Associação Brasileira de Distrofia Muscular, a aplicação de coletes corretivos para impedir, retardar e minimizar os desvios laterais e ântero-posteriores da coluna mostrou-se contra-indicada por levar à piora do quadro respiratório uma vez que tais aparelhos, mesmo em forma de cinto, acabavam por limitar a contração voluntária da musculatura respiratória, após o que, segundo alega, uma hipotonia não só de tal musculatura, mas também dos extensores de tronco era observada mais rapidamente do que nos pacientes que não usavam colete.

(B) faz uma referência ao uso de órtese bilateral em membros inferiores citando como objetivos: extensão de joelho, estabilidade pélvica, manutenção da posição ortostática e facilitação do crescimento ósseo e do funcionamento do sistema cárdio - respiratório.

Segundo a Dra. Deering, o uso das goteiras para manutenção dos tornozelos em dorsiflexão apenas durante a noite é uma idéia que soa terrível para alguns pais mas pode manter a flexibilidade dos flexores plantares. Trata-se de um estiramento passivo que não é traumático para criança e que previne traumas futuros.

O tradutor para o espanhol da Dra. Deering cita ainda que a escolha entre órteses e goteiras é totalmente individual, porém existe uma tendência ao uso de qualquer recurso que auxilie a criança a manter seu equilíbrio e atividades da vida diária com outras crianças. Defende ainda que a marcha deve ser preservada o máximo possível para amenizar a presença de encurtamentos musculares, manter as condições ósseas (prevenindo complicações como osteoporose) e contribuindo para auto - estima da criança.

Quanto aos pacientes em fase não-ambulatória são indicadas goteiras dinâmicas durante o dia e goteiras fixas durante a noite, ambas com objetivo principal de manutenção da flexibilidade. (C)
Uma observação muito importante é a visita regular ao ortopedista a cada 3 meses para que sejam avaliadas e ajustadas as goteiras e órteses. Má posição ou mau alinhamento das órteses é muito mais prejudicial do que benéfico. (C)

A partir desta pesquisa pode-se chegar a duas conclusões: a primeira que a grande maioria dos relatos ortopédicos diz respeito aos encurtamentos musculares, deformidades articulares e sobre os aspectos obrigatórios (como uso de apoios, assentos macios, posicionamento, ortostatismo com aparelhos e mobilização passivo - assistida) que se seguem à evolução da patologia que é progressiva e leva aos pacientes à cadeira de rodas (aqui se incluindo artigos sobre o tipo de cadeira mais adequada para o momento do paciente: motorizada ou não, com alta ou baixa sensibilidade aos movimentos do paciente, etc) e prevenção e retardo das complicações respiratórias.

Tal fato deva-se talvez à preconização dos tratamentos em relação aos aspectos mais graves da doença que são a perda das posições anti - gravitacionais, tendo como menos relevante a rápida fase de transição entre as fases de ambulante - não-ambulante. Por outro lado pode-se ter uma atitude conservadora que preconizará ao limiar máximo (dentro dos limites da fadiga) a estimulação e solicitação da contração muscular voluntária do paciente como forma de retardar os comprometimentos subseqüentes ao comprometimento muscular.
A segunda conclusão é que o uso de órteses e coletes podem ser indicados aos pacientes com Distrofia muscular desde que adequadamente assistidos por uma equipe que compreenda no mínimo os seguintes profissionais: um fisioterapeuta, um nutricionista (para acompanhamento e orientação da dieta e hábitos alimentares da criança) e um ortopedista. E que reavaliações periódicas sejam feitas para analisar não só a progressão da patologia, mas a resposta frente aos aparelhos indicados.

Ainda como sugestão fica a proposta de uma pesquisa com grupo análise e grupo controle ou mesmo sobre levantamento retrospectivo de dados dos pacientes da ABDIM que já fizeram uso de tais aparelhos e qual foi a experiência que obtiveram.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
(A) Internet, site em espanhol: http://www.acortec.es/formacion_7.htm
(B) Internet, site: http://www.fisiocello.hpg.ig.com.br/Saude/1/interna_hpg1.html
(C) DEERING, Mary Beth, Internet, site em espanhol: http://www.terra.es/personal/fabiolo/terfis.htm
MÁRCIA, Fisioterapeuta ABDIM - Associação Brasileira de Distrofia Muscular, 2001

 

Dra. Carla de J. Rodrigues; Fisiopediatria - Pesquisa em Saúde Infantil, São Paulo/SP, Brasil.
Contato: cax_fisio@yahoo.com, bip (0xx11) 3444-4545 cod. 154661.