Artigos da Dra.
Carla de J. Rodrigues, 09 de junho de 2001:
Veja a lista completa de Artigos-Cognição
(cognição, visão social da deficiência, temas polêmicos, olhar inusitado,
relatos de prática em saúde)
Interpretando
e destacando o aprendizado observado por Jean Piaget - parte
I
Sumário:
Primeira
parte da seqüência de matérias baseadas nos achados
e conclusões de uma das maiores personalidades no desvendamento
do desenvolvimento cognitivo. Conceitos básicos da ótica
piagetiana sobre a cognição. |
Inúmeras
matérias podem transcorrer e gerar discussão no tocante
à cognição sob a ótica piagetiana. Começando
do início, a criança com uma semana de idade, e já
partindo de um questionamento: como é que as reações
que acompanham as crianças, as sensório-motoras, posturais,
reflexas e outras, que já vêem no "pacote" hereditário
do RN o preparam para a adaptação ao ambiente externo? Além
de serem preparatórias para os comportamentos posteriores aos quais
essas reações cederão lugar através de seu
próprio uso, vivência e modificação?
Antes de responder a essa questão, é importante esclarecer
o conceito de adaptação de Piaget. Para ele a adaptação
do adulto (inteligência) é herdada da adaptação
da criança e é a inteligência sem pensamento ou linguagem
(sensório - motora) que representa a base para as próximas
formas de inteligência.
A vida é um equilíbrio entre as formas e o meio. Isto é,
há um constante jogo onde o organismo conserva sua organização
e coordena os dados do meio de modo a incorporá-los na sua organização
(esse é o conceito de assimilação). Assim, em um
momento há incorporação dos dados no organismo, noutro
há modificação do organismo em função
dos dados do meio (conceito de acomodação). Temos que a
adaptação do indivíduo é o equilíbrio
entre assimilação e acomodação.
A adaptação intelectual é assimiladora porque envolve
incorporação da realidade exterior segundo a experiência
ou atividade da criança aos esquemas que ela já formou.
Mas também é acomodadora dos dados do meio e suas variações.
A assimilação nunca é pura porque é preciso
formar novos esquemas para juntar aos anteriores novos dados. Cada operação
intelectual é sempre relativa a todas as outras, cada esquema é
coordenado a todos e forma, portanto um Total de partes diferentes.
Respondendo agora à questão levantada. Num bebê de
uma semana pode-se notar que as reações de reflexo de sucção
e preensão, gritos, fonações, gestos e atitudes globais
do corpo são as bases de uma sistematização que a
cada vivência vai ultrapassando o automatismo puro. Isso mostra
que o bebê já é um ser que esboça uma "conduta"
se pensarmos que a reação total do indivíduo pode
ser evidenciada como única.
Isto também quer dizer que as reações que o bebê
tem já desenham um desenvolvimento histórico, onde cada
nova atividade depende da anterior e condiciona a próxima, segundo
uma evolução orgânica. Para exemplificar: os bebês
reagem de modos diferentes à primeira mamada. Para uns basta o
contato dos lábios e língua com o mamilo para que se inicie
a sucção/deglutição, já outros, com
coordenação mais lenta, perdem o mamilo constantemente,
tendo dificuldade para reencontrá-lo e reiniciar a sucção.
|