CARTA DE UM FILHO A UM PAI (2)
 
Querido pai:

Hoje eu sai batendo a porta com força. Não era a primeira vez que eu reagia dessa 
maneira depois de uma discussão com você.

Mas algo no seu olhar cansado, um apelo mudo atirado em minha direção, pouco antes 
de eu sair tão afoitamente, me fez raciocinar melhor.

Descobri, nesse momento, o quanto sou intolerante com os seus pontos de vista.

Eu, que poderia me orientar pelo seu exemplo, de homem ponderado, bondoso, às 
vezes até tímido, que nunca ergueu a mão para mim nem abusou da sua posição de pai.

Eu o estava submetendo a muitas humilhações. Quero confessar o quanto fui injusto 
com você. Quantas vezes eu o chamei de quadrado perante os meus amigos...

E você, com uma paciência infinita, mal tentava se justificar, submetendo-se aos 
risos de outros rapazes que também poderiam ser seus filhos. 
 
Lembra-se de quando eu insisti em comprar uma moto? Bati o pé, ameacei largar os 
estudos que você estava pagando, disse que ia embora de casa e quando a coisa chegou 
a esse ponto - que remorso a recordação disso me causa neste momento - você quis ceder.
E para quê? Para me ter a seu lado, para satisfazer um capricho meu, uma teimosia 
injustificada.

Eu devia estar louco para querer uma máquina que manteria você e mamãe acordados 
todas as noites, enquanto eu não voltasse vivo para casa. 

Quando eu entrasse, encontraria você dormindo no sofá, diante da televisão fora do ar.

E você, com receio de despertar em mim um riso irônico ou uma palavra de recriminação, 
jamais confessaria estar à minha espera.

-- Eu estava assistindo a um filme e adormeci -- diria você, um pouco envergonhado por 
demonstrar a fraqueza de me amar.

Fico pensando, agora, que você não teve vez.

Quando moço, quando criança, que é o melhor tempo da nossa vida, você sofreu a tirania 
de um pai rude, homem de poucas palavras e de muitas palmadas, como você mesmo me 
contou muitas vezes.

Quando chegou o seu momento de ser pai, nasci eu. A quem você nunca tratou como foi 
tratado, talvez por se lembrar de como é humilhante ter um pai mandão e teimoso.

Eu sei que pedir desculpas não adianta muito. Mas talvez seja um começo.

Pensando bem, eu me orgulho de você. Então, porque não dizer isso? Por que não agir 
de acordo com esse sentimento?

Alguma coisa está errada entre nós e receio muito que seja eu.

Penso que não vai ser fácil para mim mudar de repente. Mas prometo fazer de tudo 
para agir como um filho que tem um pai bom, honesto, maravilhoso como você é.




Luiz Taddeo
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