Era o país dos poços. Qualquer visitante que chegasse, enxergaria
somente poços: grandes, pequenos, feios, lindos, ricos, pobres...
Os poços falavam entre si, mas à distância porque havia terra seca
entre um poço e outro. Na realidade, quem falava era a boca do poço,
ao nível da terra. E como a boca era oca, o poço dava uma sensação
de vazio, de angústia, criando eco (eco vazio que vai sem levar nada
e volta sem trazer nada)...
Havia poços com bocas muito largas permitindo receber um monte de
coisas inúteis. Quando estas passavam da moda, era só mudar para
outras, também inúteis e passageiras... E as bocas continuavam
vazias, ressequidas, bem como a terra ao seu redor.
E NO FUNDO... o poço NÃO ESTAVA CONTENTE !
E, por falar em fundo: bem, a maioria dos poços, entre as frestas
deixadas pelas coisas, permitia de vez em quando, sentir entre os
dedos algo diferente: eram os momentos em que percebiam água no
fundo. Diante desta sensação tão rara, alguns até tinham medo e
procuravam evitar o contato.
Outros, porque tinham coisas demais, abarrotando a boca, esqueciam
logo a "sensação de profundo", e se ocupavam novamente com a
superfície...
Mas esta superfície, às vezes algum poço falava desta experiência
diferente. Até que houve um poço que, olhando bem para o seu
interior, entusiasmou-se e quis continuar. Como as coisas que
abarrotavam sua boca o incomodassem, procurou libertar-se delas,
lançando-as corajosamente para longe. E o silêncio chegou!. E ele
começou a ouvir o borbulhar da água lá no fundo, e sentiu uma paz
profunda, viva e duradoura... refrescante e salutar.
E este poço descobriu que sua razão de ser era esta: a vida que se
encontra na profundidade de si mesmo, e não na multidão de coisas
que se acumulavam antes em sua boca.
E SE TORNAVA MAIS POÇO QUANTO MAIS PROFUNDIDADE TINHA!
Feliz com a descoberta, procurou tirar água de seu interior, e a
água, ao sair, refrescou a terra seca do seu redor e tornou-a
fértil e boa, e as flores começaram a brotar.
...A notícia se espalhou. E as reações foram diversas: uns se
mostraram incrédulos, outros sentiam o impulso por também fazer a
experiência do profundo de si mesmo. Mas muitos desprezaram a
novidade porque era difícil. Era mais fácil deixar tudo como
estava...
Sem dúvida, alguns tentaram fazer a experiência e começaram a
libertar-se dos objetos inúteis que abarrotavam a sua boca.
Finalmente encontraram água em seu interior.
A partir de então, as surpresas aconteceram: por mais água que se
retirasse para regar ao redor, o poço não se
esvaziava!
E aprofundando ainda mais, descobriram que:
ELES ESTAVAM UNIDOS ENTRE SI POR ÁGUA COMUM; A ÁGUA ERA A MESMA!
E começou a comunicação profunda, porque as paredes dos poços
deixaram de ser limites...
Mas a descoberta mais sensacional veio depois:
A ÁGUA QUE LHES DAVA VIDA VINHA DE UM MESMO LUGAR: O MANANCIAL...
O manancial estava bastante longe, na montanha que dominava o
País dos Poços. Lá estava a montanha: majestosa, serena,
pacífica! E com o segredo da vida em seu interior.
A montanha estava sempre lá. Algumas vezes apenas visível entre
as nuvens; outras vezes radiante de esplendor...
O manancial não tinha sido percebido antes, porque os poços se
preocupavam somente com sua superfície. A partir da nova
descoberta, esforçavam-se por aumentar seu interior crescendo
em profundidade, para que o manancial chegasse mais facilmente...
E A ÁGUA QUE TIRAVAM DELES TORNOU A TERRA BELA.
Enquanto isso, lá fora, os que não faziam a experiência do
profundo continuaram a aumentar sua boca, procurando
inutilidades...
Autor não mencionado
Enviada por Gasparzinha - Mensagem da Paz
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