A GLÓRIA DO ESFORÇO
 
Existiu no tempo de David um grande artista que se especializara na harpa com 
tamanha perfeição que várias pessoas importantes vinham de muito longe, a fim 
de ouvi-lo.
Grandes senhores com as suas comitivas descansavam, de quando em quando, junto 
à moradia dele, cercada de arvoredo, para escutar-lhe as sublimes improvisações. 
O admirável mestre fez renome e fortuna, parecendo a todos que ninguém o igualaria 
na Terra na expressão musical a que se consagrara.
Em seus saraus e exibições, possuía em seu serviço pessoal um escravo aparentemente 
inábil e atoleimado, que servia água, doce e frutas aos convivas e que jamais 
conversava, fixando toda a atenção no instrumento divino, como se vivesse fascinado 
pelas mãos que o tangiam.
Muitos anos correram quando, certa noite, o artista volta, de inesperado, ao 
domicílio,  findo o banquete de um amigo nas vizinhanças e, com indizível espanto, 
assinala celeste melodia mo ar. 
Alguém tocava magistralmente em sua casa solitária, qual fora um anjo exilado no 
mundo. 
Quem seria o estrangeiro que lhe tomara o lugar?
Em lágrimas de emoção por pressentir a existência de alguém com ideal artístico 
muito superior ao dele, avança devagar para não ser percebido e, sob intraduzível 
assombro, verificou que o harpista maravilhoso era o seu velho escravo tolo que, 
usando os minutos que lhe pertenciam por direito e sem incomodar a ninguém, 
exercitava as lições do senhor, às quais emprestava, desde muito tempo, todo o seu 
vigilante amor em comovido silêncio.
Foi então que o artista magnânimo e famoso libertou-o e conferiu-lhe a posição que 
por justiça merecia.
- A aquisição de qualidades nobres é a glória infalível do esforço.
Todo ser humano que usar as horas de que dispõem na harpa da vida, correspondendo, 
à sabedoria e à beleza com que Nosso Pai se manifesta, em todos os quadros do mundo, 
depressa lhe absorverão a grandeza e as sublimidades, convertendo-se em 
representantes do Céu para seus irmãos em humanidade. Quando a criatura, porém, 
somente trabalha na cota de tempo que lhe é paga pelas mordomias da Terra, sem 
qualquer aproveitamento das largas concessões de horas que a  Divina Bondade lhe 
concede no corpo, nada mais receberá, além da remuneração transitória do mundo.


Do livro Jesus no Lar
Enviada por Angela Crespo


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