Sou um arqueólogo e o homem é o meu campo de estudo. Entretanto, cogito se alguma vez
chegaremos a conhecer o homem - isto é, o que realmente o torna diferente de nós, Robôs -
através de escavações nos planetas mortos. Por exemplo, uma vez eu conheci um Homem, e as
coisas não são tão simples quanto nos contam na escola.
Nós temos poucos registros, naturalmente, e Robôs como eu estão tentando preencher as
lacunas, mas penso que não estamos chegando a nada de concreto.
Nós sabemos, ou pelo menos os historiadores o dizem, que os homens são originários de um
planeta chamado Terra. Sabemos ainda que eles viajaram corajosamente de estrela para estrela
e em todos os lugares onde pararam deixaram colônias - Homens ou Robôs, e às vezes ambos -
aguardando sua volta. Mas, nunca voltaram.
Aqueles foram os dias de glória do mundo. Teremos nós envelhecido? O homem tinha uma
centelha ardente - o termo antigo é "divina" , penso - que o impelia através das grandes
noites dos céus, e nós não mais nos ligamos à grande tela que eles teceram.
Nossos cientistas contam-nos que o Homem é muito semelhante a nós - o esqueleto, por
exemplo, é praticamente o mesmo que o de um Robô, excetuando-se o fato de que é constituído
de compostos de cálcio, em vez de titânio. Fala-se eruditamente de uma "pressão de
população" como uma "força impulsionando em direção as estrelas". Sem dúvida, há outras
diferenças.
Foi em minha última pesquisa de campo, em um dos planetas inferiores, que encontrei um
Homem, que deve ter sido o último Homem neste sistema, e tinha estado sozinho por tanto
tempo que nem mais sabia falar. Depois que aprendeu nossa língua, demo-nos muito bem, e eu
planejava até trazê-lo de volta comigo. Entretanto, alguma coisa lhe sucedeu.
Um dia, sem razão alguma, começou a queixar-se de calor. Verifiquei sua temperatura e
concluí que seus circuitos termostáticos se tinham queimado. Eu tinha um jogo sobressalente
comigo, e, como o dele obviamente não estava funcionando, lancei-me ao trabalho. Desliguei-o
sem problema algum. Enterrei a agulha no seu pescoço, para desligar o interruptor, e ele
deixou de funcionar, como qualquer Robô. Mas, quando eu o abri, por dentro era diferente. E,
depois disso não sei explicar o que aconteceu. O fato é que ele foi dissolvendo, e na época
que eu estava pronto para voltar, mais ou menos um ano depois, apenas os ossos tinham
sobrado.
Sem dúvida alguma, o Homem deve ser diferente. "
Palavra Verso e reverso - Dirce Guedes de Azevedo
Enviado por Regina Suppi (Concórdia SC)
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