A TARTARUGA
 
Eu percebia que aquilo aborrecia muito os meus pais, porém pouco me 
importava com isso. 
Desde que obtivesse o que queria, dava-me por satisfeito. 

Mas, está claro, se eu importunava e agredia as pessoas, estas 
passaram a tratar-me de igual maneira. Cresci um pouco e de certa 
feita me apercebi de que a situação era desconfortante e me 
preocupei sem, entretanto, saber como me modificar. 

O aprendizado me foi dado em um domingo em que fui, com meus pais e 
meus irmãos, passar o dia no campo. Corremos e brincamos muito até que, 
para descansar um pouco, dirigi-me para a margem do riacho que corria 
entre um pequeno bosque e os campos. Ali encontrei uma coisa que 
parecia uma pedra capaz de andar. 

Era uma tartaruga. Examinei-a com cuidado e quando me aproximei mais o 
estranho animal encolheu-se e fechou-se dentro de sua casca. 
Foi o que bastou. Imediatamente pretendi que ela devia sair para fora 
e, tomando um pedaço de galho, comecei a cotucar os orifícios que 
haviam na carapaça. Mas os meus esforços resultavam vãos e eu estava 
ficando, como sempre, impaciente e irritado. 

Foi quando meu pai se aproximou de mim. Olhou por um instante o que eu 
estava fazendo e, em seguida, pondo-se de cócoras junto a mim, disse 
calmamente: 
- Meu filho, você está perdendo o seu tempo. Não vai conseguir nada, 
mesmo que fique um mês cotucando a tartaruga. Não é assim que se faz. 
Venha comigo e traga o bichinho.

Acompanhei-o e ele se deteve perto na fogueira que havia aceso com 
gravetos do bosque. E me disse: 
- Coloque a tartaruga aqui, não muito perto do fogo. Escolha um lugar 
morno e agradável. 

Eu obedeci. Dentro de alguns minutos, sob a ação do leve calor, a 
tartaruga pôs a cabeça de fora e caminhou tranqüilamente em minha 
direção. Fiquei muito satisfeito e meu pai tornou a se dirigir a mim, 
observando: 
- Filho, as pessoas podem ser comparadas às tartarugas. Ao lidar com 
elas procure nunca empregar a força. 0 calor de um coração generoso 
pode, às vezes, levá-las a fazer exatamente o que queremos, sem que 
se aborreçam conosco e até, pelo contrário, com satisfação e 
espontaneidade. 


Wallace Leal Rodrigues
Enviada por Angela Crespo


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