Conta-se que, um dia, um homem cercado de colegas, (passageiros, em sua vida).,
estando em um botequim qualquer, recebeu de um desconhecido, a muda de uma
planta.
E ainda, sem flor.
Foi uma gozação geral.
Ele a recebeu, por receber, levou para casa, por levar, plantou por plantar, sem
curiosidade ou animação.
Regou.
Sim, regou.
Com descaso, como fazia com todas as outras plantas do jardim da sua vida.
Pouca importância deu ao fato.
À muda e às flores que dela poderiam brotar, um dia.
Mal a olhava, e se a olhava, não sentia a sua presença.
As vezes, pensava até em retirar de seu jardim, de dentro de si, um presente não
esperado, aliás, nem tomou como presente., e sim, como tendo feito um grande
favor, tê-lo recebido.
O tempo passou, e com ele, muitas tristezas, mas, também, algumas alegrias.
Certo dia, em seu melhor dia, no seu melhor instante, estando trêmulo e aflito,
sonhando com o seu melhor sonho, (o seu filho por nascer), esqueceu-se de tudo.
De sua mulher, seus amigos, seus colegas do bar, do botequim, e de seu jardim.
Tudo transcorreu maravilhosamente.
Um belo filho.
Com vida, e cheio de vida. Saudável.
O ponto de encontro consigo mesmo.
Um elo com Deus.
Estava feliz. Muito feliz, com certeza.
E eis que uma voz, ao fundo, talvez a do seu próprio inconsciente, lhe disse:
Vá agradecer a mensageira de Deus, a que está entre você e o seu filho.
A responsável por tanta alegria e felicidade.
Dê-lhe flores.
E ele, desesperado, voando, flutuando nas nuvens, mal conseguia pensar onde
poderia arranjar flores naquele momento, até que vagamente se lembrou de que
em um canto abandonado do seu jardim, havia algumas rosas, vermelhas, grandes,
cheias de vida, como o seu filho e correu para elas.
Colheu.
E colheu todas.
Formou o mais lindo ramalhete que se poderia formar, e aos prantos, ora de
alegria, ora de tristeza, correu para a sua esposa e a presenteou.
De alegria, lógico, pelo seu filho, mas, de tristeza, pelo abandono e descaso
com que recebeu a muda, quem lhe deu e de como a tratou por tanto tempo.
E agora, em um simples gesto de amor, porém inesquecível, foi ali, em um
pedacinho esquecido de seu coração, que foi buscar o que mais precisava
naquele momento.
E a partir daí, passou a regar, com carinho, todas as sementes que encontrava
ou ganhava, em sua vida.
Principalmente a semente que acabara de nascer.
Talvez, em algum momento de nossas vidas, tenhamos ganho alguma planta ou
alguma semente que não lhe demos a devida importância., talvez até, nem a
tenhamos plantado devidamente em nossos corações, como deveríamos, mas um dia
teremos a certeza de que nada do que plantarmos e cuidarmos, em todos os nossos
dias, terá sido em vão.
Algum dia, em qualquer lugar que possamos estar, as boas plantas e sementes que
em nossos pensamentos e coração, semearmos, hão de brotar e nos dar os frutos
que até então, não sabíamos possuir.
Lyrio do Valle
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