Um homem estava sentado ao lado do caixão de sua companheira, triste e
amargurado. De repente viu passar à sua frente um desfile de formas
belas e brilhantes, leves de lábios rosados e olhos claros de alegria.
- Quem são vocês, belas criaturas? -- perguntou ele.
E elas responderam:
- Somos as palavras que você poderia ter dito a ela.
- Ah! Fiquem comigo! -- implorou o homem.
- Suas belas formas são como um punhal me cortando o coração, mas mesmo
assim fiquem comigo, pois ela está fria e muda e estou sozinho.
Elas responderam:
- Não, não podemos ficar porque não temos existência. Somos apenas a
luz que jamais brilhou.
E foram embora.
O homem continuou triste e amargurado. De repente viu se erguer entre
ele e o caixão um bando de formas terríveis, pálidas, de lábios brancos
e olhos de fogo. O homem estremeceu.
- Quem são vocês, formas horrendas? -- perguntou ele.
E elas responderam:
- Somos as palavras que ela ouviu de você.
O homem gritou aterrado.
- Saiam daqui, me deixem só! Melhor a solidão do que a sua companhia!
Mas elas se sentaram em silêncio, fixaram os olhos no homem e
permaneceram com ele para sempre.
Do Livro das Virtudes II, de Laura E. Richards.
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