A CASA DE MARIMBONDOS
 
Eram amigos e filhos da mesma aldeia na Europa. 
Um dia, desesperançados de conseguirem melhorar a situação em sua 
terra, decidiram embarcar para o Brasil e tomaram o mesmo navio. 
Sofreram iguais privações, compartilharam das mesmas decepções, das 
mesmas saudades da família que ficou, dos amigos e da própria 
pátria que os viu nascer. 
Mas um dia a situação mudou para um deles - enriqueceu; enquanto o 
outro continuou sempre pobre. 
Ambos mandaram vir suas famílias, porém, não continuaram vivendo 
na cidade. 
O rico adquiriu uma boa fazenda e nela construiu uma confortável 
casa e se mudou para lá; o pobre, vendo-se em extrema penúria, 
resolveu pedir ajuda ao conterrâneo, agora já não tão amigo.

Este, embora opulento, cedeu o pior pedaço de terra que possuía e 
foi ali que o pobre se alojou, num velho rancho coberto de sapé, 
que juntamente com a família ele deu uma ajeitada. 
A choupana contrastava com a soberba e luxuosa casa do patrício 
proprietário.

Certa vez, o infortunado homem cavou a terra seca e árida, 
enquanto o velho companheiro o espiava da sua varanda, pois gozava 
do privilégio de não precisar mais trabalhar. 
De repente, a enxada bateu num objeto resistente. 
Cavou mais, afundou o buraco e bem no fundo descobriu um pote que, 
possivelmente, há mais de um século estava ali sepultado, 
escondendo moedas de alto valor. 
Vendo-o, o rico ambicioso, avaro e desumano, se apressou em tirar 
o pote das mãos calejadas e queimadas pelo sol do patrício pobre, 
justificando que, se as terras eram suas, evidentemente também o 
achado lhe pertencia. Julgando que naquela área se ocultassem 
tesouros incalculáveis, despediu o patrício, apesar das suas 
súplicas.

Acomodando-se novamente na rede, chamou a família para que vissem 
o valioso tesouro descoberto em suas terras. 
Abrindo, porém, o pote, só encontrou uma casa de marimbondos que 
cobria toda a abertura do pote. 
Deduzindo que o amigo fez aquilo a título de zombaria, o milionário, 
possesso de raiva, jurou revidar o atrevimento do conterrâneo. 
Fechando cuidadosamente o pote, dirigiu-se para a choupana do 
pobre e, aproximando-se da janela, atirou o pote para o interior 
do rancho, dizendo:
- Antes que desapareça das minhas terras para mendigar em alguma 
praça, recolha o presente que lhe trago e leve-o como lembrança.

Dizendo isto, saiu quase correndo, com medo dos marimbondos.
Acontece, porém, que a caixa de marimbondos havia ficado presa à 
tampa, quando o homem pobre abrira o pote; entretanto, ao 
recolocá-lo, a caixa se desprendeu, encobrindo as moedas. 
Foi por essa razão que o rico avaro se enfureceu, julgando 
tratar-se de uma afronta do patrício.
Tão logo o pote bateu no chão, quebrou-se, espalhando as valiosas 
moedas. 
Daí ficou rico o pobre sofredor e o rico opulento sem as preciosas 
moedas, por haver sido tão desumano e egoísta.


Autor não mencionado
Enviado por Meire - Mensagem da Paz


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