Um gracioso par de tamanquinhos vermelhos foi exposto na
vitrina de uma pequena loja de calçados.
A filha de certa lavadeira que, por ali passava, sempre carregando
enormes trouxas de roupa na cabeça, não cessava de cobiçá-los.
Entretanto, a mãe, sozinha, lutava para sustentar com dificuldades
os cinco filhos pequenos.
Isabela era a mais velha e era quem trazia e levava a roupa para
que a mãe não perdesse tempo nessa tarefa.
Nas temporadas na praia da pequena cidade, ela ganhava algumas
gorjetas dos veranistas quando entregava a roupa que fora lavada
pela mãe.
E era através dessas insignificantes gratificações que a pobre
menina nutria a esperança de ainda juntar o suficiente para
adquirir os tamanquinhos vermelhos.
Para ela, por enquanto, bastava contemplá-los na vitrina.
Entretanto, os tamanquinhos eram presunçosos e não apreciavam os
olhares sonhadores de Isabela. Queriam, sim, ser exibidos por pés
macios e delicados de menina rica. Tanto desejaram que conseguiram.
A filha de abastados veranistas, acostumada a ver satisfeitos
todos os seus caprichos, pediu que a mãe os comprasse.
Passados dois dias, a garota ia saindo com as amigas para um
passeio, quando uma delas observou:
- Mas, Paulinha, você vai passear de tamancos?
Ali mesmo, no portão, ela os deixou depois de substituí-los por um
tênis.
E lá ficaram eles ao relento.
À noite, uma pesada chuva caiu, formando fortes enxurradas. Os
tamanquinhos viram a água crescendo... crescendo e os arrastando
aos trambolhões para bem longe dali.
Depois a chuva passou e o sol voltou a brilhar. Isabela
apressou-se em buscar as roupas. Notou que os tamanquinhos não
estavam mais na vitrina e ficou muito triste. Vinha distraída e
pesarosa, quando avistou um deles entre os entulhos empurrados
pela enxurrada. Pegou-o e um pouco mais além encontrou o outro
também.
Em casa, lavou-os com cuidado, deixando-os secar ao ar livre, mas
na sombra.
Ficaram ainda atraentes, especialmente para a pobre garota que
dificilmente reuniria o suficiente para comprá-los.
Na primeira oportunidade Isabela os calçou, saindo toda feliz para
a execução do seu trabalho costumeiro.
Os tamanquinhos vaidosos, agora tão desiludidos e humilhados pelo
abandono e desatenção recebidos pela menina rica, sentiram-se
compensados pela alegria que ainda conseguiram dar à pobre garota,
que por semanas a fio vinha acalentando o sonho de um dia poder
comprá-los.
A lição valeu, seguramente...
Autor não mencionado
Enviado por Meire - Mensagem da Paz
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