SEGREDO DE BRESA
 
Houve, outrora, na Babilônia um pobre e modesto alfaiate, chamado 
Enedim.
Homem inteligente e trabalhador, que,  por suas boas qualidades e amor 
no coração, era muito querido no bairro em que  morava.

Enedim passava o dia inteiro, de manhã à noite, cortando, costurando e 
preparando as roupas de seus numerosos fregueses, e, embora, muito 
pobre, não perdia a esperança de vir a ser muito rico, senhor de muitos 
Palácios e grandes tesouros.

Como conquistar, porém, essa tão ambicionada riqueza? - pensava o 
mísero alfaiate - Como descobrir um desses famosos tesouros que se 
acham escondidos?

Ouvira contar, histórias prodigiosas de aventureiros que haviam topado 
com cavernas imensas, cheias de ouro... E não poderia ele, à semelhança 
desses aventureiros felizes, descobrir um tesouro fabuloso?

Ah! Se tal coisa acontecesse, ele seria, então, senhor de um imenso e 
magnifico palácio... Teria numerosos escravos, e  todas as tardes, num 
grande carro de ouro, puxado por mansos leões, passearia sobre as 
muralhas da Babilônia, cortejando amistosamente os Príncipes ilustres 
da casa Real.

Assim meditava o bondoso Enedim, quando lhe parou à porta da casa um 
velho mercador da Grécia, que vendia tapetes, imagens, pedras coloridas 
e uma infinidade de outros objetos extravagantes tão apreciados pelos 
Babilônios.

Por mera curiosidade, começou Enedim a examinar as bugigangas que o 
vendedor lhe oferecia, quando descobriu, entre  elas, uma espécie de 
livro de muitas folhas, onde se viam caracteres estranhos e 
desconhecidos.

Era uma preciosidade aquele livro e custava apenas três dinares.
 
Três dinares. Era muito dinheiro para o pobre alfaiate. Para possuir um 
objeto tão curioso e raro,  Enedim seria capaz de gastar até os dois 
últimos dinares que possuía.

Está bem, concordou o mercador. Fica-lhe o livro por dois dinares, mas 
esteja certo de que lhe foi de graça!

Afastou-se o vendedor e Enedim tratou, sem demora, de examinar 
cuidadosamente a preciosidade que havia adquirido. Qual não foi a sua 
surpresa quando  conseguiu decifrar, na primeira página, a seguinte 
legenda, escrita em complicados caracteres caldaicos: "O segredo do 
tesouro de Bresa".

Por Deus! Aquele livro maravilhoso, cheio de mistério, ensinava, com 
certeza, onde se encontrava algum tesouro fabuloso. O TESOURO DE BRESA! 
Mas, que tesouro seria esse?

E com o coração a bater descompassadamente,  decifrou ainda: "O tesouro 
de Bresa, enterrado pelo gênio do mesmo nome entre as montanhas do 
Harbatol, foi ali esquecido, e ali se acha  ainda, até que algum homem 
esforçado venha a encontrá-lo".

Harbatol? Que montanhas seriam essas que encerravam todo o ouro 
fabuloso de um gênio?

E o esforçado alfaiate, dispôs-se a decifrar todas as páginas daquele 
livro, custasse o que custasse,  com o segredo de Bressa, para 
apoderar-se do tesouro imenso enterrado n'alguma gruta perdida entre 
as montanhas.

As primeiras páginas eram escritas em caracteres de vários povos. 
Enedim foi obrigado a estudar os hieróglifos egípcios, a língua dos 
gregos, os dialetos persas, o complicado idioma dos  judeus.

Ao fim de três anos, deixava Enedim a antiga profissão de alfaiate, e 
passava a ser o intérprete do Rei, pois na cidade não havia quem 
soubesse tantos idiomas estrangeiros.

O cargo de intérprete do Rei era bem rendoso. Ganhava Enedim, cem 
dinares por dia; ademais morava numa grande casa, tinha muitos criados 
e todos os nobres da corte o saudavam respeitosamente.

Não desistiu, porém, o esforçado Enedim, de descobrir o grande mistério 
de Bresa.

Continuando a ler o livro encantado, encontrou várias páginas cheias de 
cálculos, números e figuras. E, a fim de ir compreendendo o que lia, 
foi obrigado a estudar Matemática com calculistas da cidade, 
tornando-se, ao cabo de pouco tempo, grande conhecedor das complicadas 
transformações aritméticas. 

Graças a esses novos conhecimentos adquiridos, pode Enedim calcular, 
desenhar e construir uma grande ponte sobre o Eufrates; esse trabalho 
agradou tanto ao Rei, que o monarca resolveu  nomear Enedim para exercer 
o cargo de Prefeito.

Ativo e sempre empenhado em desvendar o segredo do tal livro, foi 
compelido a estudar profundamente as leis, os princípios religiosos de 
seu país e os do povo caldeu; com o auxilio desses novos conhecimentos, 
conseguiu Enedim dirimir uma velha pendência entre os doutores.

- É um grande homem o Enedim! - declarou o  Rei quando soube do fato 
- Vou nomeá-lo Primeiro Ministro.

E assim fez. Foi o nosso esforçado herói, ocupar o elevado cargo de 
Primeiro Ministro.

Vivia, então, num suntuoso palácio, perto do jardim Real, tinha muitos 
criados e recebia visitas dos príncipes mais poderosos do mundo.

Graças ao trabalho e ao grande saber de Enedim, o reino progrediu 
rapidamente e a cidade ficou repleta de estrangeiros; ergueram-se 
grandes palácios, várias estradas se construíram  para ligar Babilônia 
às cidades vizinhas.

Enedim era o homem mais notável do seu tempo. Ganhava diariamente mais 
de mil moedas de  ouro, e tinha em seu palácio de mármore e pedrarias, 
caixas cheias de jóias riquíssimas, e de pérolas de valor incalculável. 

Mas - coisa interessante! - Enedim não conhecia ainda o segredo do 
livro de Bresa, embora lhe tivesse lido e relido  todas as páginas! 
Como poderia penetrar naquele mistério?

E um dia, conversando com um venerando sacerdote, teve a ocasião de 
referir-se à incógnita que o atormentava.

Riu-se o bom religioso, ao ouvir a ingênua confissão, e, afeito a 
decifrar os maiores enigmas da vida,  assim falou:
- "O tesouro de Bresa já está em vosso poder, meu senhor. Graças ao 
livro misterioso é que adquiristes um grande  saber, e esse saber vos 
proporcionou os invejáveis bens que já possuis. 
Bresa significa "saber". Harbatol quer dizer "trabalho".


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