ÚLTIMOS PONTOS
A garota criticava a costura que a mãe lhe fizera, quando a tia, chamando-a contou-lhe a sua triste e amarga experiência pessoal:
"Quando jovem, critiquei grosseiramente uma blusa que mamãe cosia para mim. Ela, sem dar amostras de desgosto, disse-me com toda ternura: 'Vou pedir a Ana que me ajude a melhorar sua blusa; ela é boa costureira.'
"A verdade é que eu não gostava de costurar. Achava perda de tempo; mas nunca perguntei se mamãe gostava disso e se dispunha de tempo, pois ela estava sempre pronta a ajudar-me e eu a explorava. Assim é que lhe falei indelicadamente que não podiaesperar pela Ana e ela é quem devia ter procurado fazer coisa melhor. Ouvindo isso, os seus olhos se encheram de lágrimas. Naquela noite, notei que ela estava pálida e, com as mãos trêmulas, ainda tentava melhorar a costura. Na manhã seguinte, já não conseguiu levantar-se e por isso chamou-me ao seu lado, dizendo: 'Filha, não consegui terminar sua costura. Quando me sentir melhor, darei os últimos pontos, pois que agora me faltam forças.'
"Mas mamãe nunca chegou a dar os pontos finais... Senti duros remorsos, que até hoje me perturbam."
As duas foram ao sótão. Ali a tia abriu um velho baú e de lá retirou a blusa de cor viva, muito em moda na época, e lhe mostrou uma agulha que se enferrujara, presa aos fios do tecido. Quando a sobrinha tentou retirar a agulha, a tia a impediu, dizendo:
- Deixa-a. É apenas uma agulha enferrujada, mas que serviu para me curar do egoísmo e da falta de reconhecimento. É possível que também você careça dessa mesma lição nesse momento, por isso a conduzi até aqui...
A sobrinha não se ofendeu com tal procedimento da tia. Pelo contrário, reconheceu e assimilou muito bem a lição. Foi então que, saindo dali rapidamente, correu direto ao quarto onde a mãe costurava e, abraçando-a com o melhor do seu afeto, disse-lhe:
- Mamãe, por favor, perdoe-me o egoísmo tão desmedido. Eu não tenho o direito de ser exigente e muito menos ingrata com a senhora. Sei que está dando tudo de si para me fazer feliz, mas não estou demonstrando a menor capacidade de reconhecer o seu esforço.
Autor não mencionado
Enviado por Paulo Barbosa - Sábio
<< Um pedido ao amor
Pé grande, coração maior >>