447 O ladrão

Conta a lenda que, no inferno, penava a alma de um ladrão inveterado. Ali ele recordava os conselhos e as punições sofridas para que se afastasse do erro. Clamava angustiado pelo céu, buscando provar arrependimento. Porém, parecia-lhe mesmo impossível conseguir a transferência... Um dia, entretanto, apareceu um anjo, indagando da possibilidade de haver ele algum dia praticado um bem na terra. Não, não se lembrava de nenhum. Mas o anjo lhe falou que certa vez ele, quando depois de umassalto descansava à beira da estrada, viu uma aranha em perigo e a livrou. Esse único gesto de bondade fora registrado e seria então aquela aranha que o iria tirar dali. Apontou-lhe um fio tecido por ela que estava ligado ao céu: era só subir através dele.

Começou o ladrão sua longa escalada quando, de repente, sentiu que lá embaixo o fio oscilava. Olhou para baixo e ficou estarrecido. É que inúmeros condenados que não possuíam esse seu mérito estavam aproveitando a oportunidade e subindotambém fio acima. Ah!, naquele momento o seu sangue ferveu... Não se conteve e protestou com veemência:

- Larguem imediatamente do fio. Ele me pertence, porque quem salvou a aranha fui eu; portanto, desprendam-se já.

Nervoso e revoltado, o ladrão, já perto do céu, pôs-se a sacudir a teia porque ninguém abria mão daquela singular oportunidade de se salvar. Foi no desespero de se livrar dos companheiros intrusos que o fio, não resistindo ao peso, partiu-see o inevitável aconteceu: o ladrão egoísta, que pensava só em seu próprio bem-estar, caiu de novo no inferno, onde continuou irritado, protestando com veemência.

Enquanto acusava os companheiros da triste situação, o anjo voltou e se aproximando dele, disse-lhe:

- Você está assim tão infeliz por não haver conseguido transferir-se para o céu; mas saiba de uma coisa: você jamais poderia se adaptar ao clima de lá, porque o céu é o reino do amor e isso você não conhece porque o seu egoísmo não permite que o experimente!