O PINTO E O URSO


A menina pediu para ir à feira com o pai, que quebrava um galho, a mãe estava gripada. A menina alegou que conhecia as melhores barracas, nas quais a mãe costumava comprar.

No meio do caminho, ela viu um garoto que vendia pintos. Pediu que o pai comprasse um.

- Mas para quê você vai querer um pinto? Quando crescer vai virar galinha. Como é que vamos criar uma galinha num apartamento?

A menina insistiu e o pai comprou o pinto. Veio num saco de armazém, com furinhos para o pinto respirar. Chegaram em casa e a mãe, apesar da febre, reclamou.
- Que diabo! Fazer o quê com um pinto dentro de casa?

A menina disse que tomaria conta dele. Era tão bonitinho, tão fofinho. Na primeira noite, até que o pinto não deu trabalho, dormiu numa caixa de sapato, ao lado da cama da menina.

Quando ela acordou, na manhã seguinte, o pinto havia desaparecido. A menina interrogou a empregada, o pai, e até a mãe, que já estava ficando boa da gripe. Ninguém assumiu o sumiço do pinto. A menina ficou sabendo que vivia no meio de gente fingida.

Para compensar, deram-lhe um ursinho de pano. Não era a mesma coisa. Já que todo mundo fingia, ela fingiu que gostava do urso. Finge até hoje e até hoje não sabe por que é tão difícil deixar que os outros sejam felizes.

Carlos Heitor Cony

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