PEQUENAS CAIXAS DE CHOCOLATES


Lá estavam elas na vitrine da loja. Até hoje, lágrimas molham meus olhos. Quantos anos tinham se passado? Eu fiz um cálculo rápido e percebi que treze anos tinham se passado. Parece que foi ontem que papai estava entregando essas pequenas caixas de chocolates a cada um de seus amores.

O dia dos namorados era sagrado para meu pai. Ele comemorou todas as datas desde onde posso me lembrar. Naquele dia, ele dava a cada criança uma pequena caixa de chocolates em forma de coração, contendo aproximadamente oito doces. Mamãe sempre recebia uma caixa enorme decorada com flores.

Aos quatro anos de idade, eu tinha perguntado para minha mãe por que o papai trazia uma caixa para minha irmãzinha, que era um bebê. Afinal de contas, ela não os poderia comer. Mamãe me falou que todos os amores de papai receberiam uma caixa de chocolates no dia dos namorados, não importando que idade tinham.

Quando chegava o dia dos namorados, esperávamos pacientemente por papai chegar em casa e então nos colocávamos em linha como bons pequenos soldados, e ele entregava uma caixa para cada criança.

Aquela pequena caixa de chocolates causou reações diferentes enquanto passávamos por diferentes fases da vida. Durante os anos de escola primária, nós corríamos para casa e esperávamos por papai. Na época de ginásio, minhas irmãs e eu nos sentíamos um pouco constrangidas com aquele ritual, mas ainda aceitávamos o seu presente com entusiasmo. Acrescente um namorado ao quadro, e nós faríamos qualquer coisa para não o deixar descobrir sobre a tradição de nosso pai. Mas durante esses anos quando chegávamos,papai estava em casa nos esperando com o seu deleite especial.

Minhas irmãs e eu pensamos que só sairíamos deste ritual com o casamento. Estávamos erradas. Chegava o dia dos namorados e haveria uma pequena caixa de chocolates nos esperando em casa.

Quando mamãe morreu, achamos que esta rotina diminuiria. Errado novamente.

Os netos também foram incluídos neste ritual desde o dia em que nasceram, até mesmo os dois meninos.

De repente, tudo mudou para sempre. O dia dos namorados chegou com a ameaça de um temporal. Eu estava cochilando na frente da televisão quando o telefone tocou. Era do hospital. Papai tinha sido levado depois de um ataque de coração.

Eu rezei fervorosamente para que ele não morresse. Estávamos na sala de espera quando o médico saiu pelas portas da sala de emergência. A expressão dele dissia tudo. Papai não resistira.

Semanas depois do funeral, minha irmã ligou com lágrimas na voz. Só então ela tinha percebido que papai tinha morrido exatamente em um dia dos namorados.

Durante os primeiros anos depois de sua morte, nenhuma de nós conseguiu manter a tradição de papai. Mas, curada a dor em nossos corações, nós começamos a celebrar novamente.
E aproximando-se o dia dos namorados, quando pequenas caixas de chocolate, em forma de coração, surgem pelas vitrines, a tradição de meu pai se mantém intensamente viva em meu coração.



Tradução de SergioBarros do texto de Barbara A. Crowley

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