O PRAZER DE COMPARTILHAR

Em meu primeiro ano de seminário, fiz meu trabalho de campo na penitenciaria estadual em Richmond, Virgínia. Era um lugar frio, inóspito, com portas de aço que ressoavam ao serem fechadas. Na enfermaria estava um homem com a minha idade. Seus olhos eramduros, irritados e mostrando a fúria de um animal encurralado. Aos berros ele deu-me boas-vindas dizendo,
- Mais um desses pregadores. Vocês são todos um bando de hipócritas.

- Você está certo. Assim como você. Bem vindo ao clube. Eu disparei de volta.

Ele atirou em mim todas as acusações usuais. Mas minhas respostas não eram o que esperava. Começou assim um ritual semanal em que nos falaríamos com muita atenção. Logo sua história se revelou.

Tinha deixado sua família e viveu nas ruas, roubando carros para se manter. Estava na prisão por vários roubos de carro. Para escapar do trabalho forçado, banhou seu pé com gasolina e colocou fogo. Exagerou e seu pé ficou danificado para sempre. Podia até mesmo perdê-lo. Não é de estranhar a sua fúria. Meu coração doeu por ele.

Aos poucos, aprendemos a nos respeitar e até soltamos algumas risadas. Logo discutíamos a finalidade de nossas vidas. Seu tom suavizou. Nos tornamos amigos.

Terminou o tempo para meu trabalho de campo, era tempo de assumir uma igreja no meio rural. Me senti entristecido e notei que ele também, quando me perguntou,
- Esse é nosso último dia?

- Sim. Sentirei sua falta. Eu respondi.

Ele chamou-me ao lado da cama. Pôs sua mão atrás de meu pescoço e puxou abruptamente colocando minha orelha ao lado de sua boca. Sussurrando, explicou-me com detalhes, as duas melhores formas de se roubar um carro e quais os modelos mais fáceis de roubar.


Eu quase ri. Eu, roubando carros?

Pensando um pouco melhor, logo entendi o que ele fazia. Ele me dava o que tinha de mais precioso, a grande habilidade que tinha desenvolvido na vida.

Tudo que eu pude dizer, gaguejando, foi:
- Obrigado. Se eu perder as chaves do carro, eu saberei o que fazer. Cuide-se, amigo.

Sai apressadamente para que as pessoas não notassem as lágrimas rolando por meu rosto.

Naquele momento, eu aprendi que o amor pode ser demonstrado de muitas maneiras diferentes, incluindo as mais estranhas possíveis.


Tradução de SergioBarros do texto de Robert J. McMullen Jr.


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